Ocorrência <strong>de</strong> Úlcera <strong>de</strong>...ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NO TRATAMENTO DERECÉM-NASCIDO PORTADOR DE DEISCÊNCIA DE SUTURA EMFERIDA CIRÚRGICA PARA CORREÇÃO DE MIELOMENINGOCELENURSING CARE IN NEWBORN SKIN DEHISCENCE OFMYELOMENINGOCELE CLOSURE WOUNDLA ACTUACIÓN DEL ENFERMERO EN EL TRATAMIENTO DERECIÉN NACIDO PORTADOR DE DEHISCENCIA DE SUTURA EN HERIDA AQUIRÚRGICA PARA CORRECCIÓN DE MIELOMEINGOCELEMariana Bueno 1Cristiane S. M. R. Silva 2Priscilla V. Pires 2Adriana Cristina C. Alves 3Ana Paula Mikaro 4RESUMOEste estudo teve como objetivo relatar o tratamento e a evolução da lesão <strong>em</strong> recém-nascido submetido à correçãocirúrgica <strong>de</strong> mielomeningocele, admitido no 18º dia do pós-operatório. A ferida cirúrgica apresentava áreas mal perfundidas,comprometimento total da <strong>de</strong>rme, necrose e <strong>de</strong>scolamento <strong>de</strong> margens, exposição <strong>de</strong> estruturas musculares e exsudaçãosero-purulenta. Utilizaram-se alginato <strong>de</strong> cálcio, ácidos graxos essenciais e papaína. Não foram observadas reações adversasdurante a terapêutica. O tratamento resultou <strong>em</strong> total cicatrização da lesão, após 46 dias, com ausência <strong>de</strong>quelói<strong>de</strong> e bom aspecto estético.PALAVRAS CHAVE: Assistência <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>; Mielomeningocele; Deiscência <strong>de</strong> SuturaSUMMARYThe aim of this study was to <strong>de</strong>scribe the treatment and evolution of a newborn’s myelomeningocele closure wound. Theneonate was admitted on the 18th postoperative day, when poor perfusion, <strong>de</strong>rmis’ total compromising, necrosis,unstuck edges, muscle exposure and exudation at the suture line were observed. Calcium alginate, essential fatty acidsand papain were used. Total scarring was obtained on the 46th day of treatment.KEY WORDS: Nursing Care; Meningomyelocele; Suture Dehiscence.RESUMENEste estudio objetivó relatar el tratamiento y la evolución <strong>de</strong> la lesión en recién nacido sometido a la corrección quirúrgica<strong>de</strong> mielomeningocele. En la admisión, en el 18º postoperatorio, la herida presentaba áreas <strong>de</strong> mal perfusión,comprometimiento total <strong>de</strong> la <strong>de</strong>rmis, necrosis y <strong>de</strong>scolamento <strong>de</strong> márgenes, exposición <strong>de</strong> estructuras musculares yexudado sero-purulenta. Se utilizó alginato <strong>de</strong> calcio, ácidos grasos esenciales y papaína. La cicatrización total ocurrió enel 46º día <strong>de</strong> tratamiento.PALABRAS CLAVE: Asistencia <strong>de</strong> enfermería, Mielomeningocele, Dehiscencia <strong>de</strong> utura1Enfermeira da Unida<strong>de</strong> Neonatal (UN) da Socieda<strong>de</strong> Hospital Samaritano/SP (SHS/SP), Especialista <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> Neonatal e Mestranda pela <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo;2Enfermeira da UN da SHS/SP, Especialista <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> Neonatal;3Enfermeira da UN da SHS/SP;4Enfermeira Encarregada da UN da SHS/SP, Especialista <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> Pediátrica <strong>de</strong> Alto Risco.En<strong>de</strong>reço para correspondência: Mariana Bueno, Socieda<strong>de</strong> Hospital Samaritano – Unida<strong>de</strong> Neonatal, Rua Conselheiro Brotero,1486, CEP 01232-010, Higienópolis, São Paulo/SP; e-mail: maribueno@hotmail.com84 REME – Rev. Min. Enf; 9(1):84-88, jan/mar, 2005
