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versão completa em PDF - Escola de Enfermagem - UFMG

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Práticas <strong>de</strong> cuidado <strong>em</strong> uma...mente técnico, <strong>em</strong> que suas necessida<strong>de</strong>s psicossociaissão postas <strong>em</strong> segundo plano. As famílias encontram, alémdisso, um ambiente s<strong>em</strong> conforto físico, tumultuado, pequenoe <strong>de</strong>sorganizado, que potencializa as condições <strong>de</strong>sofrimento psíquico e a <strong>de</strong>sestabilização <strong>em</strong>ocional. Osrelatos seguintes confirmam nossa afirmação:Se tu soubesses as pessoas que chegam como nós e quetivess<strong>em</strong> mais condições, né, tivesse um banheiro prontopra um banho, algo assim, que as pessoas que passama noite, tipo um barzinho que a pessoa pu<strong>de</strong>sse aqueceruma água, tomar um cafezinho, fazer alguma coisa enão ficar ali daquele jeito, atiradas, realmente, que foss<strong>em</strong>ais humanizada a coisa... (Nahir – F2 – Filha).... a pessoa vira noite, agüenta mendigo, agüenta tudoali... <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter virado sabe lá Deus quantas noiteali... tu ver o sofrimento das outras pessoas além doteu acaba contigo, porque tu vê gente que v<strong>em</strong> <strong>de</strong>outras cida<strong>de</strong>s, chega aqui s<strong>em</strong> comida, a gente dácomida pras pessoas... as pessoas não t<strong>em</strong> roupa, nãot<strong>em</strong> roupa pra tomar um banho, não t<strong>em</strong> como fazernada, ficam aqui... virando as noites s<strong>em</strong> comida, s<strong>em</strong>banho, s<strong>em</strong> roupa, s<strong>em</strong> nada, nada! Tu convives comtudo isso ali e tu não t<strong>em</strong> notícia... (Alice – F2 – Neta).As famílias, <strong>em</strong> suas falas, evi<strong>de</strong>nciam uma característicacomum nos serviços <strong>de</strong> atendimento <strong>de</strong> <strong>em</strong>ergência:a contínua <strong>de</strong>sumanização do cuidado. Seus relatos expressamsuas indignações, <strong>de</strong>sconformida<strong>de</strong>s e d<strong>em</strong>andaspsicossociais. Mostram que qualquer pessoa quevivencia um evento estressante, como a doença e ahospitalização, sofre, <strong>de</strong>sestabiliza-se <strong>em</strong>ocionalmente,revolta-se, necessitando <strong>de</strong> acompanhamento, respeito,conforto e solidarieda<strong>de</strong>, ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que tambémexige um atendimento mais digno e humano.O atendimento <strong>de</strong> <strong>em</strong>ergência, por si só, já impõeuma sensação <strong>de</strong> <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong> pela ruptura das relaçõesfamiliares, sendo agravada pela situação <strong>de</strong> risco <strong>de</strong>vida. Assim, a família e o paciente experienciam diversossentimentos negativos, como a possibilida<strong>de</strong> da perda, arevolta, o aumento da ansieda<strong>de</strong> e da <strong>de</strong>sesperança, gerandodor e sofrimento psíquico (13) .A família é afetada como um todo <strong>em</strong> função doadoecimento <strong>de</strong> um dos m<strong>em</strong>bros. Sofre com a situação<strong>de</strong> doença, <strong>de</strong>sestabiliza-se psicologicamente, carecendo,por isso, <strong>de</strong> apoio <strong>em</strong>ocional. As famílias prescind<strong>em</strong> <strong>de</strong>companheirismo e <strong>de</strong> suporte psicossocial, como forma<strong>de</strong> encarar e conviver com as conseqüências que o processo<strong>de</strong> adoecer po<strong>de</strong> gerar (14) .A tecnologia <strong>de</strong> ponta na área médica e as mudançasque a socieda<strong>de</strong> globalizada trouxeram à vida das pessoas,inevitavelmente caracterizaram o indivíduo como serhumano que produz e que <strong>de</strong>ve produzir na socieda<strong>de</strong><strong>em</strong> que vive, <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rando as concepções <strong>de</strong> ser humanoque possui uma história <strong>de</strong> vida, relações sociais,uma singularida<strong>de</strong>. Tal fato permitiu a compartimentalizaçãodo indivíduo, reduzindo o atendimento àsaú<strong>de</strong>, <strong>em</strong> sua gran<strong>de</strong> maioria, ao nível biológico (5) .Como necessida<strong>de</strong> visível <strong>de</strong> se combater a contradiçãoimposta pelos