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Miolo PD27 - 28-07-2010.indd - Fundação Astrojildo Pereira

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A usina de Belo Monte: energia e democracia em questão<br />

Por este desenvolvimento histórico criou-se um emaranhado de<br />

interesses que não nos permite afirmar que possa existir uma capacidade<br />

previsível de planejamento. Pelo contrário, apenas um atendimento<br />

de cargas futuras, multiplicando o cenário presente para o<br />

futuro, muito incerto diante da complexidade do arranjo de interesses<br />

que estão em jogo (dentro do campo estão empreiteiras, indústrias<br />

de equipamentos, geradoras, comercializadoras, agências reguladoras,<br />

grupos políticos e econômicos que conflitam entre si,<br />

disputas com governos, a utilização do discurso da energia para angariar<br />

votos). O atendimento ao suprimento ocorrerá, ou não, até<br />

onde a limitação material permitir, se a natureza permitir, não nos<br />

esqueçamos disso. Assim se desenha cada Plano Decenal de Energia,<br />

como uma tentativa de costura no atendimento desse mosaico de<br />

interesses em que a oferta corre atrás das cargas projetadas: alguns<br />

querem vender energia e outros tantos irão comprar, em um arranjo<br />

no qual a Dam Industry aperfeiçoa métodos de sua influência política<br />

sobre espaços de poder do Estado, atua sobre os processos de licenciamento<br />

ambiental, sobre os mecanismos de financiamento e de<br />

maneira ramificada influencia propostas de reforma do Estado, alterações<br />

de papeis institucionais no Ministério Público.<br />

Assim se cria um quadro no qual pouco se ouve falar na otimização<br />

do gerenciamento dos reservatórios, reforço, otimização e manutenção<br />

do que já existe na geração e transmissão. Algo que jamais é<br />

mencionado é a possibilidade de interrupções programadas de eletrointensivos<br />

em períodos críticos da “sazonalidade”, pouco se fala<br />

da reavaliação de critérios de energia firme, da adequação de critérios<br />

para aproveitar efetivamente a cogeração de energia elétrica na<br />

indústria sucroalcooleira, da discussão do custo do risco de déficit e<br />

mesmo de racionamentos preventivos.<br />

Estas possibilidades estão presentes em reflexões da academia e<br />

algumas delas são aplicadas em outros países. Deveriam ser reais<br />

mecanismos acessórios do planejamento da geração, transmissão e<br />

regulação. O que em geral se discute é sempre o aumento futuro da<br />

oferta presente, em geral acompanhando de maneira combinada as<br />

projeções de aumento do PIB brasileiro. Baseando-se nos números<br />

apresentados como projeções no Plano Decenal 2008-2017, não há<br />

espaço significativo para fontes alternativas resolverem o “problema<br />

energético” (entendido aqui como o atendimento do suprimento face<br />

a uma expansão das cargas) que apenas se desloca no eixo do tempo<br />

e aparecendo de tempos em tempos como ameaça, fictícia ou não,<br />

que impele a produzir mais, relegando processualmente e cumulati-<br />

FranciscoDelMoralHernándezeCélioBermann<br />

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