PEQUENOS CETÁCEOScursos d’água naturais e não-modificados sãonecessários para assegurarem a sobrevivência dosgolfinhos e dos peixes de que eles se alimentam.As alterações hidrológicas, juntamente com outrasameaças já mencionadas, foram as responsáveispela extinção do baiji. Outra espécie da Ásiatropical, Orcaella brevirostris, que habita estuáriose rios, tem desaparecido de áreas antigamentehabitadas, estando também sujeita ao impactodas barragens instaladas no rio Mekong. Os riosasiáticos, tais como o rio Chang Jiang, são locaisde ocorrência de Neophocaena phocaenoides,espécie de boto que se desloca do mar para osrios, onde sofre as mesmas ameaças antrópicas(DUDGEON, 2000).As barragens também impedem a migraçãoou os deslocamentos do boto-da-amazônia edo tucuxi, fragmentam as suas populações emsubpopulações geneticamente isoladas, afetama disponibilidade de presas pela alteraçãoda migração dos peixes e contribuem para oencalhe em áreas represadas menores e rasas(REEVES & LEATHERWOOD, 1994). Em 1997,indivíduos de botos-vermelhos, Inia geoffrensis,ficaram retidos em “lagos” formados à jusante daUsina Hidrelétrica de Serra da Mesa, após a suaconstrução (observação pessoal). A UHE de Serrada Mesa está situada no rio Tocantins, que tem omaior volume em reservatório do país e potencialhidroenergético instalado de 11.573 MW (16% dopaís). O impacto dos barramentos é especialmenterelevante nessa sub-região, que concentra váriasusinas hidrelétricas ao longo do seu curso e muitasde construção previstas no futuro, contribuindopara a perda da biodiversidade aquática e paraa alteração das rotas migratórias dos peixes dessabacia hidrográfica (ANA, 2009).Mudanças hidrológicas causadaspor barragens não ocorrem isoladamente,mas interagem também com outros fatoresque ameaçam a biodiversidade. A reduçãonas descargas de água das barragens pode,por exemplo, aumentar a concentração depoluentes, assim como já ter sido ocasionadapelo desmatamento e pelas mudanças climáticas,fatores que também alteram o regime de fluxodentro da bacia de drenagem. Essas interaçõesentre fatores antrópicos podem ser sinérgicas,complexas e imprevisíveis. As consequênciasdeletérias do mau uso da bacia de drenagem edo desmatamento aumentam a sedimentação,causando assoreamento dos rios e inundaçõesrepentinas. Como medida de contenção dasinundações, barragens também são construídas,levando mais uma vez à alteração do regimehidrológico (DUDGEON, 2000).A efetiva conservação do ambiente fluvialdependerá do fornecimento de informaçãocientífica e da sensibilização da populaçãohumana e dos tomadores de decisão a respeitodas vantagens da manutenção da sua integridade.Mudanças climáticasO clima é o maior fator controlador dospadrões globais de estrutura da vegetação,produtividade e composição de espécies animaise vegetais, portanto, afeta os ecossistemas e a suabiodiversidade de diversas maneiras. (IPCC, 2002).As atividades humanas têm levado amudanças nos ecossistemas e concomitanteperda de biodiversidade em muitas regiões.Modelos de estudo estabelecem que o aumentona concentração de gases estufa resultará emmudanças na temperatura diárias, sazonais,interanuais e ao longo de décadas (IPCC, 2002).Muitas espécies ameaçadas estão em áreastropicais e temperadas, onde as manifestações demudanças climáticas, tais como maior frequênciae severidade de tempestades, enchentes e seca,aumentarão o conflito do uso de recursos dabiodiversidade pela população humana (REEVESet al., 2003).O IPCC (2002) avaliou os efeitos dasmudanças climáticas em sistemas biológicos,analisando diversos estudos em que a temperaturaera uma das variáveis, e encontrou correlaçãopositiva entre a temperatura e mudanças nosparâmetros físicos e biológicos. Oitenta porcento dos taxa, entre eles plantas, invertebrados,aves e mamíferos, demonstraram mudanças nosparâmetros biológicos medidos, como o inícioe final da estação reprodutiva, mudanças notamanho corporal e alterações nos padrões demigração e de distribuição.A distribuição dos mamíferos marinhosé geralmente relacionada às tolerâncias detemperaturas de cada espécie. Algumas sãoencontradas somente em águas tropicais quentes,outras na zona temperada e outras somente60PLANO DE AÇÃO NACIONAL PARA A CONSERVAÇÃO DOS MAMÍFEROS AQUÁTICOS
