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Miolo PD27 - 28-07-2010.indd - Fundação Astrojildo Pereira

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O autor e alguns poemas inéditos: Ferreira Gullar<br />

memórias e reflexão poético-política, o poema teve um forte impacto<br />

no mundo literário.<br />

Desde seu retorno ao país, em 1977, tornou-se referência na luta<br />

pela democracia e um de nossos mais produtivos intelectuais, deixando<br />

sua marca em espetáculos para o teatro e para a TV. Comprometido<br />

com a luta de seu povo pela conquista da dignidade e por<br />

uma vida solidária, dedicou o melhor de suas energias a tal propósito.<br />

O significado da obra do poeta Gullar mescla-se à dignidade do<br />

cidadão, tornando-o uma singularidade provocadora para nossa<br />

consciência democrática.<br />

Um dos nomes mais importantes da cultura brasileira contemporânea,<br />

além de deixar também uma marca como militante político, integrando<br />

o PCB, por várias décadas, ele é, atualmente, membro do Conselho<br />

de Redação da Política Democrática e do Conselho Curador da<br />

<strong>Fundação</strong> <strong>Astrojildo</strong> <strong>Pereira</strong>, o que para nós é motivo de muito orgulho.<br />

Bananas podres 3<br />

198<br />

InédItoS<br />

era uma tarde quente na quitanda<br />

e aquele calor<br />

acendia o perfume das bananas apodrecendo<br />

fato a que ninguém dava atenção<br />

– Um vidro de perfume? Foi mesmo?<br />

– O enfermeiro Josias me contou<br />

– Então ela era virgem... pro vidro ficar engatado...<br />

– Foi atrás, rapaz! disse meu pai às gargalhadas.<br />

Tu não estás entendendo!<br />

Todos falavam e riam excitadíssimos numa algazarra de pássaros a chilrear.<br />

Os olhos de meu pai se encheram de água tanto ele ria.<br />

De noitinha, todos se foram, e Newton Ferreira fechou a quitanda<br />

com as bananas lá dentro, recendendo.<br />

Os seus risos vozes lembro-os sem ouvi-los,<br />

mas o perfume daquelas frutas<br />

que feito um relâmpago<br />

desceu na minha carne<br />

e ali ficou, parado,<br />

esse de vez em quando<br />

volta a esplender<br />

PolíticaDemocrática·Nº27

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