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versão completa em PDF - Escola de Enfermagem - UFMG

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mulheres, libertos, escravos e crianças. Nos feriadosreligiosos, os romanos ofereciam sacrifícios <strong>de</strong> animais<strong>em</strong> suas casas, e os amigos eram convidados a partilhar<strong>em</strong><strong>de</strong> sua mesa, motivo <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> honra.Com a ascensão do cristianismo, mudanças importantesacontec<strong>em</strong> nos i<strong>de</strong>ais morais da época e provocam arenúncia sexual <strong>completa</strong> para alguns, a ênfase na harmoniaconjugal, a <strong>de</strong>saprovação ao segundo casamento <strong>de</strong>viúvas, a rejeição ao divórcio. Evitava-se o casamento <strong>de</strong>pagãos, e o ato sexual passou a representar a fraquezamoral do hom<strong>em</strong>. A sexualida<strong>de</strong> tornou-se um pecado, eo prazer carnal reproduzia o pecado <strong>de</strong> Adão e Eva.A partir <strong>de</strong> meados do século III, a civilização romanaoci<strong>de</strong>ntal começou a sofrer os efeitos dos movimentosmigratórios dos povos que passaram a interagir, tanto <strong>de</strong>forma pacífica como por meio <strong>de</strong> invasões, com os habitantesdo Império Romano. As tribos, que vagueavam pelas“bordas” do território romano, acabaram por se estabelecernas áreas oci<strong>de</strong>ntais da Europa <strong>de</strong>terminando o<strong>de</strong>clínio da civilização romana. Gauleses na atual França,bretões e outras tribos ceutas da gran<strong>de</strong> família indo-européia(à qual também pertenciam gregos e romanos) nasIlhas Britânicas, eslavos e germanos a leste e ao norte doslimites do território do Império Romano, contribuírampara as profundas transformações que <strong>de</strong>terminaram, aolongo dos primeiros <strong>de</strong>z séculos da era cristã, o processo<strong>de</strong> feudalização na Europa Oci<strong>de</strong>ntal. (7)Esses povos não conheciam o Estado e a cida<strong>de</strong> comoorganismos político-administrativos. Dentro dos váriosclãs ou tribos, o po<strong>de</strong>r estava concentrado nas mãos <strong>de</strong>uma “ass<strong>em</strong>bléia” <strong>de</strong> guerreiros, que mais tar<strong>de</strong> <strong>de</strong>u orig<strong>em</strong>à nobreza medieval. O guerreiro, ou seja o hom<strong>em</strong>livre, era a figura que gozava <strong>de</strong> maior prestígio. (8)A vida social estava centrada nas relações ligadas aoslaços <strong>de</strong> sangue. Nesse sentido, a base da estrutura socialamparava-se na noção geral da existência <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong><strong>de</strong> linhag<strong>em</strong>, que garantia a proteção do grupo<strong>de</strong> pessoas que aí viviam. A mulher partilhava com omarido as tarefas <strong>de</strong> proteção do grupo familiar, tinhadireitos iguais aos dos homens po<strong>de</strong>ndo, inclusive, herdarterras dos pais. Nesse contexto, Duby citado porAriès (9) afirma que “na realida<strong>de</strong>, a família é o primeirorefúgio <strong>em</strong> que o indivíduo ameaçado se protege duranteos períodos <strong>de</strong> enfraquecimento do Estado. Mas assimque as instituições políticas lhe oferec<strong>em</strong> garantiassuficientes, ele se esquiva da opressão da família e oslaços <strong>de</strong> sangue se afrouxam. A história da linhag<strong>em</strong> éuma sucessão <strong>de</strong> contrações e distensões, cujo ritmosofre as modificações da ord<strong>em</strong> política”.A família bárbara <strong>de</strong>via, obrigatoriamente, ser numerosapara po<strong>de</strong>r transmitir a vida e a herança. Váriaspessoas moravam sob o mesmo teto e isso lhes asseguravarefúgio e proteção contra os perigos externos.As cerimônias <strong>de</strong> noivado eram mais exuberantes queas do casamento. Os pais da noiva recebiam uma quantiaque representava uma compra simbólica do po<strong>de</strong>r d<strong>em</strong>ando sobre a mulher. Acontecia um gran<strong>de</strong> banquete,com bebidas, cantos e divertimentos <strong>de</strong>liberadamenteobscenos para estimular a fecundida<strong>de</strong> dos futuros esposos.Na manhã seguinte às núpcias, o hom<strong>em</strong> faziauma doação à esposa como forma <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cimento porsua