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cidadão cuja conduta encheria de orgulho meus pais.
"Minhas dívidas eram os meus inimigos, mas os homens a quem pedira
emprestado eram meus amigos, pois tinham confiado e acreditado em mim.
"Eu caminhava sem sentir os pés firmes. Que importava a fome? Que importava
a sede? Não passavam de incidentes no caminho para a Babilónia. Dentro de mim
agitava-se a alma de um homem livre voltando à terra natal para conquistar seus
inimigos e recompensar seus amigos. Eu vibrava com a resolução que tinha tomado.
"Os olhos turvos dos camelos brilharam ao timbre novo em minha voz rouca. Com
grande esforço, depois de muitas tentativas, eles conseguiram sustentar-se sobre as
pernas. Perseverantes, projetavam-se para a frente, em direção ao norte, onde algo
dentro de mim me dizia que iríamos localizar a Babilônia.
"Encontramos água. Passamos por uma região mais fértil onde topamos com
relva e frutas. Descobrimos a pista para a Babilónia, porque a alma de um homem
livre olha a vida como uma série de problemas por resolver e os resolve, enquanto a
alma de um escravo não se liberta da eterna lamúria: 'Que posso fazer se não passo de
um escravo?'
"E quanto a você, Tarkad? O estômago vazio não lhe deixou a cabeça mais
aguçada? Está pronto para pegar a estrada que pode trazer de volta seu autorespeito?
Já pode ver o mundo em sua verdadeira cor? Não tem o desejo de pagar
honestamente suas dívidas, por maiores que sejam, e tornar-se mais uma vez um
homem respeitado na Babilónia?"
Os olhos do jovem ficaram úmidos. Ele se levantou resolutamente.
— Você me fez ver algo importante. Já sinto vibrar em mim a alma de um homem
livre.
— Mas como se arranjou nos primeiros tempos de seu retorno? — perguntou um
ouvinte atento.
— Onde há determinação, o caminho pode ser encontrado — respondeu Dabasir.
—Já me achava então determinado a fazer os planos corretos. Primeiro visitei
todos os homens a quem devia dinheiro, rogando-lhes indulgência até que eu
pudesse ganhar o suficiente para saldar meus débitos. A maioria aceitou de bom
grado minha proposta. Vários me insultaram, mas outros renovaram a oferta de
ajuda. Um deles, Mathon, o emprestador de dinheiro, ofereceu-me o verdadeiro
socorro de que eu precisava. Informado de que eu tinha sido um guardador de
camelos na Síria, ele me enviou a Nebatur, o negociante de camelos, que acabava
de ser escolhido pelo nosso bom rei para comprar muitos rebanhos de camelos
saudáveis para uma grande expedição. Assim, pusà disposição de Nebatur todo
o meu conhecimento sobre tais animais. Paulatinamente tornei-me capaz de