Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
No segundo semestre <strong>de</strong> 2004, a Top mo<strong>de</strong>l e superstar Gisele Bündchen, em<br />
férias, passou uns dias no Parque Nacional do Araguaia, no Alto Xingu (Tocantins). A<br />
celebrida<strong>de</strong>, e unanimida<strong>de</strong> internacional, foi consi<strong>de</strong>rada pelos índios como extremamente<br />
magra sem ancas largas, ou seja, ina<strong>de</strong>quada ao padrão <strong>de</strong> mulher da tribo. Esse é só um<br />
exemplo, para <strong>de</strong>monstrar que a padronização e o rigor <strong>de</strong> beleza feminina – muitas vezes<br />
impostos por uma mídia abusiva – <strong>de</strong>stoam do que se refere ao que é ou não valorizado<br />
cotidianamente no corpo. No entanto a moda (mudanças nos estilos do vestuário) é algo<br />
específico da cultura oci<strong>de</strong>ntal, com tendência a ganhar e, mais, dominar outras culturas.<br />
Po<strong>de</strong>-se tomar como paralelo a penetração que a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> fast-food McDonald’s,<br />
símbolo do capitalismo selvagem, obteve ao inaugurar uma loja em Beijin, pólo e marco<br />
cultural do conservadorismo comunista, até então. A partir disso, observa-se a<br />
transformação que as mulheres japonesas fazem em seus próprios corpos, tingindo e<br />
alterando o formato <strong>de</strong> seus cabelos, mudando o formato dos rostos, abusando <strong>de</strong> cores e<br />
acessórios em sua indumentária, valorizando seu exterior.<br />
O i<strong>de</strong>al da mulher esbelta é, conseqüentemente, relevante para todas as culturas.<br />
Além do mais, a existência <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ais diferentes <strong>de</strong> beleza noutras socieda<strong>de</strong>s não explica a<br />
razão pela qual a magreza se transformou em um i<strong>de</strong>al da nossa da socieda<strong>de</strong> brasileira.<br />
“O culto da silhueta esbelta foi publicamente posto em causa nos<br />
últimos anos <strong>de</strong> uma forma que o culto da beleza convencional nunca o foi.<br />
É fácil para nós partir do princípio <strong>de</strong> que a preocupação mo<strong>de</strong>rna com a<br />
dieta é apenas parte <strong>de</strong> uma obsessão oci<strong>de</strong>ntal pela magreza, e que em<br />
particular a ‘perda <strong>de</strong> peso’ é apenas um dos aspectos da opressão das<br />
mulheres. As dietas e o fazer dieta têm, no entanto, preocupado as<br />
socieda<strong>de</strong>s oci<strong>de</strong>ntais pelo menos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o século <strong>de</strong>zessete. As dietas<br />
eram parte dos regimes tradicionais medicinais, tais como o ascetismo<br />
religioso. George Cheyne (1671-1743), que era um médico praticante<br />
escocês influente do período imediatamente anterior à revolução industrial,<br />
tinha pacientes elegantes em Londres e em Bath. Ele preocupava-se com<br />
a dieta e a saú<strong>de</strong> dos homens da cida<strong>de</strong>, se<strong>de</strong>ntários, das classes altas e<br />
da classe média abastada. Os seus regimes eram versões profanas das<br />
44