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versão completa em PDF - Escola de Enfermagem - UFMG

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Conforme relatam <strong>de</strong>terminados pacientes, há momentos<strong>em</strong> que não lhes bastam receber cuidados específicos.Suas priorida<strong>de</strong>s estão centradas igualmente naatenção, carinho e compreensão, para sentir<strong>em</strong>-se aliviados<strong>em</strong> suas dores. A interação com a enfermag<strong>em</strong> traduzesta percepção quando faz<strong>em</strong> referência à maneirasimpática como a equipe os tratava e procurava distraílostransformando o ambiente triste do CTI <strong>em</strong> um mundo-vidamais ameno.Quando se sentia melhor, brincava com elas que"riam" das suas brinca<strong>de</strong>iras (DISC. 2).Apesar <strong>de</strong> o ambiente ser triste, as enfermeirascontavam casos engraçados para divertir os pacientes.Para ela, são "superbacanas" e divertidas (DISC. 9).Conforme afirmação da <strong>de</strong>poente do discurso 3, éimportante um bom relacionamento nestes instantesquando a vida parece <strong>de</strong>smoronar-se. Um bom relacionamentopo<strong>de</strong> significar até estar sentado ao lado da pessoa<strong>em</strong> situação <strong>de</strong> doença, conforme refere a fala:Nos momentos <strong>de</strong> folga, as enfermeiras assentavamperto <strong>de</strong>la e isto a <strong>de</strong>ixava tranqüila. Consi<strong>de</strong>ra quefoi um relacionamento importante naquele período<strong>de</strong> sua vida (DISC. 3).O <strong>de</strong>poimento faz referência a um modo-<strong>de</strong>-estar como outro <strong>em</strong> que a comunicação não-verbal se sobrepõe àverbal e a situação <strong>de</strong> ouvinte <strong>de</strong> um dos interlocutoresé traduzida como interesse e disponibilida<strong>de</strong>.A voz do silêncio, escolhida pelas enfermeiras, v<strong>em</strong>dar t<strong>em</strong>po ao paciente e fazê-lo sentir-se livre para seexpressar como lhe convém. Este parece ser um dosex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> como pod<strong>em</strong> ser os verda<strong>de</strong>iros encontrosentre os enfermeiros e os pacientes.O reconhecimento dos <strong>de</strong>poentes para com as equipes<strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> e médica, porém, não se faz presenteapenas pela afetivida<strong>de</strong>, mas também pela competência. Éimportante l<strong>em</strong>brar que a competência exigida dos profissionaisque atuam no CTI, reportada por um dos pacientes,<strong>de</strong>ve ser vista como especial, à medida que <strong>em</strong>poucos segundos ela po<strong>de</strong> fazer a diferença entre a possibilida<strong>de</strong>ou não <strong>de</strong> manter a vida da pessoa que estásendo atendida. O conhecimento técnico-científico t<strong>em</strong><strong>de</strong> estar associado à eficiência especializada e à rapi<strong>de</strong>zque as <strong>em</strong>ergências d<strong>em</strong>andam.Apesar <strong>de</strong> alguns pacientes mostrar<strong>em</strong>-se bastante satisfeitose agra<strong>de</strong>cidos pelos cuidados recebidos, há qu<strong>em</strong>divirja da opinião geral e comente o <strong>de</strong>scaso, a falta <strong>de</strong>atenção e impaciência, <strong>de</strong> como, <strong>em</strong> certas situações, foramtratados pela equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>. Na maneirasimples <strong>de</strong> contar um episódio ocorrido no CTI, a pacientedo discurso 7 <strong>de</strong>ixa transparecer sua mágoa ao sentir-seagredida pelo <strong>de</strong>sinteresse e pela falta <strong>de</strong> compreensãoda enfermag<strong>em</strong> perante sua dor. Parece não terentendido o procedimento a que foi submetida e mostra-serevoltada por ficar como mera receptora das <strong>de</strong>cisõesdaqueles que <strong>de</strong>la cuidavam.Apesar <strong>de</strong> pedir para <strong>de</strong>ixar uma das mãos livres, elasforam amarradas com a justificativa <strong>de</strong> que era paragarantir a sua segurança. Não acreditava que aquilopo<strong>de</strong>ria estar acontecendo (...). Achava