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Anais VII SIC - UERN

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<strong>Anais</strong> do <strong>VII</strong> <strong>SIC</strong> 915<br />

sofrimento. Enquanto algumas mães se sentiam a vontade para contar e detalhar toda a sua<br />

trajetória, outras baixavam o tom da voz no momento de relatar os sinais e sintomas apresentados<br />

pela criança. Em alguns casos, as mulheres não tiveram vontade de contar sua caminhada diante do<br />

problema e no meio da conversa pediam para parar, por não se sentirem confortáveis em relembrar<br />

todo o sofrimento vivenciado. Essas caracterizações reforçam como os diferentes interlocutores se<br />

posicionam de modos distintos diante da dor e do sofrimento. Enquanto alguns se sentem<br />

confortáveis, e até satisfeitos, em partilhar as angústias, como forma de exonerar a dor, outros se<br />

mostram reservados, procurando guardar apenas para si, os momentos ruins.<br />

Durante a conversa no grupo focal foi perceptível que muitas mães não queriam que<br />

seus filhos participassem daquele momento. Era como se o discurso, a exposição da situação, fosse<br />

trazer a tona novamente toda dor e sofrimento já vivenciado pela criança. Nessa dimensão parece<br />

que a mãe se sente na obrigação de protegê-lo de qualquer tipo de sofrimento a mais. Guimarães,<br />

Miranda e Tavares (2009) apontam que a proteção excessiva é uma realidade e, muitas vezes, são as<br />

próprias criança que determinam essa exclusividade no cuidado materno, não permitindo que outras<br />

pessoas o façam, pois esse vínculo potencializa a segurança e a confiança da criança nesse<br />

momento. Todavia, os autores ainda ressaltam que esse tipo de atitude deve ser discutida e refletida,<br />

pois é de difícil reversão após o término do tratamento, podendo favorecer conflitos com os demais<br />

irmãos que podem se sentir abandonados em prol do irmão doente.<br />

Outro aspecto evidenciado nos discursos maternos relaciona-se a toda a mobilização em<br />

função do tratamento do filho. As mulheres afirmavam vivenciar um momento de desapego ao lar,<br />

caracterizando essa situação como um “abandono” dos outros que ficam. Todavia, era notório que,<br />

apesar de se sentirem como mulheres que abandonavam a família, nenhuma relatou arrependimento,<br />

justificando tal condição em função de um bem maior e entendendo a situação como passageira,<br />

pois após a cura todos estariam juntos novamente.<br />

O cuidado na doença é assumido pela mãe, sendo esse valor social transmitido entre as<br />

gerações. Comumente a mãe é entendida socialmente como protetora do seio familiar e assim deve<br />

assumir os cuidados com o filho doente, pela crença de ser a mais qualificada para tal tarefa.<br />

(MOREIRA; ANGELO, 2008)<br />

Adentrando na descoberta e tratamento dos filhos com câncer, tornou-se perceptível a<br />

interação entre as mães que vivenciam essa mesma situação e realizam os tratamentos no COHM.<br />

Nos grupos focais ficou evidente que estas mulheres se conheciam e sabiam detalhes dos<br />

sofrimentos vivenciados com os filhos doentes. É possível sugerir que essa interrelação tenha<br />

respaldo no fato de existir a Casa de Apoio, local onde as crianças e as mães podem se instalar e<br />

interagir. Essa interação favorece a troca de experiências e os relatos das suas dores e sofrimentos.<br />

Estudo realizado por Kohlsdorf e Costa Júnior (2008) relata que entre as maiores<br />

dificuldades associadas aos cuidados de enfermidades pediátricas crônicas, os pais referiram, o<br />

aumento dos gastos com despesas médicas, medicação, transporte e deslocamentos, ligações<br />

telefônicas e refeições, a ocorrência de mudanças na dinâmica familiar, dificuldades conjugais e de<br />

suporte social e manejo comportamental de outros filhos, a necessidade de hipervigilância e<br />

monitoramento freqüente do estado de saúde do paciente, a exposição a contextos estressantes,<br />

relacionados à ansiedade, medos e expectativas. Já entre os fatores que mais auxiliavam os cuidados<br />

com a criança doente, foram referidos, a disponibilidade de suporte emocional especializado, a<br />

qualidade das informações fornecidas pelos profissionais de saúde e a possibilidade do<br />

compartilhamento dos cuidados do paciente com outras pessoas.<br />

Esse aspecto tende a minimizar as angústias e ansiedades, pois o diálogo com pessoas<br />

que vivenciam o mesmo problema pode potencializar nossa força, pela percepção de que não se é o<br />

único a enfrentar essa condição, o que pode ajudar a modificar a forma de se portar em face da<br />

doença e do seu tratamento. (FREIRE, PETRILLI, SONSOGNO, 2007) Assim, essa relação<br />

amistosa e de diálogo entre as mães, pode se aproximar da caracterização de um grupo terapêutico,<br />

pois apesar de formalmente não existir tal prática no COHM, informalmente umas dividem com as<br />

ISBN: 978-85-7621-031-3

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