20.06.2013 Views

AULA 04_Filosofia_da_Religiao_II.pdf

AULA 04_Filosofia_da_Religiao_II.pdf

AULA 04_Filosofia_da_Religiao_II.pdf

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

despoja de si mesmo a ponto de fazer-se homem. Deus liga-se à própria pessoa<br />

e sua condição trágica. Ágape é um amor gratuito, um amor dádiva.<br />

Na filosofia grega fala-se de indivíduos que fazem parte de um Todo e ficam à<br />

disposição deste Todo ou Natureza que engloba as causas e efeitos, ou <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong>de ou destino que os submete a suas leis. No cristianismo, ao contrário, se<br />

fala <strong>da</strong>s pessoas. Kierkegaard acentua que no cristianismo a Pessoa está num<br />

plano superior à espécie (a parábola do bom pastor revela bem isso). A pessoa é<br />

sagra<strong>da</strong>, imagem de Deus. Essa mesma oposição pode ser estendi<strong>da</strong> ao corpo<br />

helenista e à carne cristã.<br />

A filosofia do helenismo é filosofia <strong>da</strong> imanência que se enraíza no ‘conhece-te a<br />

ti mesmo’ de Sócrates. É em si próprio que o homem pode encontrar as raízes do<br />

conhecimento que o leva até o supremo desvelamento. É por isso que Plotino diz<br />

que a salvação já está presente no interior <strong>da</strong> alma humana, bastando que se<br />

tome consciência disso. O conhecimento de ti mesmo remete à reminiscência<br />

que permite anular a que<strong>da</strong> e restituir à alma as asas que havia perdido. No<br />

cristianismo, pelo contrário, o que encontramos em nós são apenas trevas. O<br />

homem procura Deus, mas é Deus que encontra o homem caído. A Revelação e<br />

a graça trazem uma luz que ele é incapaz de desven<strong>da</strong>r por suas próprias forças.<br />

De Sócrates a Plotino estamos diante de uma filosofia intelectualista <strong>da</strong> salvação.<br />

Sócrates não se cansa de repetir: ‘ninguém é mau voluntariamente’; para ele, o<br />

mau só se afasta do bem porque o ignora. Recusa qualquer idéia de mal radical.<br />

Para os gregos não há forças misteriosas do mal. Para os cristãos, em<br />

contraparti<strong>da</strong>, o mal é algo radical e misterioso, pois faço o mal que não quero<br />

como dizia São Paulo.<br />

Em conclusão, no helenismo a ver<strong>da</strong>de está no homem; se ele a esqueceu, pode<br />

reencontrá-la com suas próprias forças. Para o cristianismo, contudo, há, de um<br />

lado, a proximi<strong>da</strong>de do homem à ver<strong>da</strong>de, pois foi criado à imagem de Deus; e,<br />

de outro, uma distância do homem à mesma, por causa <strong>da</strong> que<strong>da</strong> do pecado<br />

original. Essas forças antagônicas o homem sozinho não pode vencer; a<br />

salvação só é possível pela graça. Não se fala, no cristianismo, nem de<br />

conhecimento nem de iniciação aos mistérios; fala-se do Mediador que é<br />

Redentor.<br />

23<br />

claudiordutra@hotmail.com

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!