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Miolo PD27 - 28-07-2010.indd - Fundação Astrojildo Pereira

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Escola de tempo integral – o que é isso?<br />

nela oito horas por dia), exigirá o dobro de profissionais. Logo, ou se<br />

dobra o valor da folha ou se reduz pela metade o valor dos salários.<br />

Não há como dobrar os serviços e não dobrar a folha de pagamento.<br />

Estou tratando o assunto em termos radicais para me fazer entender<br />

o quanto a ideia é impraticável quando se pensa em redes de ensino.<br />

Pode dar certo em uma ou outra escola particular, ou em alguma<br />

prefeitura pequena, com boa arrecadação, que atenda as crianças de<br />

zero a seis anos. Mas não é possível universalizar tal proposta.<br />

Fiz uma longa entrevista com as minhas alunas que são funcionárias<br />

ou professoras das escolas municipais de Cuiabá. Elas estavam<br />

apavoradas com a ideia anunciada pela prefeitura de que teriam<br />

escola de tempo integral, porém, sem anunciar a contratação de pessoal,<br />

de merendeira, de mais merenda (hoje é de R$ 0,30/aluno/refeição),<br />

de recursos materiais e de salas de aula. Diziam elas: “se a<br />

turma do quarto ano da manhã vai ficar na escola, em aula, à tarde,<br />

onde colocaremos a turma do quarto ano vespertino?” Pergunta simples<br />

e direta, mas que ninguém consegue responder dentro dos limites<br />

de orçamento para a educação. Outra atendente de creche dizia:<br />

“na minha escola, no banheiro, só tem um chuveiro funcionando, e<br />

dois vasos sanitários. Se as crianças não forem embora ao meio dia,<br />

teremos que dar banho nos pequenos para almoçarem e dormirem à<br />

tarde. Como vamos fazer sem chuveiro?”. São perguntas simples,<br />

diretas, aparentemente ingênuas, mas que deixam a tese da escola<br />

de tempo integral desnuda. Não se trata de um chuveiro a mais, mas<br />

de algo em torno de 5 chuveiros a mais por escola que, então, deve<br />

ser multiplicado pelo número de creches das redes municipais.<br />

Na realidade, diante da baixa qualidade do ensino apontada nos<br />

exames de avaliação em larga escala, certos políticos, sem saber o<br />

que fazer, não querem mexer nos verdadeiros pontos de estrangulamento<br />

e, um deles, a baixa qualidade do trabalho docente decorrente<br />

dos fatores apontados acima. Os professores só ensinam o que sabem<br />

e, como são mal formados pelas instituições formadoras acabam<br />

ensinando muito pouco. E se ficarem com as crianças por mais<br />

tempo ensinarão mais e melhor? Essa é uma tese ingênua de achar<br />

que a quantidade se converte em qualidade automaticamente.<br />

Ainda que o conceito de qualidade do ensino seja altamente discutível,<br />

não vejo como resolvê-lo na Educação Básica sem que tenhamos<br />

qualidade nos cursos de formação de professores – as licenciaturas<br />

plenas – como apontei. Os professores de línguas, matemática,<br />

química, física, história, geografia... aprendem algumas coisas nos<br />

seus cursos de graduação mas, mesmo o pouco que aprendem, não<br />

aprendem a ensinar. E não resolve ter domínio de conteúdo se não se<br />

AntonioCarlosMáximo<br />

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