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A verticalida<strong>de</strong> não é apenas uma postura <strong>de</strong> humanização que marca a evolução<br />
<strong>de</strong> uma espécie, consi<strong>de</strong>rada singular a partir <strong>de</strong> outro processo evolutivo paralelo : o da<br />
humanização. Ela está estreitamente associada à vida, que suporta, como ritmo natural,<br />
breves períodos <strong>de</strong> quebra, expressos na posição escolhida pelo corpo, pelo menos na<br />
cultura oci<strong>de</strong>ntal, quando o homem está dormindo ou ortodoxamente, o ato sexual.<br />
A horizontalida<strong>de</strong>, por sua vez, é a negação do humano e da vida: é anti-humana,<br />
pois o homem ostenta a posição vertical como uma das características que o difere das<br />
outras, e é a negação da vida, porque, além <strong>de</strong> ser uma posição corporal inerte, esta<br />
impregnada <strong>de</strong> simbolismo ligado à morte.<br />
O homem, reduzido simbolicamente às proporções biológicas, transforma-se em<br />
"organismo". Os restos mortais, centro do complexo ritual <strong>de</strong> separação, que é o ritual<br />
funéreo, serão lavados, velados e, finalmente, sepultados. Em certas culturas , a chegada<br />
do cadáver ao velório, on<strong>de</strong> permanecerá na posição horizontal, faz-se <strong>de</strong> forma especial:<br />
o enunciador altera a postura e o tom da voz, procurando o tom <strong>de</strong> reverência que o<br />
homem na vertical <strong>de</strong>ve ter em relação ao homem na horizontal. É o corpo vivo<br />
proclamando e reverenciando o corpo morto. Nessa tradição cultural, estabelece-se uma<br />
ligação metafórica entre a morte biológica e a morte social, conduzida pela horizontalida<strong>de</strong>.<br />
Entre populações interioranas é corrente a expressão: "estar numa pindaíba<br />
danada". Essa frase indica a horizontalida<strong>de</strong> do indivíduo no plano social, usada para<br />
afirmar que a pessoa está "sem dinheiro", "com dificulda<strong>de</strong> financeira", na planície <strong>de</strong><br />
miséria, fora do circuito do ganho e do consumo, excluída das instâncias vitais que <strong>de</strong>finem<br />
uma socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> classes. Isso porque – antes do uso <strong>de</strong> caixão – a pindaíba era a<br />
ma<strong>de</strong>ira utilizada para sepultamentos, por ser fina, resistente e, ao mesmo tempo, flexível.<br />
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