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A seguir, as teses essenciais de Duns Escoto que preparam o pensar de Ockham:<br />
1) Primazia <strong>da</strong> vontade sobre o intelecto, porque a essência <strong>da</strong> vontade é a liber<strong>da</strong>de.<br />
Ora, o entendimento não é livre para admitir ou não as ver<strong>da</strong>des que apreende (por<br />
exemplo, o intelecto não pode recusar o princípio: “a parte é menor que o todo”). O<br />
entendimento, portanto, é uma potência determina<strong>da</strong> como tudo o que acontece na<br />
natureza, a vontade é livre. Por isso, a vontade é mais própria do homem que o<br />
intelecto. Para Aristóteles e Tomás de Aquino é a inteligência que tem primazia;<br />
2) Enquanto São Tomás diz que aquilo que conhecemos diretamente é o universal por<br />
um processo abstrativo (só a partir do conceito universal, conhecemos os<br />
indivíduos), Escoto, sem negar que o intelecto capta o universal pela abstração,<br />
defende a tese de que, pela intuição, nós conhecemos diretamente as reali<strong>da</strong>des<br />
individuais (sem passar pelo universal); 3) o terceiro ponto em que Escoto antecipa<br />
Ockham é o estabelecimento de limites para a razão e as fronteiras entre razão e fé.<br />
A filosofia, enquanto disciplina autônoma, vai se caracterizar por ser um<br />
pensamento essencialmente crítico.<br />
Vamos agora ler com atenção um texto do próprio Duns Escoto:<br />
“Quanto ao artigo segundo, para que o erro dos acadêmicos não tenha<br />
lugar em na<strong>da</strong> do que pode ser conhecido, deve-se examinar de que modo<br />
se deve falar a respeito dos três objetos de conhecimento<br />
supramencionados (nn 224, 225 e 226-228), isto é, se é possível ter<br />
naturalmente certeza infalível: [primeiro] sobre os princípios evidentes por<br />
si mesmos e sobre as conclusões; em segundo lugar, sobre o que é<br />
conhecido por experiência; em terceiro lugar, sobre os nossos atos.<br />
[Certeza dos primeiros princípios e <strong>da</strong>s conclusões que deles derivam].<br />
Quanto à certeza dos princípios, digo o seguinte: os termos dos princípios<br />
evidentes por si mesmos têm tal identi<strong>da</strong>de entre si, que um deles<br />
evidentemente inclui de modo necessário o outro. Assim, o intelecto que<br />
compõe estes termos, pelo fato de que os apreende, tem presente em si a<br />
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claudiordutra@hotmail.com