Miolo PD27 - 28-07-2010.indd - Fundação Astrojildo Pereira
Miolo PD27 - 28-07-2010.indd - Fundação Astrojildo Pereira
Miolo PD27 - 28-07-2010.indd - Fundação Astrojildo Pereira
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Minha Casa, Minha vida:<br />
a ocultação da memória<br />
e um réquiem para o<br />
planejamento urbano<br />
Luiz Prado<br />
Há décadas, ou desde o século XIX, os problemas habitacionais<br />
são bastante conhecidos no Brasil. Nada é novo, mas<br />
como vivemos num tempo em que a política se faz com slogans,<br />
o governo Lula deixou para o sétimo ano de sua administração<br />
o lançamento de um “programa’ que é mais um slogan: “Minha Casa,<br />
Minha Vida”. E esse nome de fantasia do slogan inclui, é claro, um<br />
número mágico – 2 milhões de casas para as pessoas de baixa renda.<br />
Ninguém pode ser contra o novo slogan, mas ele merece uma análise<br />
do abandono de um grande número de experiências anteriores em<br />
nome da mera extensão dos prazos e redução dos juros para o financiamento<br />
da casa própria, além de alguma simplificação burocrática.<br />
De fato, no passado discutiram-se temas como planejamento urbano<br />
– hoje totalmente abandonado no Brasil, mas não nos países<br />
desenvolvidos –, tipo de habitação, localização, disponibilidade de<br />
serviços sociais como educação primária, saúde, transporte e distância<br />
em relação aos locais de trabalho, saneamento básico. O “programa”<br />
é o mero financiamento.<br />
Aos fatos!<br />
Dom Pedro II, que foi bastante mais interessado na educação do<br />
que os nossos atuais governantes, convencido da gravidade da situação<br />
social depois da tolice que foi a guerra contra o Paraguai, pediu<br />
ao visconde de Paranaguá que desenvolvesse um plano para construir<br />
casas populares para alugar aos pobres. O Visconde, que não<br />
era tão tolo, chamou os donos das indústrias e pediu-lhes que calculassem<br />
o preço do metro quadrado construído, e depois retirou os<br />
impostos e pediu-lhes que refizessem a conta. Os empresários mais<br />
espertos construíram vilas operárias. Evidentemente, pode-se dizer<br />
que essa era uma forma de beneficiar os industriais ricos e manter<br />
os operários sob controle e, de fato, as casas eram inicialmente alu-<br />
69