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espiritual ao corpo que não passava <strong>de</strong> algo apenas mundano. E, quando o corpo não é<br />
consi<strong>de</strong>rado não mais a se<strong>de</strong> da alma, nem a morada da subjetivida<strong>de</strong>, mas principalmente<br />
sua expressão mais autêntica e real, é somente por meio <strong>de</strong>le que se colocam em<br />
evidência as intenções e as forças <strong>de</strong> cada ser humano.<br />
“Nessa situação, o corpo é escolhido como lugar <strong>de</strong> explorações e<br />
experiências as mais diversas porque é consi<strong>de</strong>rado a "última posse que<br />
resta ao indivíduo, ou o único território no qual o ser humano po<strong>de</strong> exercer<br />
a sua liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> transformação. Numa cultura que reconhece as<br />
pessoas a partir daquilo que elas possuem e daquilo que elas conseguem<br />
acessar, ter um corpo e suas "senhas" <strong>de</strong> acesso, representa uma riqueza<br />
invejável. Por isso, é preciso ostentar isto que se tem, frisar a posse, para<br />
si e para os outros. É preciso acreditar que o corpo que "se tem" é <strong>de</strong> fato<br />
totalmente possuído por seu proprietário, completamente disponível diante<br />
<strong>de</strong> suas vonta<strong>de</strong>s e sonhos. Uma das melhores provas <strong>de</strong> que "se tem<br />
totalmente o corpo que se é" talvez seja exibir uma aparência que<br />
coinci<strong>de</strong> completamente com o que se <strong>de</strong>seja a cada momento. Nesse<br />
caso, qualquer distância entre o que se quer do corpo e o que ele é tornase<br />
um gran<strong>de</strong> problema, uma fonte <strong>de</strong> <strong>de</strong>scontrole e <strong>de</strong> sofrimento”(<br />
SANT’ANNA; 2006: 19)<br />
É possível questionar, então, se toda manipulação do corpo guarda vínculo com a<br />
idéia primitiva <strong>de</strong> sacrifício?<br />
Acredita-se que essa forma sacrifical esteja ligada à invasão do corpo pelas<br />
tecnologias recentes, ensejadas e viabilizadas pelas técnicas digitais. Se a estética for<br />
assinalada não como relação com a beleza, mas, sim, como a relação com o mundo dos<br />
objetos, po<strong>de</strong>-se dizer que há estetização do espaço tecnológico. É no bojo <strong>de</strong>ssa<br />
estetização que ressurge a forma sacrificial.<br />
Na contemporaneida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os estudos, inseridos na Biologia aos da Tecnologia<br />
da Informação, observa-se a noção <strong>de</strong> matéria como forma viva, organismo complexo,<br />
sistema or<strong>de</strong>nado por circunstâncias relacionadas entre si. Compartilha-se um momento<br />
em que o corpo natural e o artificial confluem e a ciência torna a comunicação entre o<br />
cérebro e o computador uma via <strong>de</strong> mão dupla.<br />
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