que nãoprecisavam contê-la, então suplicava para que asoltass<strong>em</strong> (...). Chorou a noite inteira, mas ficou "porisso mesmo". (DISC. 7).Na forma como critica o tratamento recebido, o pacientedo relato acima <strong>de</strong>nota ter sentido o corpoobjetivado pelo fato <strong>de</strong> as ações prestadas não levar<strong>em</strong><strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração a sua dimensão existencial. Um corpoque, ao ser objetivado per<strong>de</strong> o sentido e passa a ser umaespécie <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> para qu<strong>em</strong> <strong>de</strong>le ajuda a cuidar. Es<strong>em</strong> sentido, o corpo "<strong>de</strong>ixa <strong>em</strong> breve <strong>de</strong> ser corpo vividopara recair na condição <strong>de</strong> massa físico-química" e vira umobjeto qualquer.(3:242)O discurso chama atenção ainda, por mostrar que oenvolvimento e a preocupação da enfermag<strong>em</strong> <strong>em</strong> teruma interação e comunicação gratificante com os pacientesn<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre estão presentes. Por falta <strong>de</strong> zelo oupelo uso <strong>de</strong> uma linguag<strong>em</strong> técnica inapropriada à pessoaleiga, a comunicação com o paciente ficou unilateralnão lhe dando oportunida<strong>de</strong> para compreen<strong>de</strong>r e participardas <strong>de</strong>cisões tomadas com relação ao seu corpo.Quanto aos procedimentos invasivos, uma pacienterevela o constrangimento <strong>de</strong> ter que expor o corpo duranteo banho <strong>de</strong> leito e como o ato <strong>de</strong> ser tocada eolhada, ainda que pelo profissional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, é sentidocomo algo invasivo à sua privacida<strong>de</strong>.Sentiu-se incomodada também ao ter que utilizar acomadre e tomar banho <strong>de</strong> leito. Este é umprocedimento muito "invasivo", quando o paciente seexpõe totalmente diante do outro. (DISC. 6).Neste relato, há um alerta contra a banalização dobanho <strong>de</strong> leito <strong>de</strong>ntro das instituições hospitalares, probl<strong>em</strong>adiscutido <strong>em</strong> inúmeros trabalhos na área da enfermag<strong>em</strong>.Por ser um procedimento rotineiro no exercícioprofissional, a sua complexida<strong>de</strong>, <strong>em</strong> se tratando dopudor corporal, às vezes é esquecida na prática, transformando-o<strong>em</strong> uma tarefa meramente mecanizada.Apesar <strong>de</strong> todo sofrimento e experiências traumáticasvivenciadas no CTI, po<strong>de</strong>-se dizer que alguns dos pacientesouvidos expressaram a sua gratidão à equip<strong>em</strong>édica e à equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>.Vale salientar o discurso <strong>de</strong> número 1, <strong>em</strong> que a pacientefaz questão <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cer ao médico pelo tratamentorecebido, referindo-se a ele como único responsávelpela manutenção <strong>de</strong> sua vida. Reconhecimento queparece reproduzir um conceito vigente na socieda<strong>de</strong>, oqual confere a este profissional um "status" diferenciado<strong>de</strong>ntro da equipe <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Embora a luta pela sobrevivênciada pessoa que está enferma seja resultante <strong>de</strong> umesforço coletivo, com a participação significativa da equipe<strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>, ainda há pacientes que atribu<strong>em</strong> apenasàs ações médicas a responsabilida<strong>de</strong> pela cura obtida.A humanização do cuidado também foi l<strong>em</strong>brada pordois <strong>de</strong>poentes como sugestão para melhoria dos CTIs,pois acreditam que os profissionais <strong>de</strong>stas unida<strong>de</strong>s necessitam<strong>de</strong> se i<strong>de</strong>ntificar com o trabalho, dar sentido aele e ter gosto pela ativida<strong>de</strong> que <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong>, enfim,ter vocação para o que faz<strong>em</strong>.REME – Rev. Min. Enf; 9(1):13-19, jan/mar, 2005 17

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