avanços da socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna e aconseqüente tecnologização e impessoalida<strong>de</strong> do cuidado,o Ministério <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> lançou <strong>em</strong> 2000 o programa<strong>de</strong> humanização dos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Batizado <strong>de</strong> ProgramaNacional <strong>de</strong> Humanização dos Serviços <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>,buscou a melhoria das relações entre profissionais e pacientesatravés do acolhimento, da valorização da comunicaçãoentre os envolvidos nos serviços e a inclusão dafamília como co-partícipe do processo terapêutico. Ocontato pessoal entre os pacientes é preconizado, resgatandosua dignida<strong>de</strong>, singularida<strong>de</strong> e integralida<strong>de</strong> (5,7) .Atualmente, o programa sofreu reformulações, ampliando-seao se transformar <strong>em</strong> uma política pública nacional<strong>de</strong> humanização da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> atendimento à saú<strong>de</strong>.Recebendo o nome <strong>de</strong> "HumanizaSUS", preten<strong>de</strong> amenizara fragmentação dos processos <strong>de</strong> trabalho e da re<strong>de</strong>assistencial, fortalecer a integração das equipesmultidisciplinares e colocar o usuário no centro do processoterapêutico (15) .Reiteramos que a ausência <strong>de</strong> envolvimento <strong>em</strong>ocionaldo profissional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> agrava as dificulda<strong>de</strong>s enfrentadaspela família, assim como seus sentimentos,potencializando as condições <strong>de</strong> sofrimento psíquico.Nesse sentido, perceb<strong>em</strong>os que a política nacional <strong>de</strong>humanização po<strong>de</strong> ressaltar o solidarismo, a afetivida<strong>de</strong>e o interesse afetivo-<strong>em</strong>ocional como atos humanos eexclusivamente humanos, <strong>em</strong> um momento <strong>em</strong> que amedicina avança nos cuidados com a doença, masdiametralmente se distancia das dimensões subjetivas esingulares do paciente. Como política pública, po<strong>de</strong> favorecero resgate das concepções humanas, sociais e culturaisdas pessoas, compreen<strong>de</strong>ndo a pluralida<strong>de</strong> do serhumano, sua cont<strong>em</strong>poraneida<strong>de</strong>, suas necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> e seu papel no contexto social, possibilitando, assim,uma prática <strong>de</strong> cuidado mais humanizada.O atendimento do paciente <strong>em</strong> nível biológico é imprescindível<strong>em</strong> virtu<strong>de</strong> da <strong>de</strong>sestabilização <strong>de</strong> suas condiçõesvitais. É importante que haja uma atenção imediataà situação clínica, que, nesse momento, carece mais <strong>de</strong>cuidados intensivos diante do risco <strong>de</strong> vida do que <strong>de</strong>atendimento psicológico. Contudo, r<strong>em</strong>arcamos que nãose <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar as d<strong>em</strong>andas psicossociais <strong>de</strong> pacientese familiares, que sofr<strong>em</strong> diante da situação, <strong>de</strong>sesperam-se,conviv<strong>em</strong> a todo instante com a possibilida<strong>de</strong>da vida e da morte. O relato <strong>de</strong> Talia nos d<strong>em</strong>onstraessa preocupação:Então se tivesse uma pessoa <strong>de</strong>ssa área assim prainformar a gente e tranqüilizar seria maravilhosoporque a gente sabe que nessa situação qualquerpalavra por mínimo que seja pra gente é um conforto.(Talia – F3 – Mãe).Acreditamos que o relacionamento terapêutico torna-seuma ferramenta relevante para troca <strong>de</strong> informaçõese manutenção da saú<strong>de</strong> mental dos pacientes e <strong>de</strong>seus familiares nessas ocasiões. Constitui-se <strong>em</strong> umatecnologia <strong>de</strong> cuidado <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> que visa a proporcionaràs famílias e aos pacientes uma participação ativano processo terapêutico. Através <strong>de</strong>le, pod<strong>em</strong>os firmarconfiança, fortalecer os vínculos afetivo-<strong>em</strong>ocionais.A relação terapêutica promove uma reciprocida<strong>de</strong>, oautoconhecimento e o hétero-conhecimento, proporci-10 REME – Rev. Min. Enf; 9(1):07-12, jan/mar, 2005

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