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enterrar o passado e viver no presente? E então viu, como numa imagem, o rosto
sorridente de Arad Gula. A barreira entre ele mesmo e o cínico jovem a seu lado
dissolveu-se.
Mas como podia ajudar um jovem enfatuado como este, com suas idéias de
perdulário e as mãos cheias de jóias? Podia oferecer trabalho à vontade para
homens com boa disposição, mas não para aqueles que se presumiam superiores
demais para exercerem um determinado ofício. Entretanto, devia a Arad Gula a
obrigação de fazer realmente alguma coisa, não uma tentativa sem entusiasmo.
Ele e Arad Gula nunca tinham agido desse modo, não eram dessa espécie de
homens.
De repente veio-lhe à cabeça um plano. Havia objeções. Tinha que levar em
conta sua própria família e sua posição. Seria uma coisa cruel e agressiva. Homem
de decisões rápidas, pôs de lado as objeções e resolveu agir.
— Estaria interessado em saber como seu conceituado avô e eu mesmo
formamos uma sociedade que se mostrou bastante lucrativa? — perguntou ele.
— Por que não me conta só como conseguiu os dourados siclos? É tudo que
preciso saber — aparou o jovem. Sharru Nada ignorou a resposta e continuou:
— Vamos começar por esses homens que vimos trabalhando a terra. Eu podia
ter então a sua idade. Quando a coluna em que me encontrava se aproximou, o
velho e bom Megiddo, o fazendeiro, zombou da maneira desajeitada com que eles
usavam os instrumentos. Megiddo estava acorrentado junto a mim. "Olhe para
esses companheiros preguiçosos", protestou ele. "O que maneja o arado não faz o
menor esforço para abrir sulcos profundos, nem os batedores conseguem manter os
bois na linha certa. Como podem esperar uma boa colheita arando de tal forma?"
— Disse que Megiddo estava acorrentado a você? — perguntou Hadan Gula,
surpreso.
— Sim, com argolas de bronze em volta do pescoço e um pedaço de pesada
corrente entre nós. A seu lado achava-se Zabado, o ladrão de ovelhas. Tinha-o
conhecido em Harroun. No final, vinha um homem a quem chamávamos de
Pirata, pois não nos dissera seu nome. Pensamos tratar-se de um marujo, porque
trazia no peito uma tatuagem de serpentes entrelaçadas à moda do mar. A coluna
era assim constituída para que os homens andassem de quatro em quatro.
— Você estava acorrentado como um escravo? — perguntou Hadan Gula, sem
acreditar.
— Seu avô não lhe contou que eu já fui um escravo?
— Ele sempre falou sobre você, mas nunca insinuou nada a esse respeito.
— Ele era um homem a quem se podia confiar os mais íntimos segredos. Creio