Miolo PD27 - 28-07-2010.indd - Fundação Astrojildo Pereira
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Memória<br />
O Estado Novo, com sua censura à manifestação de ideias próprias,<br />
provoca em Lobato desilusão e ceticismo. É o período em que<br />
liquida suas empresas de prospecção de petróleo. Dedica-se então às<br />
traduções e à literatura infantil. Associa-se à Editora Brasiliense e<br />
trabalha na edição das suas Obras completas, para adultos e crianças,<br />
que serão publicadas a partir de 1945.<br />
Com a queda de Vargas e o fim do Estado Novo, o país é varrido<br />
pelos ares da democratização. Lobato é convidado para compor a<br />
chapa do Partido Comunista. Recusa o convite, mas no comício do<br />
Pacaembu, que reúne 130 mil pessoas, elogia Prestes, numa gravação<br />
feita para a ocasião, pois se encontrava enfermo, internado para<br />
a retirada de um quisto no pulmão.<br />
Em 1946 passa o ano na Argentina, onde trabalha na tradução e<br />
publicação de sua obra infantil. Quando volta ao Brasil, em 1947,<br />
encontra o país em crise. O Partido Comunista teve seu registro cassado<br />
pelo Tribunal Superior Eleitoral e a Confederação dos Trabalhadores<br />
do Brasil foi fechada pelo Ministério do Trabalho. Lobato não<br />
se furta a manifestar sua insatisfação com o governo de Dutra, e<br />
num comício de protesto lê a Parábola do Rei Vesgo, em que ironiza<br />
as restrições à liberdade e as afrontas à democracia.<br />
Reformulando mais uma vez sua posição em relação ao homem<br />
do campo, Lobato focaliza premonitoriamente a figura do sem-terra<br />
numa pequena história – Zé Brasil. O folheto de 24 páginas, apreendido<br />
pela polícia, circula intensamente pela sociedade em sucessivas<br />
impressões clandestinas e é reeditado em 1948 com ilustrações de<br />
Portinari. Nesse texto, Lobato explica a reforma agrária e elogia abertamente<br />
as ideias e a atuação de Prestes:<br />
“– Não é assim, zé. Apareceu um homem que pensa em você, que<br />
por causa de você já foi condenado pela lei desses ricos que mandam<br />
em tudo – e passou nove anos num cárcere.<br />
166<br />
– Quem é esse homem?<br />
– Luís Carlos Prestes...<br />
– Já ouvi falar. Diz que é um tal comunista que quer desgraçar o<br />
mundo, acabar com tudo...<br />
– Quer acabar com a injustiça do mundo. Quer que em vez de um<br />
Tatuíra, dono de milhares de milhares de alqueires de terra e vivendo à<br />
custa dos que trabalham, homem prepotente que faz o que fez a você...<br />
– Que toca a gente...<br />
PolíticaDemocrática·Nº27