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oupas e as partes (mangas, golas, etc.) como próteses, ressaltando sua artificialida<strong>de</strong>,<br />
tanto da peça quanto do corpo que a veste. Consi<strong>de</strong>rando o corpo feminino, parece que –<br />
para eles a roupa não serve apenas para cobrir ou enfeitar a mulher, mas para recriá-la<br />
fisicamente, no caso, dotando-a <strong>de</strong> uma imagem <strong>de</strong> força impressionante. Outros<br />
caminham em direções opostas: buscam a imagem da força por meio <strong>de</strong> uma “moda pura”,<br />
ou seja, aliada ao corpo natural.<br />
“A moda, conseqüentemente, é essencial para o mundo da<br />
mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, o mundo do espetáculo e da comunicação <strong>de</strong> massas.<br />
Constitui uma espécie <strong>de</strong> tecido <strong>de</strong> ligação do nosso organismo cultural. E<br />
apesar <strong>de</strong> muita gente sentir a moda como uma escravidão, como uma<br />
forma castigadora, compulsiva, <strong>de</strong> expressar incorretamente uma<br />
individualida<strong>de</strong> que, pela sua própria ação – ao imitar os outros – se nega<br />
a si própria, a última gota <strong>de</strong> água nessa contradição que é a moda, é que<br />
ela expressa muitas vezes com sucesso o individual”. (WILSON; 1989:25)<br />
Atualmente <strong>de</strong>ntro da moda, uma <strong>de</strong> suas principais qualida<strong>de</strong>s é a sexualida<strong>de</strong> das<br />
roupas. On<strong>de</strong> dirigem-se em primeiro lugar ao Eu, e somente <strong>de</strong>pois, ao mundo. As<br />
crianças apren<strong>de</strong>m, logo cedo, que as roupas lhes dão i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, introjetando idéias<br />
sobre o próprio corpo, a partir <strong>de</strong> idéias sobre a sexualida<strong>de</strong>. No processo contínuo <strong>de</strong>ssa<br />
significação, o vestuário usado em público pelos adultos torna-se afinal um gesto sexual<br />
mútuo, em um mundo geralmente bissexual. Conforme Hollan<strong>de</strong>r (1996) a excitação<br />
popular atual com o trans-sexualismo no vestir mostra apenas quão profundamente<br />
acreditamos ainda em separar simbolicamente as roupas dos homens e das mulheres,<br />
mesmo que, em muitas ocasiões ambos se vistam da mesma forma.<br />
O corpo do recém-nascido passa, então, a ser manipulado por aqueles que <strong>de</strong>legam<br />
a ele noções e padrões <strong>de</strong>terminados, ou seja, por quem os educa. Na medida em que se<br />
<strong>de</strong>senvolve, a criança adquire gostos e prazeres, acaba por sujeitar-se à moda situada em<br />
seu contexto social.<br />
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