Miolo PD27 - 28-07-2010.indd - Fundação Astrojildo Pereira
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A usina de Belo Monte: energia e democracia em questão<br />
Sob essas considerações, resta a pergunta se é possível uma<br />
discussão democrática, algum tipo de governança sobre um tabuleiro<br />
nos quais as movimentações e conhecimento em torno de regras<br />
reais do jogo pendem para o lado proponente da grande obra.<br />
O assédio sobre as populações ameaçadas se ramifica, alcança estruturas<br />
locais e regionais de governo que ecoam a ideia de que<br />
serviços públicos que se multiplicarão com o surto construtivo e,<br />
mais além, cada um dos projetos e sucessivamente se apresentam<br />
como projetos estruturantes que servem ao jogo eleitoral que em<br />
sentido aproximativo nos remete a uma equação possível: eletricidade<br />
= voto = hidrelétrica, esta última parte da igualdade sempre<br />
mal amparada pela justificativa de opção de conversão, limpa, renovável<br />
e barata. A sistematização do conhecimento científico sobre<br />
a megaindústria da hidreletricidade não nos permite aceitar a equação,<br />
talvez no máximo ceder à renovabilidade do ciclo da água, mas<br />
não ao da conversão hidrelétrica como operação técnica renovável,<br />
nem aos qualificativos também antes mencionados de preço e vantagem<br />
comparativa natural.<br />
O jogo internacional ampara o discurso da energia hidrelétrica<br />
como energia renovável, mesmo com os resultados dos estudos de<br />
caso da Comissão Mundial de Barragens que desabonaram em grande<br />
medida a ideia dos projetos de megahidrelétricas. Aqui nos parece<br />
surgir mais um indício de que o discurso se molda na justa medida<br />
na necessidade corporativa da Dam Industry de ampliar sua ação.<br />
Como a confrontação com ela é inevitável, a governança ambiental<br />
transfronteiriça da Amazônia, como quer que possa ser definida,<br />
se deparará com o mosaico de interesses e capilaridades políticoinstitucionais<br />
que procuramos mencionar nos parágrafos anteriores<br />
e com o real conflito nos usos de rios e terras ribeirinhas.<br />
Lembremos também que o peso do papel do Estado como planejador<br />
vem diminuindo à medida que se acomoda ao interesse às vezes<br />
difuso às vezes concentrado dos participantes do dam roling<br />
game, fundamentalmente privado, despachado por agências reguladoras<br />
aninhadas na esfera governamental.<br />
A invisibilização dos movimentos sociais e do papel<br />
das onGs<br />
Historicamente, no processo de construção de hidrelétricas, observa-se<br />
inadequada consideração dos efeitos e consequências sobre<br />
a população e área de jusante, administra-se um conceito de atingido<br />
e área diretamente afetada no sentido de diminuir custos de inde-<br />
FranciscoDelMoralHernándezeCélioBermann<br />
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