virginda<strong>de</strong> e pela garantia que os filhos que ela dariaà luz seriam realmente <strong>de</strong>le.Ao contrário do que ocorria com o hom<strong>em</strong>, a vidaprivada da mulher era pública pelas conseqüências quepodia acarretar. Para Ariès e Duby (6) , “o adultério constituiuma verda<strong>de</strong>ira profanação da mulher e da <strong>de</strong>scendência,portanto da sucessão vindoura. Toda união que<strong>de</strong>spreza as condições sociais é impensável porque dissolvea socieda<strong>de</strong> da mesma forma que a mulher espontaneamenteadúltera <strong>de</strong>strói a autenticida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus filhose suprime o carisma do sangue”.A cultura e a religião <strong>de</strong>sses povos mantinham estreitosvínculos com o próprio espírito guerreiro <strong>de</strong>ssa socieda<strong>de</strong>.Os po<strong>em</strong>as e canções improvisadas enalteciam osheróis <strong>de</strong> guerra durante os momentos <strong>de</strong> festas. Entretanto,cada tribo cultuava o seu herói, real ou mitológico,s<strong>em</strong>pre l<strong>em</strong>brado através <strong>de</strong> rituais celebrativos. Os ritosreligiosos eram realizados ao ar livre, nos bosques e montanhas,indicando a inexistência <strong>de</strong> t<strong>em</strong>plos. Tais ritosocorriam <strong>em</strong> datas <strong>de</strong>scontínuas e, ainda, <strong>em</strong> ocasiõesparticulares <strong>de</strong> cada clã. Portanto, a unida<strong>de</strong> religiosa nãopô<strong>de</strong> ser i<strong>de</strong>ntificada <strong>em</strong> meio às tribos. Não raro, aconteciamsacrifícios humanos e <strong>de</strong> animais. (10)Muito do nosso legado cultural po<strong>de</strong> ser i<strong>de</strong>ntificadopela “contaminação” entre os costumes greco-romanose aqueles próprios das tribos “bárbaras”. Alguns traços<strong>de</strong> conotação nitidamente positiva pod<strong>em</strong> ser encontrados<strong>em</strong> el<strong>em</strong>entos festivos como a árvore <strong>de</strong> Natal –associada ao culto à árvore do paraíso e à felicida<strong>de</strong> dafamília – e, também, no hábito do contato físico ao cumprimentar– para os “bárbaros” esten<strong>de</strong>r a mão era prova<strong>de</strong> que não se estava armado. Por outro lado, outraspartes <strong>de</strong>sse legado não foram tão positivas: os vândalos,por ex<strong>em</strong>plo, <strong>de</strong>ram seu nome a uma das mais belasregiões da Espanha, a Andaluzia – terra dos vândalos –mas o termo vandalismo tornou-se sinônimo <strong>de</strong> <strong>de</strong>struiçãobrutal <strong>em</strong> vários idiomas. Mesmo <strong>de</strong>pois do períododas invasões, a palavra “bárbaro” foi s<strong>em</strong>pre associadaàs idéias <strong>de</strong> brutalida<strong>de</strong>, violência e ignorância.A conquista e a ocupação dos territórios, antes pertencentesao Império Romano, por essas tribos “bárbaras”,favoreceram o processo <strong>de</strong> ruralização da EuropaOci<strong>de</strong>ntal, a partir da distribuição <strong>de</strong> terras pelos chefesdas tribos entre a aristocracia <strong>de</strong> guerreiros. Anos maistar<strong>de</strong>, alianças entre os principais chefes e a Igreja CatólicaRomana possibilitaram tanto a efetiva cristianizaçãoda socieda<strong>de</strong> quanto a prática <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> terraspara o clero. Gran<strong>de</strong>s proprieda<strong>de</strong>s rurais eram concedidascomo feudos e, <strong>de</strong>sse modo, qu<strong>em</strong> as recebia tornava-seum senhor feudal. Aquele que cedia o b<strong>em</strong> setornava suserano e qu<strong>em</strong> o recebia passava a ser seuvassalo. Como as relações <strong>de</strong> vassalag<strong>em</strong> eram firmadashierarquicamente, formou-se uma ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> proprietários<strong>de</strong> terras ligados uns aos outros por laços <strong>de</strong>suserania e vassalag<strong>em</strong>. Todos eles viviam da renda e dotrabalho dos camponeses. Dentro <strong>de</strong> seus limitesterritoriais, o senhor feudal exercia a autorida<strong>de</strong> máxima,expressando a inexistência <strong>de</strong> um po<strong>de</strong>r políticocentralizado. O conseqüente <strong>de</strong>saparecimento das es-REME – Rev. Min. Enf; 9(1):70-76, jan/mar, 2005 73

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