12.07.2015 Views

Ciencias humanas, sociales y económicas - Universidad de San ...

Ciencias humanas, sociales y económicas - Universidad de San ...

Ciencias humanas, sociales y económicas - Universidad de San ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Autonomia, saú<strong>de</strong> mental e subjetivida<strong>de</strong> no contexto assistencial brasileiro - pp. 21-33facilitar a promoção <strong>de</strong> autonomia <strong>de</strong>sses pacientesem suas vidas?Percebe-se em alguns serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> umprocesso <strong>de</strong> naturalização das relações terapêuticas,<strong>de</strong> modo que o papel <strong>de</strong> doente mental relegadopelo profissional ao usuário se cronifica. (Pan<strong>de</strong>,& Amarante, 2009; Rotelli,Leonardis, & Mauri,2001). Assim, a <strong>de</strong>speito das estratégias terapêuticasadotadas, há certa passivida<strong>de</strong> na espera queesses pacientes melhorem e conquistem alta poreles mesmos. O que fica evi<strong>de</strong>nte em alguns casosé a existência <strong>de</strong> uma rigi<strong>de</strong>z na configuraçãoinstitucional, que espera o paciente se a<strong>de</strong>quaraos seus padrões <strong>de</strong> relações e serviços, ao invésdo esforço <strong>de</strong> ir ao encontro das necessida<strong>de</strong>sindividuais <strong>de</strong> cada pessoa atendida. Por que seráque isso acontece?Sobre essa questão, são levantadas duas hipóteses:A primeira é que a atenção voltada para asdiversas ativida<strong>de</strong>s terapêuticas <strong>de</strong>senvolvidas nãodá a ênfase necessária no caráter emancipatóriodo tratamento. Isto é, percebe-se certa carência<strong>de</strong> estratégias consistentes que visam o resgate daautonomia dos usuários e que auxiliem no gradualafastamento do serviço.De acordo com Campos e Amaral (2007), ofazer clínico que se propõe à flexibilização dianteda heterogeneida<strong>de</strong> dos casos concretos atendidos<strong>de</strong>ve se basear na reconstrução permanente doseu trabalho, segundo o que os autores chamam<strong>de</strong> neo-artesanato. Nessa perspectiva, a finalida<strong>de</strong>do trabalho clínico se altera substancialmente, aoenfatizar a produção <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, ampliando o grau<strong>de</strong> autonomia dos usuários. Concordo com a concepção<strong>de</strong> autonomia dos autores enquanto “umconceito relativo, não como a ausência <strong>de</strong> qualquertipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência, mas como uma ampliaçãoda capacida<strong>de</strong> do usuário <strong>de</strong> lidar com sua própriare<strong>de</strong> ou sistema <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendências” (Campos, &Amaral, 2007, p. 852).Com efeito, ao falar <strong>de</strong> autonomia, nesteestudo, não se remete a uma condição a ser alcançadaapenas por usuários com <strong>de</strong>terminadascaracterísticas “mais autônomas” do que outros.Também, não é <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rado o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong>compreen<strong>de</strong>r as dificulda<strong>de</strong>s e tentar ampliar aspossibilida<strong>de</strong>s referentes às condições <strong>de</strong> trocassociais constantemente permeadas por preconceitos,discriminação e normatização da vida social.Como aponta Guerra (2004, p.88), a idéia nãoseria potencializar uma reabilitação psicossocialque “subtrai o sujeito em nome <strong>de</strong> uma lógicaprodutiva maior que aquele”, mas que leve emconsi<strong>de</strong>ração a dimensão política e social <strong>de</strong>sseprocesso, em termos da capacida<strong>de</strong> contratual <strong>de</strong>cada sujeito. Nesse sentido, consi<strong>de</strong>ra-se impossívelfalar <strong>de</strong> reabilitação social, no sentido <strong>de</strong> voltara uma condição anterior ao transtorno mental,numa pretensa tentativa <strong>de</strong> negar os inúmeros<strong>de</strong>sdobramentos <strong>de</strong>ssa experiência para a vida dapessoa. O que se acredita ser possível é favorecer,mesmo diante <strong>de</strong> intensas dificulda<strong>de</strong>s e sofrimento,que o sujeito emerja na potencialização<strong>de</strong> seus próprios recursos, com vistas à criação <strong>de</strong>novas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> se estar no mundo. Aindanas palavras <strong>de</strong> Guerra (2004, p. 93): “Há sempreuma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> resposta porparte do sujeito, mais ou menos precária, mais oumenos capaz <strong>de</strong> provocar enlaçamentos. Seguiressa resposta tomando-a como marca do estilo dosujeito nos ensina também que, por ela, o sujeitoé sempre responsável”.A segunda hipótese levantada, intensamenterelacionada à primeira, é que a formulação <strong>de</strong>ssasestratégias que visam o resgate da autonomia dosusuários, quando existentes, não leva em conta opotencial educativo presente nas relações terapêuticasestabelecidas no serviço. Como <strong>de</strong>staca GonzálezRey (2009a), uma experiência possui carátereducativo quando favorece o <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>amento<strong>de</strong> novas reflexões, reações e emoções entre osparticipantes <strong>de</strong>sse processo, <strong>de</strong> modo a estimularque eles assumam uma posição ativa <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>um espaço social constituído por um caminho<strong>de</strong> troca, crítica e reflexão, no qual se <strong>de</strong>senvolvemtanto as pessoas implicadas, como o espaçosocial em questão. Desse modo, potencializar osaspectos educativos do trabalho terapêutico, especialmenteno momento do gradual afastamento dainstituição, implica na abertura a ouvir a pessoaatendida e criar estratégias com base no diálogoestabelecido, <strong>de</strong> modo a incluir o usuário enquantopartícipe fundamental da construção do própriotratamento, saindo da posição <strong>de</strong> quem apenas égovernada pelos “<strong>de</strong>tentores do saber”.Acredita-se que uma forma viável <strong>de</strong> promoveresse processo seja oportunizar um acompanhamen-Revista Científica Guillermo <strong>de</strong> Ockham. Vol. 11, No. 1. Enero - junio <strong>de</strong> 2013 - ISSN: 1794-192X ‣ 27

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!