12.07.2015 Views

versão completa em PDF - Escola de Enfermagem - UFMG

versão completa em PDF - Escola de Enfermagem - UFMG

versão completa em PDF - Escola de Enfermagem - UFMG

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

da burguesia e o crescente processo <strong>de</strong> urbanização e,finalmente, político—com a centralização do po<strong>de</strong>r políticoe a conseqüente consolidação dos Estados Nacionais.No entanto, a amplitu<strong>de</strong> da socieda<strong>de</strong> feudal não serestringiu ao período feudal. Sua complexa estruturaçãosocial coexistiu com a socieda<strong>de</strong> européia mo<strong>de</strong>rna como,por ex<strong>em</strong>plo, a manutenção e a exacerbação do sist<strong>em</strong>ahierárquico que <strong>de</strong>terminava uma certa imobilida<strong>de</strong> entreos grupos sociais. A rigi<strong>de</strong>z hierárquica refletia-se nas práticas<strong>de</strong> representação social que, por sua vez, expressavamrígidas normas <strong>de</strong> comportamento. Pod<strong>em</strong>os citar,para ilustrar tal fato, o vestuário da época que apresentavaa posição do indivíduo na socieda<strong>de</strong>: quanto mais rodadafosse a saia da mulher, quanto mais arminho tivesse,maior era a sua posição social. Apesar <strong>de</strong> a vitória da RevoluçãoFrancesa, <strong>em</strong> 1789, ter representado um golpe<strong>de</strong>cisivo contra os resquícios feudais na Europa Oci<strong>de</strong>ntal,alguns el<strong>em</strong>entos sobreviveram, vinculados a estruturastradicionais ou mo<strong>de</strong>rnizadas. (11)Durante o século XV, ainda era gran<strong>de</strong> a falta <strong>de</strong> afeiçãodos adultos para com as crianças. Essas eram mantidas<strong>em</strong> suas casas até a ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 7-9 anos quando, então,eram colocadas nas casas <strong>de</strong> outras pessoas. Incumbiam-se<strong>de</strong> todas as tarefas domésticas, e os ingleses efranceses acreditavam ser mais b<strong>em</strong> servidos por criançasestranhas do que por seus próprios filhos. Esse eraum hábito difundido <strong>em</strong> todas as classes sociais e “eraatravés do trabalho doméstico que o mestre transmitiaa uma criança, não ao seu filho, mas ao filho <strong>de</strong> outrohom<strong>em</strong>, a bagag<strong>em</strong> <strong>de</strong> conhecimentos, a experiênciaprática e o valor humano que pu<strong>de</strong>sse possuir”. (9)A transmissão do conhecimento <strong>de</strong> uma geração aoutra era garantida pela participação das crianças na vidados adultos, através do contato <strong>de</strong> cada dia. Nesse contexto,Ariès (9) afirma que “a família era uma realidad<strong>em</strong>oral e social, mais do que sentimental”.Após o século XV, a escola passou a ser o instrumentonormal da iniciação social, da passag<strong>em</strong> do mundoda infância para o mundo dos adultos. Constatamos,nessa época, o nascimento e o <strong>de</strong>senvolvimento do sentimento<strong>de</strong> família, reconhecida como um valor e formadapelos pais e filhos.Contudo, o ingresso da criança na escola não foi vistocom muita naturalida<strong>de</strong> pelos pais. Os adultos acreditavamque se as crianças foss<strong>em</strong> criadas <strong>em</strong> casa haveriauma maior preocupação com a sua saú<strong>de</strong> e elas apren<strong>de</strong>riammais rapidamente os <strong>de</strong>veres da vida civil e a boaeducação. Mas existiam, também, os inconvenientes daeducação doméstica como, por ex<strong>em</strong>plo, os mimos dospais, as visitas freqüentes que interferiam nos estudos ea promiscuida<strong>de</strong> dos criados. (9)Até o final do século XVII, a casa servia tanto paraabrigar a família como para receber amigos, clientes, parentese protegidos. As visitas eram freqüentes e comandavama vida da casa ditando, inclusive, o horáriodas refeições. Não havia <strong>de</strong>stinação entre os cômodosda casa, vivia-se <strong>em</strong> salas on<strong>de</strong> se fazia <strong>de</strong> tudo: comer,dormir, receber visitas, trabalhar e resolver negócios.Nessas famílias, entretanto, “já surgia o sentimento mo<strong>de</strong>rnoda família, não como refúgios contra a invasão domundo, mas