AMEAÇAS MUNDIAIS AOS PEQUENOS CETÁCEOSClaudia Rocha-CamposPEQUENOS CETÁCEOSA conservação do ambiente marinhoé uma questão muito desafiadora devido aoconhecimento científico inadequado, à imensaescala dos oceanos, a sua conectividade edinamismo, assim como aos nossos problemaslogísticos e à complexidade jurisdicional(SLOAN, 2002).As pressões ambientais e antrópicassobre os mamíferos aquáticos têm mudado aolongo do tempo (Quadro 1). Historicamente,a caça foi a atividade humana que maisafetou a abundância dos mamíferos marinhos,reduzindo muitas espécies a baixos níveispopulacionais (HARWOOD, 2001).As ameaças da caça para o consumoalimentar e utilização do óleo e das peles foramreduzidas com a mudança dos hábitos daspopulações humanas, embora não tenham sidoainda completamente eliminadas (IPCC, 2002).Atualmente, novas ameaças surgiram, taiscomo o aquecimento global, a poluição sonorade baixa frequência, a intensificação do tráficomarítimo e a redução na disponibilidade depresas, fatores que não eram consideradosameaças no passado e que hoje são motivosde grande preocupação (REEVES et al., 2003).O aumento da população humana,especialmente na zona costeira, tem exercidoforte pressão nos ecossistemas marinhos pelaperda, degradação e fragmentação de hábitats,poluição e competição por recursos (IPCC, 2002).Os mamíferos aquáticos são especialmentevulneráveis a diversas ameaças devido às suasbaixas taxas intrínsecas de aumento populacional,consequentes da maturação sexual lenta, intervaloslongos entre as crias e um filhote por parição(PERRIN, 2002), representando o que Pianka(1970) denomina como epécies K-estrategistas.Apesar de pertencerem a grupostaxonômicos de origens diversas, os mamíferosaquáticos são considerados como um grupodistinto dos terrestres no desenvolvimento deações e normas legais de proteção, pois todossão dependentes de ecossistemas aquáticos paraa sua sobrevivência (REYNOLDS et al., 1999) esubmetidos a pressões e ameaças semelhantes.Os agentes mais importantes responsáveispelas extinções recentes têm sido a degradação efragmentação de hábitats, introdução de espéciesexóticas e matanças desordenadas. As duasextinções conhecidas de mamíferos marinhos dahistória recente foram a da vaca-marinha-de-steller(Hydrodamalis gigas) e da foca-monge-do-caribe(Monachus tropicalis), que foram o resultado dacaça indiscriminada em populações já, por outrascausas, debilitadas (HARWOOD, 2001).Atualmente, algumas espécies epopulações no mundo estão em situaçãocrítica. A vaquita (Phocoena sinus), um pequenocetáceo endêmico da porção norte do Golfoda Califórnia (Mar de Cortez), México, teve suapopulação estimada em poucas centenas deindivíduos em 1999 e que continua declinandorapidamente devido às capturas incidentais emredes de pesca e às construções de barragensno rio Colorado, nos Estados Unidos daAmérica (REEVES et al., 2003).38PLANO DE AÇÃO NACIONAL PARA A CONSERVAÇÃO DOS MAMÍFEROS AQUÁTICOS
O baiji (Lipotes vexillifer), um golfinhofluvial endêmico do Yangtze, China, está emsituação ainda pior. Em 2006, após extensivapesquisa em 3.500 km do rio Yangtze, não foiencontrado nenhum indivíduo e a espécie foiconsiderada tecnicamente extinta (Guo, 2006).Estimativas populacionais feitas nos censosentre 1997 e 1999, por ZHANG et al. (2003),já indicavam apenas 13 indivíduos distribuídosem 1.400 km do rio Yangtze. As principaiscausas desse declínio populacional foram, alémda destruição dos ambientes naturais, a pescaelétrica ilegal, que correspondeu a 40% damortalidade conhecida durante os anos 90, ascapturas em redes de pesca, as explosões paraa manutenção dos canais navegáveis (ZHANGet al., 2003; IUCN, 2007) e a construção debarragens, interrompendo seus deslocamentos,eliminando o acesso a outros tributários e lagos,e reduzindo a produtividade das suas presas(LIU et al., 2000). Se medidas de conservaçãoin situ e ex situ, apontadas em 1986 para aproteção e recuperação da espécie, tivessemocorrido nessa época, talvez as metas derecuperação da sua população tivessem sidomais efetivas. A extinção do baiji representanão somente a eliminação de uma espécie ede uma família inteira (Lipotidae), mas de umalinhagem evolutiva completa da radiação dosmamíferos (DUDGEON, 2005; WANG et al.,2006; REEVES & GALES, 2006).Em relação aos <strong>pequenos</strong> cetáceos, umarevisão apoiada pelo Programa das NaçõesUnidas para o Meio Ambiente (UNEP/CMS)estabeleceu as seguintes porcentagens paraas ameaças sofridas mundialmente por essesanimais em seu hábitat natural: 1) capturasincidentais - 26,5%; 2) capturas intencionais- 24,9%; 3) poluição – 21,2%; 4) degradaçãode hábitat – 9%; 5) sobrepesca - 5,8%; 6)abate por pescadores devido à atribuição doscetáceos como competidores indesejáveis –4,8%; 7) poluição sonora – 1,1%; e 8) ameaçasdesconhecidas – 6,9% (CULIK, 2004).As ameaças antrópicas ao meio ambientenem sempre são processos que ocorremseparadamente, sendo complicado, inclusive,ordená-los em tópicos, por serem processoscomplexos, frequentemente interligados einter-relacionados. Tais processos ainda podemsofrer sinergia ao ocorrerem simultaneamenteou serem consequência do outro. Por exemplo,o aumento do tráfego de embarcações, seja depesca ou de turismo, pode ao mesmo tempointerferir no comportamento e deslocamentodos mamíferos aquáticos, provocar colisões,causar poluição sonora e poluição química,com o derramamento de substâncias tóxicas elixo no mar. Por sua vez, o lixo gerado pelasembarcações (p.e. plástico, redes de pesca,etc.), e principalmente parte daquele que égerado no continente, também pode provocara diretamente a morte de várias espéciesda fauna por ingestão, enforcamento ouafogamento.Sabe-se ainda que o lixo marinhoé agregado em determinadas regiõesmarinhas por meio de diversos processosoceanográficos, como as correntes marítimas eo El Niño (DONOHUE & FOLEY, 2007), que,consequentemente, também são influenciadospelas mudanças climáticas (IPCC, 2002).Vale ressaltar que se acredita também queas mudanças climáticas contribuam parao aumento da incidência de doenças e datoxicidade dos poluentes (IPCC, 2002).Desta forma, a conservação dequalquer grupo de espécies é um processocontínuo que nunca pode ser consideradocompleto. As medidas vigentes devem seravaliadas e constantemente reavaliadas e novosesforços necessitam ser desenvolvidos paratratar as ameaças que não eram reconhecidasou existentes (REEVES et al., 2003).PEQUENOS CETÁCEOSPLANO DE AÇÃO NACIONAL PARA A CONSERVAÇÃO DOS MAMÍFEROS AQUÁTICOS39
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