INTRODUÇÃOOs <strong>de</strong>feitos <strong>de</strong> fechamento <strong>de</strong> tubo neural são asmalformações mais comuns e severas do sist<strong>em</strong>a nervosocentral, <strong>de</strong>ntre os quais <strong>de</strong>staca-se a mielomeningocele(MMC), <strong>de</strong>feito <strong>de</strong> fechamento do tubo neural com lesãoaberta1. Trata-se <strong>de</strong> um <strong>de</strong>feito congênito compatívelcom a vida, no entanto, <strong>de</strong> elevada morbida<strong>de</strong>, queacomete <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 5 entre 10000 nascidos vivos <strong>em</strong>todo o mundo (2) . Caracteriza-se como falha primária nofechamento do tubo neural ou ruptura <strong>de</strong> tubo neural jáfechado, que ocorre entre o 18º e o 28º dias <strong>de</strong> gestação(3) , <strong>de</strong>slocando dorsalmente a medula espinhal e asraízes nervosas, <strong>em</strong> função <strong>de</strong> falta <strong>de</strong> estruturas <strong>de</strong> apoioposteriores, observando-se ainda massas <strong>de</strong> músculo e<strong>de</strong> ossos lateralmente, representando o <strong>de</strong>feito <strong>de</strong> espinhabífida (4) . O <strong>de</strong>feito po<strong>de</strong> surgir <strong>em</strong> qualquer pontoao longo da coluna vertebral, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a porção cervicalaté o cóccix, sendo b<strong>em</strong> mais freqüente nos segmentoslombossacral (4) .A sobrevida <strong>de</strong> neonatos portadores <strong>de</strong> MMC varianão somente <strong>em</strong> função da extensão da lesão, mas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>também da ocorrência <strong>de</strong> outras malformaçõesassociadas, b<strong>em</strong> como do tipo <strong>de</strong> tratamento instituídoe da assistência prestada. Dentre outras malformações,<strong>de</strong>stacam-se a síndrome <strong>de</strong> Arnold-Chiari (<strong>de</strong>formida<strong>de</strong>complexa da parte posterior do cérebro), bifurcação <strong>de</strong>aqueduto, hidromielia, siringomielia, medula espinhal dupla,polimicrogiria, craniolacunia, heterotopias <strong>de</strong> substânciacinzenta, <strong>de</strong>formida<strong>de</strong> cuneiforme da placa doquadrigêmio, impressão basilar, platibasia, <strong>de</strong>formida<strong>de</strong>sKlippel-Fiel, cardiopatias congênitas, anomalias intestinais(atresia duo<strong>de</strong>nal, estenose pilórica) (4) . Além disso,portadores <strong>de</strong> MMC pod<strong>em</strong> apresentar incapacida<strong>de</strong>scrônicas graves, a ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> paralisia <strong>de</strong> m<strong>em</strong>bros,hidrocefalia, <strong>de</strong>formação <strong>de</strong> m<strong>em</strong>bros e da coluna vertebral,disfunção vesical, intestinal, sexual e dificulda<strong>de</strong><strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong>, com risco <strong>de</strong> <strong>de</strong>sajuste psicossocial (5) .O reparo cirúrgico é indispensável e <strong>de</strong>ve ser realizadotão logo quanto possível, objetivando minimizar riscoinfeccioso, resultante da ruptura da formação sacularexterna, com conseqüente extravazamento <strong>de</strong> líquidocéfalo-raquidiano para o ambiente. A cirurgia é feita, preferencialmente,<strong>em</strong> recém-nascidos (RN) com até 72horas <strong>de</strong> vida (6) , através da dissecção e reconstrução <strong>de</strong>estruturas neurais e meníngeas, musculatura e epi<strong>de</strong>rme,sendo a extensão do procedimento variável <strong>de</strong> acordocom a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mobilização <strong>de</strong> tecido subcutâneoe pele (6) . Atualmente, as técnicas <strong>em</strong>pregadas permit<strong>em</strong>o reparo cirúrgico <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>feitos s<strong>em</strong> a necessida<strong>de</strong><strong>de</strong> enxertia cutânea (3) . No entanto, não é infreqüentea ocorrência <strong>de</strong> <strong>de</strong>iscência <strong>de</strong> sutura cirúrgica, <strong>de</strong>correnteda extensão da lesão e da tensão aplicada nas margenscutâneas para a correção do <strong>de</strong>feito.Dentre os diversos cuidados a ser<strong>em</strong> prestados noperíodo pós-operatório <strong>de</strong>stacam-se, portanto, os <strong>de</strong>stinadosao tratamento da ferida operatória. O acompanhamentoprovido pelo enfermeiro b<strong>em</strong> como os recursosutilizados para o tratamento da lesão são <strong>de</strong> fundamentalimportância na cicatrização local efetiva e naprevenção <strong>de</strong> infecções.O presente