nos pólos. Embora algumas possam se deslocarentre áreas de temperaturas diferentes duranteas migrações regulares, elas podem tambémestar adaptadas aos regimes particulares detemperatura em épocas definidas de seu cicloanual. Porém, os impactos das mudançasclimáticas nos mamíferos marinhos estão maisreconhecidamente relacionados às mudançasna distribuição e abundância das presas, e asespécies mais adaptáveis serão as que tiveremmaior capacidade de deslocamento (SIMMONDS& ISAAC, 2007).No ecossistema marinho, os fatoresclimáticos afetam os elementos bióticos e abióticos,que influenciam o número e a distribuição dosorganismos, especialmente os peixes. Variaçõesna biomassa dos organismos marinhos tambémocorrem pela alteração da temperatura da águae de outros fatores hidrológicos. Desta forma,mudanças persistentes no clima podem afetaras populações de predadores de topo de cadeiapela alteração na abundância dos organismos nateia alimentar. Por exemplo, nas Ilhas Aleutas, apopulação de peixes, controlada por eventosclimáticos e sobrepesca, tem sido alterada, e issotem influenciado o comportamento e o tamanhopopulacional das orcas e das lontras marinhasnaquela região (IPCC, 2002).Eventos climáticos, como o El Niño e LaNiña, já apresentaram diversos impactos emvários ecossistemas e populações. Na década de80, diversas alterações na distribuição organismosmarinhos foram observadas devido aos eventosdo El Niño. Lulas, Loligo opalescens, em desova,partiram do sul da Califórnia e foram seguidas porbaleias-piloto-de-peitorais-curtas, Globicephalamacrorhynchus, suas predadoras. Anos mais tarde,as lulas retornaram, e, com elas vieram tambémgrupos de golfinhos-de-risso, Grampus griseus,que ocuparam, provavelmente, o nicho vago dasbaleias-piloto (Wursig, 2002). Nos anos de 1997e 1998, o El Niño afetou também a abundância,e, consequentemente, as pescarias de sardinhase arenques na costa da América do Sul e África(IPCC, 2002).Embora projeções atuais mostrem poucamudança na amplitude dos eventos de El Niñonos próximos 100 anos, o aquecimento globalacarretará, provavelmente, grandes extremosde secas e chuvas pesadas em muitas regiões.Enquanto no Hemisfério Norte a cobertura degelo e neve está projetada para decrescer, o geloantártico é provável de ganhar massa devido àmaior precipitação. Na realidade, o gelo antárticoé previsto de aumentar em algumas áreas ediminuir em outras. Reduções no gelo na Antárticapodem alterar distribuições sazonais, amplitudesgeográficas, padrões de migração, statusnutricional, sucesso reprodutivo e a abundânciados mamíferos marinhos (IPCC, 2002).Mudanças físicas no gelo marinho edescarga de água doce já estão provavelmenteinfluenciando as atividades humanas e o fluxo decontaminantes, todos tendo impactos tambémnas populações de mamíferos marinhos (REEVESet al., 2003).O aumento do nível do mar, decorrenteda mudança no clima, combinado com aelevação na amplitude das marés e as chuvasmais frequentes também podem levar à incursãode água salgada no ecossistema fluvial. Deltasserão particularmente suscetíveis a inundaçõesaceleradas, regressões do litoral e deterioração dasáreas úmidas. Com o aumento do nível do mar,grandes proporções dos deltas dos rios Amazonas,Orinoco e Paraná serão afetados (IPCC, 2002).Espécies costeiras, residentes de estuários, baíase lagunas podem perder seus hábitats com oaumento do nível do mar, e com o aumento dapoluição da água devido à inundação das áreasterrestres (SIMMONDS & ISAAC, 2007).Mudanças em variáveis climáticas têmlevado também ao aumento da frequência eintensidade do aparecimento de pestes e doenças(IPCC, 2002).Algumas espécies e populações podemser especialmente vulneráveis aos efeitos dasmudanças climáticas, principalmente as quepossuem distribuição limitada, como é o casoda vaquita (Phocoena sinus) ou aquelas quecostumam migrar para áreas de alimentaçãolocalizadas em regiões polares, como váriasespécies de misticetos, (IWC, 1996; SIMMONDS& ISAAC, 2007). E, conforme foi apontado noWorkshop de Mudanças Climáticas da CIB, em1996, as preocupações com a habilidade dealgumas populações de cetáceos em adaptar-se acondições futuras são justificáveis.PEQUENOS CETÁCEOSPLANO DE AÇÃO NACIONAL PARA A CONSERVAÇÃO DOS MAMÍFEROS AQUÁTICOS61
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