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Cumpre notar que a coisa se comporta de modo diferente com relação ao intelecto prático<br />
e com referência ao intelecto especulativo. O intelecto prático produz as coisas, donde é a<br />
medi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s coisas que são produzi<strong>da</strong>s por ele; mas, o intelecto especulativo é receptivo<br />
com relação às coisas, é, de certo modo, um movimento produzido por ele e, por isso, são<br />
as coisas a sua medi<strong>da</strong>. De que resulta que as coisas naturais, <strong>da</strong>s quais o nosso intelecto<br />
recebe a ciência, mensuram o nosso intelecto, conforme se lê no livro X <strong>da</strong> Metafísica; mas<br />
são medi<strong>da</strong>s pelo intelecto divino, no qual subsistem to<strong>da</strong>s as coisas cria<strong>da</strong>s (à maneira de<br />
como to<strong>da</strong>s as coisas artificiais subsistem no intelecto do artífice). Assim, pois, o intelecto<br />
divino é quem mede e não é medido; a coisa natural é mensurante e mensura<strong>da</strong>; to<strong>da</strong>via,<br />
o nosso intelecto é mensurado, e não mede as coisas naturais senão só as artificiais.<br />
Propriamente falando, a ver<strong>da</strong>de se encontra no intelecto humano ou divino, como a saúde<br />
se encontra no animal. Nas outras coisas se encontra enquanto são elas relativas ao<br />
intelecto, como também a saúde é atribuí<strong>da</strong> às outras coisas que a produzem ou a<br />
conservam no animal. Propriamente e originariamente, a ver<strong>da</strong>de está no intelecto divino;<br />
propriamente e secun<strong>da</strong>riamente está no intelecto humano; impropriamente e<br />
secun<strong>da</strong>riamente está nas coisas, e só enquanto se relacionam com uma <strong>da</strong>s duas<br />
ver<strong>da</strong>des.<br />
A ver<strong>da</strong>de do intelecto divino é uma só; dela derivam para o intelecto humano ver<strong>da</strong>des<br />
múltiplas, como de uma só face humana resultam as múltiplas imagens de um espelho. As<br />
ver<strong>da</strong>des que estão nas coisas são múltiplas, como também as enti<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s coisas. A<br />
ver<strong>da</strong>de que se atribui às coisas na sua relação com o intelecto humano é acidental com<br />
relação às coisas, pois, mesmo considerando que o intelecto humano não pudesse ser o<br />
que é, as coisas permaneceriam na sua essência. Mas, a ver<strong>da</strong>de que se atribui às coisas<br />
na sua relação com o intelecto divino é comunica<strong>da</strong> a elas engloba<strong>da</strong>mente; com efeito,<br />
não podem elas subsistir senão pelo intelecto divino, que as produz no seu ser.<br />
Originariamente, portanto, a ver<strong>da</strong>de está na coisa por sua relação com o intelecto divino,<br />
já que ao intelecto divino a coisa se relaciona como sua causa. Ao intelecto humano, ao<br />
contrário, a coisa se relaciona como seu efeito, enquanto o intelecto recebe a ciência<br />
precisamente <strong>da</strong>s coisas.<br />
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claudiordutra@hotmail.com