estudo t<strong>em</strong> como objetivo <strong>de</strong>screver aevolução da lesão e o tratamento provido pela equipe<strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> a RN portador <strong>de</strong> <strong>de</strong>iscência <strong>de</strong> sutura<strong>de</strong> correção cirúrgica <strong>de</strong> MMC. A escassez <strong>de</strong> estudosnacionais e internacionais referentes ao tratamento <strong>de</strong>feridas <strong>em</strong> RN, b<strong>em</strong> como o sucesso obtido na cicatrizaçãolocal utilizando-se alginato <strong>de</strong> cálcio, extrato <strong>de</strong>papaína e ácidos graxos essenciais (AGE), justificam esterelato como <strong>de</strong> interesse científico para a prática clínicada enfermag<strong>em</strong> neonatal.DESCRIÇÃO DA METODOLOGIATrata-se <strong>de</strong> um relato <strong>de</strong> caso <strong>de</strong> paciente internado<strong>em</strong> um hospital privado do município <strong>de</strong> São Paulo esubmetido à correção cirúrgica <strong>de</strong> MMC. A evolução daferida foi acompanhada e avaliada quanto a extensão; presença,quantida<strong>de</strong> e características <strong>de</strong> secreção local e<strong>de</strong> necrose tecidual; presença <strong>de</strong> tecido <strong>de</strong> granulação;aspecto das margens. Ad<strong>em</strong>ais, foram relatados os recursosinstituídos como tratamento e os resultados obtidos.Este estudo foi realizado mediante assinatura do Termo<strong>de</strong> Consentimento Pós-Informado pelo responsávellegal pelo RN e mediante aprovação do Comitê <strong>de</strong> Ética<strong>em</strong> Pesquisa da instituição.RESULTADOS E DISCUSSÃOO RN foi admitido <strong>em</strong> nosso serviço com 18 dias <strong>de</strong>vida e diagnósticos <strong>de</strong> MMC corrigida cirurgicamente aonascimento, hidrocefalia com <strong>de</strong>rivação ventrículoperitoneal(realizada no primeiro dia <strong>de</strong> vida), coarctação<strong>de</strong> aorta, valva aórtica bicúspe<strong>de</strong>, <strong>de</strong>rrame pleural, insuficiênciarenal, colestase e broncopneumonia.Apresentava incisão cirúrgica ao longo da coluna vertebral(sutura esten<strong>de</strong>ndo-se <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a porção cervical atéregião sacral). No 5 o dia do pós-operatório, ainda noserviço <strong>de</strong> orig<strong>em</strong>, foi observado início <strong>de</strong> <strong>de</strong>iscência <strong>de</strong>ferida cirúrgica com necrose superficial; na admissão <strong>em</strong>nossa unida<strong>de</strong>, apresentava <strong>de</strong>iscência <strong>de</strong> sutura <strong>em</strong> regiãotoracolombar, com áreas mal perfundidas, comprometimentototal da <strong>de</strong>rme, necrose e <strong>de</strong>scolamento d<strong>em</strong>argens, exposição <strong>de</strong> estruturas musculares eexsudação seropurulenta <strong>em</strong> gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> (Foto1).Optou-se inicialmente por tratar a lesão com sorofisiológico (SF) 0,9% aquecido (morno ao toque, comt<strong>em</strong>peratura ao redor <strong>de</strong> 36ºC) e <strong>em</strong> jato, aplicando-seAGE <strong>em</strong> margens e alginato <strong>de</strong> cálcio nas áreas <strong>de</strong><strong>de</strong>scolamento da ferida, ocluindo-se com cobertura secundária(compressa extra-absorvente, composta por75% <strong>de</strong> viscose e 25% <strong>de</strong> poliéster, e fita hipoalergênica),por um período máximo <strong>de</strong> 24 horas.Os AGE promov<strong>em</strong> quimiotaxia dos leucócitos, neoangiogênese,mantêm o meio úmido e aceleram o processo<strong>de</strong> granulação (7) . Sua indicação objetivou, portanto,a restauração da pele, b<strong>em</strong> como hidratação, proteçãolocal e estimulação da granulação tecidual, das bordaspara o centro. O alginato <strong>de</strong> cálcio contém sais naturais<strong>de</strong> ácido algínico, extraído <strong>de</strong> algas marinhas marrons, étotalmente bio<strong>de</strong>gradável, é atóxico e não é alergênico (8,9) .REME – Rev. Min. Enf; 9(1):84-88, jan/mar, 2005 85