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espaços legítimos: "O que se apren<strong>de</strong> no espaço da cultura legítima é como o ar que<br />
respiramos, é um sentido da eleição legítima tão seguro que permite impor-se" (Bourdieu,<br />
1988: 90).<br />
Pelas roupas formam-se as primeiras impressões <strong>de</strong> nossos semelhantes. A<br />
<strong>de</strong>licada discriminação dos traços faciais necessita <strong>de</strong> uma certa aproximação íntima.<br />
Como as roupas possibilitam inspecionar superfície muito maior, po<strong>de</strong>m ser mais<br />
claramente distinguidas <strong>de</strong> uma distância mais conveniente. Pelas vestes, <strong>de</strong> forma<br />
indireta, reconhece-se alguém que se aproxima. O movimento conferido às roupas, graças<br />
à movimentação dos membros (mas não propriamente o movimento <strong>de</strong>les) propicia julgar,<br />
<strong>de</strong> um só golpe, se o conhecido está zangado, assustado, curioso, apressado ou calmo.<br />
Situar-se nesse horizonte individual, que diz respeito ao modo como a moda po<strong>de</strong><br />
traduzir o comportamento psicológico do homem, ser espelho <strong>de</strong> seus hábitos e gostos,<br />
parece ser ainda redutor. É preciso olhar o fenômeno “moda” <strong>de</strong> forma mais abrangente.<br />
Arriscar a afirmação <strong>de</strong> que a indumentária po<strong>de</strong> ser pensada enquanto indicativo <strong>de</strong> uma<br />
forma <strong>de</strong> estar no mundo e, mais, elemento <strong>de</strong> expressão <strong>de</strong> grupos, ou mesmo <strong>de</strong> uma<br />
socieda<strong>de</strong>, e por que não, <strong>de</strong> uma época. Por muito tempo esse fenômeno viu-se atrelado<br />
ao refrão da distinção social.<br />
Esse parece ter sido, até então, o papel hegemônico do vestuário assumido por<br />
aqueles que o utilizaram como indumentária ou mesmo como pretexto <strong>de</strong> pesquisa. De<br />
certo, a roupa assume essa função distintiva. Marca naquilo que há <strong>de</strong> mais aparente a<br />
diferença entre camadas da socieda<strong>de</strong>. Descoberta a magia do vestuário como emblema<br />
distintivo, classes sociais usam e abusam <strong>de</strong>sse mecanismo para se sobrepor. E para<br />
garantir a distância social as classes superiores se vêem obrigadas à inovação. A busca<br />
pelo novo passa a ser a matriz reguladora <strong>de</strong> um movimento circular interminável,<br />
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