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— Seu avô não usava jóias — disse Sharru Nada, pensativo. Depois continuou,
brincando: — Não reservaria tempo algum para trabalhar?
— O trabalho foi feito para escravos — respondeu Hadan Gula.
Sharru Nada mordeu os lábios, mas não fez nenhuma réplica, seguindo em
silêncio até que a trilha os tivesse levado ao declive. Ali freou a montaria e apontou
ao longe o vale verdejante.
— Veja, aí se acha o vale. Procure levar mais adiante seus olhos e entreverá, ainda
indistintamente, as muralhas da Babilónia. A torre é o Templo de Bel. Se tiver olhos
de lince, perceberá inclusive a fumaça que sobe do fogo perene instalado em seu topo.
— A Babilônia é assim? Sempre almejei conhecer a mais rica cidade em todo o
mundo — comentou Hadan Gula. — A Babilónia, onde meu avô começou sua
fortuna. Quem dera ele ainda estivesse vivo. Não deveríamos ser tão apressados.
— Por que deveria o espírito dele ficar na terra além do tempo que lhe foi
reservado? Você e seu pai podem muito bem prosseguir as boas coisas que ele fez.
— Ai de mim, nenhum de nós dois possui os talentos de meu avô. Nem papai nem
eu conhecemos seu segredo para atrair os dourados siclos.
Sharru Nada não respondeu, mas, pensativo, afrouxou a rédea e deixou sua
montaria descer o declive na direção do vale. Atrás deles seguia a caravana numa
nuvem de poeira avermelhada. Algum tempo depois alcançavam a estrada real e
dobravam ao sul, através das fazendas irrigadas.
Três velhos homens arando um campo despertaram a atenção de Sharru Nada.
Pareciam estranhamente familiares. Que coisa mais ridícula! Ninguém passa
quarenta anos depois por um campo e encontra os mesmos homens arando o
terreno. Mas alguma coisa dentro de si dizia que eram eles. Um, com uma força
incerta, manejava o arado. Os outros conduziam com grande dificuldade os bois,
batendo-lhes inutilmente com seus cajados para obrigá-los a continuar puxando.
Quarenta anos atrás tinha invejado esses homens! Com que felicidade teria
então trocado de lugar com eles! Mas que diferença agora! Olhou com orgulho
para trás, apreciando a caravana que o seguia, com seus camelos e burros
criteriosamente escolhidos, abarrotados de mercadorias valiosastrazidas de
Damasco. E tudo isso era apenas uma parte de todos os seus bens.
Ele apontou para os homens que trabalhavam a terra e disse:
— Continuam arando o mesmo terreno onde se encontravam há quarenta anos.
— E o que parece, mas por que acha que são os mesmos?
— Eu os vi ali uma vez — respondeu Sharru Nada.
As recordações passaram como um raio por sua mente. Por que não podia