Alexandre AzevedoFigura 41. Boto-cinza, S. guianensis, apresentando corte profundo na nadadeira dorsal, na Baía da Guanabara/RJ.Poluição QuímicaPEQUENOS CETÁCEOSAs necessidades de uma população emcrescimento associadas ao desejo da maioriadas pessoas por um padrão de vida melhor sãoo resultado da poluição global em grande escalaA demanda por novos materiais na civilizaçãomoderna e o desenvolvimento da indústria químicaresultou na produção de compostos químicosartificiais em grande número e quantidade,contribuindo por um lado com o conforto dohomem, porém causando muitos desastres edeterioração ambiental (MANATHAN, 1994;TANABE et al., 1994, ROCHA-CAMPOS, 2002).O crescimento econômico e amodernização que levam à utilização de novastecnologias de pesca também contribuem parao maior descarte de resíduos nos oceanos.Fontes de poluição, desde lixo plástico ahidrocarbonetos aromáticos policíclicos entramnos oceanos a partir de fontes industriais eresultam em alterações persistentes das cadeiasalimentares marinhas. Fontes pontuais depoluição podem ser espacialmente acentuadas,como o caso do derramamento de óleo noAlasca pelo navio da Exxon Valdez, em 1989,todavia, a contaminação por hidrocarbonetospersistentes ainda continuava a afetar a cadeiaalimentar do Alasca após 19 anos do acidente.Fontes de poluição não-pontuais, como aliberação do excesso de nitrogênio de camposagriculturais para ambientes aquáticos, poderesultar em eutroficação de estuários próximos.Cento e cinquenta zonas mortas são registradasatualmente nos oceanos do mundo devidoao efeito-cascata da poluição por nitrogênio(CLAUSEN & YORK, 2007).Na biota marinha, a bioacumulaçãode metais ocorre por várias vias, masprincipalmente por meio da ingestão dealimento e material particulado suspensocontendo metais, da aquisição de metaisdiretamente de sedimentos de fundo e daremoção de metais em solução. Devido àtendência de bioacumulação, alta toxicidadee extrema persistência dos metais, eles estãoentre os contaminantes mais intensamenteestudados nos ambientes estuarino e marinhoem numerosas pesquisas ecotoxicológicas(KENNISH, 1997).Atualmente muitas espécies de mamíferosaquáticos têm sido expostas a compostosquímicos e elementos-traço introduzidos nossistemas aquáticos por atividades humanas.Como consumidores de topo de cadeiatrófica e de vida longa, estão sujeitos aosefeitos da biomagnificação e representambons indicadores do nível de metais presente54PLANO DE AÇÃO NACIONAL PARA A CONSERVAÇÃO DOS MAMÍFEROS AQUÁTICOS
nos ambientes (ROCHA-CAMPOS, 2002;DORNELES et al., 2007).A maioria dos contaminantes foiincorporada nos mamíferos aquáticos duranteos últimos 50 anos, e com a expansão daindustrialização mundial a contaminaçãoantrópica aumentará em quantidade ecomplexidade (O’SHEA et al., 1999). Algunsestudos toxicológicos referem-se a populaçõesmoderadamente estáveis, enquanto outros sereferem a populações em crescimento ou declínio.No caso de populações em declínio, a base paraa associação à poluição é a mera observaçãode níveis elevados de diversos contaminantesnesses animais. No entanto, somente em algunscasos, onde estudos em longo prazo têm sidoconduzidos, demonstrou-se claramente a relaçãoentre parâmetros populacionais divergentes ealtos níveis de poluentes (REIJNDERS, 1984).Os <strong>pequenos</strong> cetáceos vivem em umagrande variedade de hábitats, e possuemestratégias diferentes de alimentação, quedeterminarão a natureza e o grau de exposiçãoaos contaminantes. Geralmente, populaçõescosteiras de golfinhos, focas e leões-marinhostendem a apresentar níveis mais elevados decontaminantes do que populações oceânicas. Damesma forma, as espécies ou os indivíduos quese alimentam próximo ao sedimento de fundoestão expostas a diferentes tipos e concentraçõesde contaminantes em relação às espécies que sealimentam em regiões mais pelágicas (O’SHEA etal., 1999, ROCHA-CAMPOS, 2002).No Brasil, diversos elementos-traçoe metais foram encontrados no fígado devárias espécies de cetáceos capturadasincidentalmente (S. guianensis, P. blainvillei, S.coeruleoalba, D. capensis e S. frontalis), em níveiscomparáveis aos do Hemisfério Norte, algunsdeles encontrados em níveis superiores emindivíduos mais velhos (KUNITO et al., 2004).As mesmas espécies também apresentaramníveis altos de organoclorados persistentesna gordura, principalmente de DDTs e PCBs,demonstrando o alto grau de industrializaçãono Brasil (KAJIWARA et al., 2004).A Baía da Guanabara, no Estado do Riode Janeiro, é a área da costa brasileira maisperturbada ambientalmente devido à altadensidade populacional humana (11 milhõesde habitantes) e à alta industrialização (12.000indústrias). Entretanto, abriga uma populaçãode cerca de 70 botos-cinzas, S. guianensis, queutilizam a área para residência e forrageamento(DORNELES et al., 2008). Essa população éaltamente exposta a contaminantes, comocompostos organoclorados, organoestânicos ede perfluoroalquil, apresentando concentraçõessimilares àquelas encontradas no HemisférioNorte (AZEVEDO et al., 2008). Os níveis dePCBs analisados em amostras de gordura deindivíduos dessa população foram similares aosencontrados em T. truncatus e L. obliquidensda costa Atlântica dos Estados Unidos e emP. phocoena do Mar Báltico e representamconcentrações superiores aos limites quecausam danos aos sistemas reprodutivo,imune e endócrino de focas-do-porto, assimcomo ao sistema reprodutivo e endócrino demustelídeos (DORNELES et al., 2008).Pesticidas e metais advindosda agricultura e da mineração tambémcontaminam ambientes fluviais, como ocorrena Amazônia e no Pantanal, refletido naobservação desses contaminantes em tecidosde peixes, lontras e ariranhas (VARGAS, 2007).Entulho marinhoA poluição na forma de lixo ou entulhotem sido reconhecida como grande ameaçaà biodiversidade marinha. A preocupaçãoquanto ao impacto deste tipo de agressão vemaumentando nas últimas décadas.O lixo marinho pode impactar as espéciesda fauna de diversas formas, seja pela ingestão,enroscamento ou enredamento, causandoinjúrias físicas e morte (Figura 42).A ingestão de plásticos por cetáceose outras espécies da fauna ocorre,PEQUENOS CETÁCEOSPLANO DE AÇÃO NACIONAL PARA A CONSERVAÇÃO DOS MAMÍFEROS AQUÁTICOS55
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