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<strong>II</strong>. Helenismo e Cristianismo<br />
Mesmo quando os Padres <strong>da</strong> Igreja começaram a ver<br />
heresias no neoplatonismo, eles viam nesse pensamento<br />
filosófico uma preparação para o cristianismo. Tomás de<br />
Aquino redigiu a Summa Theologica baseando-se nas<br />
Escrituras, na tradição e também em Aristóteles, o filósofo<br />
por excelência. Mas, apesar disso, segundo a posição de<br />
Brun, o cristianismo não tem na<strong>da</strong> a ver com o helenismo,<br />
por maiores que tenham sido as tentativas dos escolásticos<br />
de fun<strong>da</strong>r aquele neste. Assim não basta opor monoteísmo a<br />
politeísmo, ou criação à ação do demiurgo; é preciso ir mais a fundo:<br />
O pensamento grego organizou-se a partir <strong>da</strong> noção de desvelamento.<br />
Segundo os gregos, o conhecimento é um caminho ascensional, no fim do qual o<br />
filósofo, tal como o místico, “deve conseguir contemplar a ver<strong>da</strong>de face a face e<br />
acabar por se identificar com a própria divin<strong>da</strong>de” (Brun, 1991, 106). Platão e<br />
Aristóteles situam-se nessa perspectiva: no final <strong>da</strong> viagem não há diferença<br />
entre aquele que contempla a Ver<strong>da</strong>de e a Ver<strong>da</strong>de contempla<strong>da</strong> por ele. É o<br />
homem que se eleva para Deus e o faz sem necessi<strong>da</strong>de de nenhum<br />
intermediário. No cristianismo, ao contrário, a transcendência de Deus é<br />
constantemente manti<strong>da</strong>. Trata-se do Deus escondido. Não é o homem que sobe<br />
em direção a Deus, mas é Deus que desce para o homem, por meio <strong>da</strong><br />
Revelação que na<strong>da</strong> tem a ver com o desvelamento. Há igualmente duas<br />
concepções diferentes de Amor. De Platão a Plotino, o amor é o desejo que se<br />
liga às quali<strong>da</strong>des do indivíduo, como efêmero e inconsciente depositário. No<br />
Banquete, é dito que amamos alguém por sua beleza ou inteligência; esse amor<br />
abole a distância entre Deus e o homem. O Eros grego, deste modo, não tem<br />
na<strong>da</strong> a ver com o ágape cristão, pois o Eros é essencialmente desencarnado,<br />
visto que não se dirige à pessoa, mas só às quali<strong>da</strong>des que essa possui. No<br />
cristianismo, ao contrário, diz Brun, amar não tem na<strong>da</strong> a ver com o desejo pelo<br />
qual Deus move o mundo (como o Primeiro Motor de Aristóteles), pois Deus se<br />
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claudiordutra@hotmail.com