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ele ten<strong>de</strong> a ser execrado, consi<strong>de</strong>rado um obstáculo à <strong>de</strong>scoberta da verda<strong>de</strong> e à<br />
salvação.<br />
Ao buscar na raiz do termo Corpus, encontra-se o significado, em latim, que a<br />
matéria faz oposição à alma, por extensão po<strong>de</strong>-se enten<strong>de</strong>r o sentido <strong>de</strong> “cadáver”. A<br />
maioria das línguas mo<strong>de</strong>rnas conserva o mesmo significado.Na língua inglesa chama-se o<br />
corpo morto <strong>de</strong> corpse; em francês, utiliza-se a expressão levée du corps , como sinônimo<br />
<strong>de</strong> “encomendar o <strong>de</strong>funto”; na língua portuguesa, toda vez que ouvimos a expressão: “o<br />
corpo está sendo velado" compreen<strong>de</strong>mos sem dificulda<strong>de</strong> o sentido <strong>de</strong>ssa frase.<br />
Ao utilizar a palavra corpus para passar a indicar objetos materiais, distancia-se do<br />
que se refere a “animado” ou “inanimado” ,isto é, em oposição àquilo que os sentidos<br />
humanos não po<strong>de</strong>m captar. Em sua raiz indo-européia, krp, significa "forma", e em certos<br />
contextos continua nomeando o "cadáver", a matéria e as substâncias dotadas <strong>de</strong> um<br />
artifício <strong>de</strong> organicida<strong>de</strong>, sentido que se mantém, aliás, nas línguas mo<strong>de</strong>rnas, quando se<br />
fala em "corpo <strong>de</strong> assistentes, corpo <strong>de</strong> bombeiros"; "corporação"; em "corporeida<strong>de</strong>".<br />
Para o Oci<strong>de</strong>nte cristão e her<strong>de</strong>iro do pensamento grego, o corpo surge num jogo<br />
semântico com sua sombra - alma, consciência, espírito - instaurando uma obstinada<br />
dicotomia que continua a investir no saber mais espontâneo sobre o mundo, dos mais<br />
remotos tempos até os mais mo<strong>de</strong>rnos.<br />
Esse percurso filosófico vem dos medievais a Descartes, embora este último tenha<br />
sido a vítima exemplar <strong>de</strong> uma curiosa ironia: tornou-se ponto <strong>de</strong> partida <strong>de</strong> uma cisão<br />
radical. Quando suas Meditações alcançam o momento em que se torna possível enunciar,<br />
enfim, a união estreita entre alma e corpo, o fundador da filosofia do cogito – para a<br />
mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> – foi o divisor entre a "coisa dotada <strong>de</strong> extensão" e a "coisa pensante". Aos<br />
discípulos pareceria cada vez mais difícil compreen<strong>de</strong>r a união da alma <strong>de</strong> natureza<br />
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