PEQUENOS CETÁCEOSNos locais onde ocorrem atividadesde pesca e cetáceos há o potencial deconflitos, já que ambos estão em busca dosmesmos recursos. Entretanto, são eles que, namaioria das vezes, acabam sofrendo as pioresconsequências. As interações desses mamíferoscom a pesca podem ser positivas quando existea colaboração com o pescador (SIMÕES-LOPES et al., 1998), ou negativas, trazendoconsequências diretas, como ferimentos,morte por afogamento em redes de emalhe,abate direcionado por retaliação à depredaçãodo pescado, assim como indiretas, como ocomprometimento da sobrevivência devido àcompetição por recursos e à sobrepesca.Capturas incidentaisAs interações entre os cetáceos e apesca vêm ocorrendo há séculos e estãoaumentando em intensidade e frequênciadevido ao crescimento populacional humano,o aumento da industrialização das pescariase sua expansão a novas áreas, como a regiãooceânica, afetando o funcionamento e aestrutura dos ecossistemas (DEMASTER etal., 2001; READ et al., 2006). Essa questão écomplexa, pois tanto os pescadores quantoos animais são atraídos por áreas de altadensidade de presas. Os animais são atraídosprovavelmente às atividades de pesca pelafacilidade de exploração de recursos alimentaresconcentrados, havendo ainda diversas espéciesque realizam a pesca associada às embarcações(FERTL & LEATHERWOOD, 1997).A matança de golfinhos na pescariade atum, no Pacífico tropical oriental, ficouconhecida quando mais de 7 milhões degolfinhos foram capturados desde os anos 50.Esse caso foi considerado matança deliberada,uma vez que os grupos de golfinhos eramperseguidos e cercados nas redes com afinalidade de se capturar os cardumes de atunsassociados a eles. Além dessa captura em largaescala, outras também foram bem divulgadas,como as de Phocoenoides dalli na pescariacom redes de deriva para salmão no PacíficoNorte, e de outros cetáceos na pesca de derivapara o espadarte, no Mar Mediterrâneo, e nade deriva para atum no Atlântico Nordeste(REEVES & LEATHERWOOD, 1994).As redes de emalhe de malha larga são asmais impactantes aos <strong>pequenos</strong> cetáceos, masrecentemente também têm sido reconhecidosimpactos nas pescarias com traineiras eespinhel (REEVES et al, 2003).Não somente os cetáceos são afetadospelas capturas incidentais, mas outrosvertebrados de vida longa, como albatrozes,tartarugas marinhas e elasmobrânquios. Acaptura incidental dessas espécies raramenteé monitorada ou regulada e os impactospodem não ser reportados até que haja odesaparecimento da espécie. Se nenhumamedida for tomada, muitas espécies epopulações serão perdidas nas próximasdécadas (READ et al., 2006).As capturas incidentais têm importantesconsequências para a demografia depopulações afetadas e ameaçam a existênciade algumas espécies (Figura 24) (D’AGROSAet al., 2000; REEVES et al., 2003; READ et al.,2006). A população da vaquita, estimada em224 indivíduos, em 1997, (BARLOW et al.,1997), além de possuir distribuição geográficae variabilidade genética limitadas, potencialreprodutivo e densidade populacional baixos,ainda é altamente impactada pelas capturasincidentais em redes de pesca. Pesquisasdemonstraram que a mortalidade observadaem apenas um porto pesqueiro, dentro de seuhábitat, supera a taxa potencial de aumentopopulacional. Isto justifica a tomada de medidasdrásticas para evitar a extinção de uma espécierara, como, por exemplo, a proibição de todosos tipos de redes de emalhe, pelo menos dentrodos limites das unidades de conservação criadaspara assegurarem a sobrevivência desta espécie(Reserva da Biosfera do Alto Golfo da Califórnia40PLANO DE AÇÃO NACIONAL PARA A CONSERVAÇÃO DOS MAMÍFEROS AQUÁTICOS
e do Delta do rio Colorado) e o fornecimentode uma alternativa econômica para a populaçãohumana local. Com o objetivo de realizar umPlano de Recuperação da Vaquita, o governodo México criou um Comitê Internacional,que desenvolveu um manual passo-a-passo derecuperação populacional, para ser utilizadopor instituições dispostas a se empenhar para asobrevivência dessa espécie, ou para servir dereferência para outras populações ameaçadasde <strong>pequenos</strong> cetáceos ao redor do mundo(D’AGROSA et al., 2000).Claudia Rocha-CamposFigura 24. Toninhas, P. blainvillei, capturadas incidentalmente em redes de pesca em Rio Grande/RS, 1994.Nos Estados Unidos, em 1994, foiimplementado um esquema de manejodesignado para avaliar e mitigar as capturasincidentais de mamíferos marinhos, como estabelecimento de normas, como anotificação das capturas e o monitoramentopor observadores a bordo das embarcações.Entretanto, os pescadores raramente informamsobre as capturas e os dados confiáveis vêmapenas dos relatos dos observadores de bordo(NORTHRIDGE, 1996).A captura incidental do boto-cinza,Sotalia guianensis (Figura 25), em redesde pesca na costa norte do Brasil tem sidoregistrada desde a década de 80 (BOROBIAet al., 1991; SICILIANO, 1994). Os botosFigura 25. Filhote de boto-cinza, S. guianensis, capturadoincidentalmente em rede de pesca.Marcos C. de O. SantosPEQUENOS CETÁCEOSPLANO DE AÇÃO NACIONAL PARA A CONSERVAÇÃO DOS MAMÍFEROS AQUÁTICOS41
- Page 1: BOTO-CINZASotalia guianensisORCAOrc
- Page 5 and 6: PLANO DE AÇÃO NACIONAL PARA A CON
- Page 7 and 8: CONSERVAÇÃO DOS PEQUENOS CETÁCEO
- Page 10 and 11: IMAININPAIUCNIWCMCTMECMERCOSULMMAMO
- Page 12 and 13: Figura 27 Golfinho pantropical, S.
