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“Ama e faze o que queres.” ( Agostinho)<br />
Santo Agostinho ( 354 – 430 )<br />
Qual foi realmente a mensagem de Agostinho para a i<strong>da</strong>de média? Segundo Jeuneau, ele<br />
o resume sob uma tríplice rubrica: um ideal cultural, uma síntese doutrinal, uma orientação<br />
filosófica. O ideal cultural exprime-se por meio de uma imagem bíblica invoca<strong>da</strong> no De<br />
Doctrina Christiana (<strong>II</strong>, 40, 60-61). Agostinho vê no episódio do despojamento dos egípcios<br />
pelos judeus, narrado no Êxodo (XI, 2 e X<strong>II</strong>, 35-36), um valor simbólico. Ele prefigura a<br />
atitude do cristão para com a sabedoria pagã: as ver<strong>da</strong>des acaso anuncia<strong>da</strong>s pelos<br />
chamados filósofos não só não devem ser temi<strong>da</strong>s, mas reclama<strong>da</strong>s deles como de<br />
injustos possuidores. É o que o próprio Agostinho põe em prática ao se tornar cristão,<br />
monge e bispo. Coloca a serviço <strong>da</strong> sabedoria cristã sua cultura de retórico.<br />
Aos olhos de Agostinho, os chamados filósofos eram principalmente os neo-platônicos.<br />
São eles que vão ser sobretudo, despojados em vista <strong>da</strong> constituição de uma síntese<br />
doutrinal. Agostinho vai elaborar a doutrina do mestre interior – Deus, respondendo de<br />
dentro à procura <strong>da</strong> alma ( De Magistro, XIV), identificará o mundo <strong>da</strong>s idéias (Platão) ao<br />
Verbo Divino ( Sobre oitenta e três questões diversas , Q. 46), estabelecerá o caráter<br />
privativo do mal ( Confissões, V<strong>II</strong>, 12) libertando-se do maniqueísmo . Em síntese,<br />
Agostinho nos diz algo que é significativo: “Compreende para crer, crê para compreender”.<br />
Nas obras de Agostinho sente-se ain<strong>da</strong> o gume acerado, a força incisiva de quase mil anos<br />
de dialética grega. A curiosi<strong>da</strong>de intelectual levou-o ao maniqueísmo; talvez que o<br />
flagrante dualismo metafísico <strong>da</strong> doutrina tenha sido o motivo <strong>da</strong> especial sedução que ela<br />
exerceu sobre um jovem cujo espírito se evolava para as mansões etéreas dos<br />
neoplatônicos enquanto seu corpo ain<strong>da</strong> se queimava no fogo dos desejos carnais. Mesmo<br />
depois de se ter feito um cristão consumado, Agostinho continuava, como ele mesmo<br />
tristemente confessa, a ser perseguido em seus sonhos por prazeres impuros. Mas ele<br />
tinha saúde demais para participar do cego desprezo de Plotino pelos imperativos do<br />
instinto; e ninguém que não tivesse conhecido os anseios, a loucura, o êxtase do amor<br />
sexual em sua plena expansão, poderia ter-se exprimido nas palavras quentes, vibrantes<br />
que ele empregou ao dirigir-se a Deus em suas “Confissões”. To<strong>da</strong> a teologia de Agostinho<br />
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claudiordutra@hotmail.com