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A Arte do Encontro

Dividida em uma pesquisa bibliográfica crítica acerca da gamification e numa autoetnografia da participação em larps, a pesquisa propõe um modelo lúdico e, portanto, comunicacional, pautado pela complexidade, pela contra-hegemonia e pela ecologia. Por ludocomunicação, conceito defendido em A Arte do Encontro, compreende-se um contraponto à gamification – pautada pela competividade e pela virtualização – que visa a utilização de dinâmicas lúdicas para promover a formação e manutenção de relações comunitárias.

Dividida em uma pesquisa bibliográfica crítica acerca da gamification e numa autoetnografia da participação em larps, a pesquisa propõe um modelo lúdico e, portanto, comunicacional, pautado pela complexidade, pela contra-hegemonia e pela ecologia. Por ludocomunicação, conceito defendido em A Arte do Encontro, compreende-se um contraponto à gamification – pautada pela competividade e pela virtualização – que visa a utilização de dinâmicas lúdicas para promover a formação e manutenção de relações comunitárias.

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A ARTE DO ENCONTRO

ecológica 127 prevê, por um lado, a dependência/riqueza das relações com

os estímulos do meio ambiente. Por outro, prevê a abertura do indivíduo

a essa troca de estímulos. Tal abertura pode ser também chamada de

porosidade. De acordo com Cyrulnik (1999, p. 92), “o indivíduo é um

objeto ao mesmo tempo indivisível e poroso, suficientemente estável

para ser o mesmo quando o biótipo varia e suficientemente poroso

para se deixar penetrar, a ponto de se tornar ele mesmo um bocado

de meio ambiente”.

Ao vínculo, essa relação auto-eco-organizacional entre os estímulos

sensoriais e a abertura do indivíduo, pode-se dar também o nome de

religare 128 . Para o comunicólogo Jorge Miklos (2012, p. 18):

[...] a experiência do religare não é algo de outro mundo, do além,

como muitos líderes religiosos consideram. Diferente disso, a experiência

religiosa existe como dimensão intrínseca do ser humano. A

experiência do religare é antropológica [...] O religare, nesse sentido, é

a forma primeira de vínculo, concebida não só como vínculo entre os

homens e seus deuses, mas especialmente entre os próprios homens.

Tal disposição à gregarização, simultaneamente arcaica e contemporânea,

é o que assumo como cerne do que a comunicação ecológica

busca enaltecer. De maneira sintética, “os vínculos são os encontros,

as relações que nos atam. Um processo que se constitui em construir

e atravessar pontes, um caminho que nos une e, portanto, nos transforma”

(HEIDEMANN, 2019, p. 55) 129 . Nas palavras de Vicente Romano

(2004, p. 63, tradução própria), essa é “a função básica da comuni-

127. A própria noção de ecologia carrega em si tal significado, uma vez que “trata das

relações recíprocas dos seres vivos entre si e entre eles e seu entorno” (ROMANO, 2004,

p. 46, tradução própria).

128. Uma discussão sobre a relação entre religare, brincar e comunicação foi tema de

artigo anterior (IUAMA,2018b).

129. Para uma genealogia dos conceitos de vínculo e afeto, assim como para a relação de

ambos entre si e com a Comunicação, indico a leitura de Heidemann (2019).

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