- Page 14 and 15: ESPÉCIES-ALVO DO PAN PEQUENOS CET
- Page 16 and 17: PEQUENOS CETÁCEOStipos de dentes:
- Page 18 and 19: distribuída em alguns mercados do
- Page 20 and 21: que atingem a maturidade sexual, ma
- Page 22 and 23: Boto-cinzaDDNome científico Sotali
- Page 24 and 25: concentrações hepáticas compará
- Page 26 and 27: Bastida et al., 2007Figura 11. Dist
- Page 28 and 29: Golfinho-rotadorDDNome científicoF
- Page 30 and 31: cadeia de montanha submarina de Fer
- Page 32 and 33: Ameaças à espécieMundialmente ex
- Page 34 and 35: As orcas se destacam por uma extrao
- Page 36 and 37: AMEAÇAS MUNDIAIS AOS PEQUENOS CET
- Page 40 and 41: capturados incidentalmente são des
- Page 42 and 43: Claudia Rocha-CamposTony MartinFigu
- Page 44 and 45: PEQUENOS CETÁCEOSespadarte no sude
- Page 46 and 47: PAULY, 2004). No Mar Mediterrâneo,
- Page 48 and 49: Marcos C. O. SantosFigura 35. Embar
- Page 50 and 51: PEQUENOS CETÁCEOSAnselmo D’Affon
- Page 52 and 53: Alexandre AzevedoFigura 41. Boto-ci
- Page 54 and 55: Acervo PARNA Lagoa do PeixeFigura 4
- Page 56 and 57: PEQUENOS CETÁCEOSAcervo AQUASISFig
- Page 58 and 59: PEQUENOS CETÁCEOScursos d’água
- Page 60 and 61: Quadro 1. Ameaças sofridas mundial
- Page 62 and 63: Paulo A. C. FloresFigura 46. : Grup
- Page 64 and 65: PARTE IIPLANO DE CONSERVAÇÃOGOLFI
- Page 66 and 67: AÇÃO: atividade operacional neces
- Page 68: 2. METAS E AÇÕES DE CONSERVAÇÃO
- Page 71 and 72: Nº Ações Data limite1.3Avaliar e
- Page 73 and 74: Nº Ações Data limite1.10Criar e
- Page 75 and 76: Nº Ações Data limite2.2Quantific
- Page 77 and 78: PLANO DE AÇÃO PARA A CONSERVAÇÃ
- Page 79 and 80: PLANO DE AÇÃO PARA A CONSERVAÇÃ
- Page 81 and 82: PLANO DE AÇÃO PARA A CONSERVAÇÃ
- Page 83 and 84: Nº Ações Data limite5.7Investiga
- Page 85 and 86: Nº Ações Data limite5.12Identifi
- Page 87 and 88: Nº Ações Data limite5.21Investig
- Page 89 and 90:
Nº Ações Data limite5.29Estimar
- Page 91 and 92:
Nº Ações Data limite5.35Avaliar
- Page 93 and 94:
PLANO DE AÇÃO PARA A CONSERVAÇÃ
- Page 95 and 96:
PLANO DE AÇÃO PARA A CONSERVAÇÃ
- Page 97 and 98:
Nº Ações Data limite7.97.107.117
- Page 99 and 100:
Nº Ações Data limite7.18Articula
- Page 101 and 102:
Nº Ações Data limite7.267.27Arti
- Page 103 and 104:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASBOTO-CO
- Page 105 and 106:
BEST, R. C. & DA SILVA, V. M. F. 19
- Page 107 and 108:
DALLA ROSA, L. 1999. Estimativa do
- Page 109 and 110:
GODWIN, H. 1996. In pursuit of ecot
- Page 111 and 112:
LUIZ-JR., O. J. 2009. Estudo de Cap
- Page 113 and 114:
MORITA, K. & YAMAMOTO, S. 2002. Eff
- Page 115 and 116:
RICE, D. W. 1998. Marine Mammals of
- Page 117 and 118:
SILVA, F. J. L. & SILVA JR., J. M.
- Page 119 and 120:
ANEXOSGOLFINHO-ROTADORStenella long
- Page 121 and 122:
Parágrafo único. Os Planos de Aç
- Page 123 and 124:
II - Centros com expertise técnico
- Page 125 and 126:
ANEXO IBases Avançadas:a. Base Ava
- Page 127 and 128:
PORTARIA Nº 86, DE 27 DE AGOSTO DE
- Page 129:
O Plano de Ação Nacional dos Mam