Miolo PD27 - 28-07-2010.indd - Fundação Astrojildo Pereira
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Gildo Marçal e o<br />
pensamento brasileiro<br />
Diogo Tourino de Sousa<br />
A<br />
recente atenção voltada para o estudo do pensamento social<br />
brasileiro, por um grupo notadamente heterogêneo de<br />
pesquisadores nas ciências sociais, tem procurado mapear<br />
a existência de famílias intelectuais ou sequências que estruturam<br />
histórica e analiticamente o pensamento político no país, identificando<br />
continuidades e descontinuidades possíveis, exercício capaz<br />
de incorporar de maneira igualmente esclarecedora a produção<br />
intelectual anterior à própria institucionalização acadêmica da<br />
disciplina, seja ela ensaísta ou mesmo literária (BOTELHO, 20<strong>07</strong>;<br />
BRANDãO, 20<strong>07</strong>; WEFFORT, 2006). Curioso notarmos como as ciências<br />
sociais se consolidaram de maneira relativamente autônoma<br />
no Brasil apenas na segunda metade do século XX, em evidente<br />
hipoteca a um trajeto de “disputas” desenhado pelos “clássicos” da<br />
disciplina – uma linhagem que se prolonga pelo menos até o século<br />
XIX –, precisamente o que não impede que os estudos sobre sua<br />
constituição e desenvolvimento identifiquem estruturas intelectuais<br />
e categorias teóricas – com base nas quais a realidade é percebida<br />
–, cristalizadas ao longo da nossa formação, recurso fecundo<br />
no próprio exame do conteúdo substantivo de suas formulações e<br />
na defesa de modelos normativos para a “correção” presente da democracia<br />
brasileira e suas correlatas instituições.<br />
Certamente a capacidade de produção da “boa teoria” pela ciência<br />
política no país vem, cada vez mais, sendo questionada por sua<br />
crescente capitulação diante do objeto de pesquisa, o que impede a<br />
construção de explicações que deem conta da totalidade do fenômeno<br />
político, suas relações sociais e recortes históricos possíveis,<br />
com evidentes aportes normativos: a negação da validade interpretativa<br />
do ensaio, o “culto” ao método, o avanço dos estudos institucionais<br />
descolados da dimensão sociohistórica, o abandono da atividade<br />
negadora e imaginativa própria do pensamento filosófico,<br />
todos esses fatores prejudiciais à possibilidade de encontrarmos<br />
respostas para os “novos” e “velhos” problemas da sociedade brasileira,<br />
aprisionando o pensamento em barreiras disciplinares que<br />
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