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A processão põe-nos, portanto, em presença de um monismo que não é<br />
ver<strong>da</strong>deiramente uno e de um pluralismo que também não é<br />
ver<strong>da</strong>deiramente múltiplo; é aí que reside o fundo e originali<strong>da</strong>de do<br />
plotinismo que é, simultaneamente, uma filosofia <strong>da</strong> continui<strong>da</strong>de e uma<br />
filosofia <strong>da</strong> descontinui<strong>da</strong>de. (Brun, 1991, 44)<br />
Depois de ter examinado o Uno a partir do mundo sensível múltiplo, é essencial investigar<br />
agora como se dá o movimento de produção <strong>da</strong> multiplici<strong>da</strong>de a partir do Uno.<br />
Examinemos, então, as três hipóstases, mais de perto, com vistas a entender como essa<br />
processão e interdependência se instaura.<br />
A preocupação de Plotino está liga<strong>da</strong> ao fato de que as almas, por terem caído na matéria,<br />
perderam-se nela e esqueceram-se de sua proveniência, correndo em sentido contrário a<br />
Deus (Plotinus. Enneade VI, 1, 1); por isso, a tarefa do filósofo é estabelecer como a<br />
reali<strong>da</strong>de – inclusive as almas individuais e os corpos materiais - provém do Uno e a ele<br />
retorna, sem negar a diversi<strong>da</strong>de.<br />
O Uno, a partir do qual tudo de processa, é superabundância de vi<strong>da</strong> e - permanecendo<br />
em si mesmo, sem perder na<strong>da</strong> de sua vi<strong>da</strong> - é totalmente transcendente; a razão que<br />
trabalha por raciocínios não tem acesso a ele, pois o Uno está acima do Ser; ele - a que<br />
<strong>da</strong>mos o nome de Uno, mas que não tem nome - dá o ser a tudo que existe. Para falar<br />
dele só o podemos por imagens ou metáforas: o fogo que necessariamente irradia calor, o<br />
perfume que exala fragrância, o sol que esparge raios de luzes sem na<strong>da</strong> perder dele<br />
mesmo, como a mãe que, ao gerar o filho, dá nova vi<strong>da</strong> permanecendo intacta, ou como a<br />
vela acesa, na qual se acende outra vela, sem diminuir a intensi<strong>da</strong>de de sua luz.<br />
Como verificamos, do Uno procede, em primeiro lugar, a Inteligência, que se identifica com<br />
o conhecimento do mundo <strong>da</strong> Idéias. Ela depende só do Uno e a ele contempla. Portanto,<br />
ela não é mais totalmente una, pois se duplica na contemplação do uno e se multiplica no<br />
conhecimento de suas idéias. O Uno é totalmente um; mas a Inteligência, por não ser<br />
totalmente una, Plotino diz que ela é ‘um e muitos’.<br />
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claudiordutra@hotmail.com