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O remapeamento e a supressão das áreas proibidas não-proibidas, a valorização e<br />
a erotização da topografia do corpo masculino pela mulher quebram tabus e criam uma<br />
espécie espaço <strong>de</strong> exaltação do físico belo – o culto ao corpo – comum aos dois sexos.<br />
Pelo menos na socieda<strong>de</strong> brasileira atual, uma das regiões mais valorizadas, na<br />
re<strong>de</strong>finição da topografia simbólica do corpo, é a bunda, eufemisticamente chamada <strong>de</strong><br />
“bumbum”, para tornar a expressão mais <strong>de</strong>glutível socialmente. No imaginário popular, a<br />
bunda é vista como “preferência nacional”, no plano estético erótico. Já nos Estados<br />
Unidos, a preferência é pelo seio volumoso que, segundo alguns críticos, po<strong>de</strong> <strong>de</strong>notar<br />
complexo <strong>de</strong> mama, a valorização <strong>de</strong> um dos pontos mais nobres do corpo da fêmea, que<br />
no fundo, associa-se à preservação da vida, via amamentação.<br />
Para usar metáfora <strong>de</strong> inspiração geográfico-espacial, enquanto a preferência norte-<br />
americana se situa no alto corporal e ao Norte do Equador, a brasileira se localiza no baixo<br />
corporal e ao Sul do Equador. Na caricatura paradisíaca <strong>de</strong>ste hemisfério, o dionisíaco<br />
reina e suplanta o apolíneo.<br />
Preferência nacional ou não, sustentada pela mídia ou não, a verda<strong>de</strong> é que a bunda<br />
constitui a região mais visada por esse processo <strong>de</strong> construção escultural do corpo -<br />
feminino e masculino - no Brasil urbano. O rebatizado semântico <strong>de</strong> ná<strong>de</strong>gas compõe um<br />
artifício simbólico <strong>de</strong> <strong>de</strong>sanirnalização <strong>de</strong>ssa parte do corpo. "Bunda" é vocábulo que<br />
substitui, no português do Brasil, o termo "rabo", <strong>de</strong> uso freqüente até hoje em Portugal e<br />
presente na própria mensagem publicitária divulgada pela mídia daquele país. No Brasil<br />
rural e urbano, o termo rabo, como sinônimo <strong>de</strong> “ná<strong>de</strong>gas", continuar a viver seletivamente<br />
apenas nos domínios da agressão verbal e do erótico grosseiro. Assim, é expressão <strong>de</strong><br />
rebaixamento moral do "outro", pois o lança para o plano animalesco.<br />
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