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implora que lhe empreste esse dinheiro, a fim de que ele possa tornar-se um
próspero comerciante, pagando-me então a partir de seus lucros.
— Meu amigo — comentou Mathon —, esse é um belo assunto para uma
discussão. O ouro traz para o seu possuidor responsabilidade e uma nova
maneira de agir com os companheiros. Traz o medo de perdê-lo e até de ser
enganado. Traz uma sensação de poder e disponibilidade para praticar o bem.
Pode ainda fazer com que suas melhores intenções lhe arranjem belas
dificuldades.
"Nunca ouviu falar daquele fazendeiro de Nínive que podia entender a
linguagem dos animais? Acho que não, pois não é realmente o tipo de história
que os homens gostam de contar a uma pessoa ocupada com a fundição de
bronze. Mas quero contá-la a você para que saiba que pedir emprestado e
emprestar significa muito mais do que o simples fato de o ouro passar das mãos de
uma pessoa para as mãos de outra.
"Esse fazendeiro, que podia entender a conversa que os animais mantinham
entre si, demorava-se toda noite no quintal da fazenda justamente para ouvir o que
eles diziam. Uma noite, ele ouviu o cavalo queixando-se ao asno dos rigores de sua
sorte: 'Trabalho puxando o arado da manhã à noite. Por mais quente que esteja o
dia, por mais cansadas que se sintam minhas pernas, por mais que o laço esfole meu
pescoço, sou obrigado a dar conta do recado. Você, entretanto, é uma criatura que
tem suas horas de descanso. Você é forrado com mantas multicores e não tem
mais que carregar nosso amo aos lugares aonde ele deseja ir. Quando o homem
não sai, você fica descansando e comendo a grama verde durante todo o dia.'
"O asno, apesar de seus famosos coices, era um bom companheiro e simpatizava
com o cavalo. 'Meu bom amigo', replicou ele, 'você realmente trabalha muito
pesado, e eu gostaria de ajudá-lo. Por isso direi como pode fazer para ter um
dia de descanso. Pela manhã, quando o escravo vier para amarrá-lo ao arado,
deite-se no chão e solte os maiores gemidos que puder, para que ele diga que
você se encontra doente e não tem condições de trabalhar.'
"Assim fez o cavalo, e no outro dia o escravo saiu à cata do amo para
comunicar-lhe que o cavalo estava doente e não podia ser amarrado ao arado.
" 'Então', disse o fazendeiro, 'use o asno para fazer o serviço.'
"Durante o dia inteiro, o asno, que só tinha querido ajudar um companheiro,
viu-se compelido a dar conta da tarefa do outro. À noite, depois de desamarrado do
arado, seu coração estava amargo, as pernas em frangalhos, o pescoço todo
esfolado.
"O fazendeiro tinha permanecido no terreiro para escutar.