como os núcleos <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong>, os centros<strong>de</strong> uma vida social muito <strong>de</strong>nsa. Em torno <strong>de</strong>las,estabeleciam-se círculos concêntricos <strong>de</strong> relações, progressivament<strong>em</strong>ais frouxos <strong>em</strong> direção à periferia: círculos<strong>de</strong> parentes, <strong>de</strong> amigos, <strong>de</strong> clientes, <strong>de</strong> protegidos,<strong>de</strong> <strong>de</strong>vedores, etc ”. (9)É no século XVIII que a família começou a manter asocieda<strong>de</strong> à distância do meio doméstico. O espaço físicofoi reorganizado e assegurava a in<strong>de</strong>pendência doscômodos, <strong>de</strong>ixando um espaço maior para a intimida<strong>de</strong>.“Esse grupo <strong>de</strong> pais e filhos, felizes com sua solidão, estranhosao resto da socieda<strong>de</strong>, não é mais a família doséculo XVII, aberta para o mundo invasor dos amigos,clientes e servidores: é a família mo<strong>de</strong>rna”. (9)Foi no contexto marcado pela ascensão da nova ord<strong>em</strong>capitalista que se estabeleceram as bases da estruturafamiliar da atualida<strong>de</strong>. A necessária valorização dotrabalho preconizada pela classe burguesa, a“moralização” do lucro, a concorrência, a expropriaçãodos trabalhadores, <strong>de</strong>ntre uma série <strong>de</strong> outros fatores,significaram profundas transformações na família. A consolidaçãodo capitalismo representou uma espécie <strong>de</strong>resignificação dos papéis dos m<strong>em</strong>bros da família principalmenteporque mulheres e crianças passaram a <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhar,junto com os homens, as funções ligadas àgeração <strong>de</strong> recursos para a própria sobrevivência donúcleo familiar. Sobretudo, no caso da mulher, tais modificaçõesacabaram por levar ao processo <strong>de</strong> <strong>em</strong>ancipaçãodo sexo f<strong>em</strong>inino. De toda forma, ao ingressar nomundo masculino da força <strong>de</strong> trabalho, as mulheresgradativamente passariam a reivindicar participação política,cultural e até religiosa. As crianças, por sua vez,acabaram por significar o <strong>de</strong>pósito das esperançascivilizacionais que atendiam aos interesses do capitalismoe começaram a ser preparadas para participar <strong>de</strong>forma cada vez mais “produtiva” no mercado capitalista,seja como mão-<strong>de</strong>-obra, seja como consumidoras.Finalizando, Ariès e Duby (6) afirmam que “naturalmenteinscrita no interior da casa, da morada, encerradasob fechaduras, entre muros, a vida privada parece,portanto, enclausurada. No entanto, por <strong>de</strong>ntro e porfora <strong>de</strong>ssa ‘clausura’, cuja integrida<strong>de</strong> as burguesias doséculo XIX enten<strong>de</strong>ram <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a todo custo, constant<strong>em</strong>entese travam combates. Voltado para o exterior,o po<strong>de</strong>r privado <strong>de</strong>ve sustentar os assaltos dopo<strong>de</strong>r público. Deve, também, do outro lado da barreira,conter as aspirações dos indivíduos à in<strong>de</strong>pendência,pois o recinto abriga um grupo, uma formação socialcomplexa, na qual as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s, as contradiçõesparec<strong>em</strong> atingir o ápice, o po<strong>de</strong>r dos homens sechoca mais intensamente do que fora com o po<strong>de</strong>r dasmulheres, o dos velhos com o dos jovens, o po<strong>de</strong>r dosamos com a indocilida<strong>de</strong> dos criados”.As diferentes formas <strong>de</strong> organização familiar, atravésdos t<strong>em</strong>pos, reflet<strong>em</strong>-se nas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> atenção àsaú<strong>de</strong> das populações. Importante salientar que é atravésda família que o Estado consegue exercer um controlesobre os indivíduos, impondo-lhes diferentes responsabilida<strong>de</strong>sconforme cada momento histórico. SegundoPrado (14) , a família servirá, também, <strong>em</strong> favor doREME – Rev. Min. Enf; 9(1):70-76, jan/mar, 2005 75

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!