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versão completa em PDF - Escola de Enfermagem - UFMG

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Aspectos relacionados ao trabalho<strong>de</strong>sgastante no CTI:Nesta subcategoria são apresentados relatos qued<strong>em</strong>onstram a questão do trabalho <strong>de</strong>sgastante, <strong>em</strong>relação ao ambiente do CTI. Assim, os fatores consi<strong>de</strong>radosprejudiciais ao trabalho nesse setor foram aalta complexida<strong>de</strong> dos clientes e o medo <strong>de</strong> não conseguirum <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho favorável nas situações <strong>de</strong><strong>em</strong>ergência.Não exist<strong>em</strong> unida<strong>de</strong>s intermediárias no hospital, queatendam clientes <strong>de</strong> média complexida<strong>de</strong>, conseqüent<strong>em</strong>enteesse fato acarreta sobrecarga à equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>,pois o CTI passa a aten<strong>de</strong>r clientes <strong>de</strong> alta e médiacomplexida<strong>de</strong>. Esse fator interfere como uma das causas<strong>de</strong> maior possibilida<strong>de</strong> para gerar ansieda<strong>de</strong>, tensão eestresse para a enfermag<strong>em</strong>. (4)A enfermag<strong>em</strong> do CTI vivencia situações difíceis vinculadasàs dificulda<strong>de</strong>s do meio hospitalar, ao tipo <strong>de</strong> trabalhoe principalmente ao contato com o cliente grave. (17)No CTI <strong>em</strong> questão a existência <strong>de</strong> clientes <strong>de</strong> médiacomplexida<strong>de</strong> é rara, prevalecendo a d<strong>em</strong>anda <strong>de</strong> clientescom alta complexida<strong>de</strong>, o que faz aumentar sentimentos<strong>de</strong> estresse e ansieda<strong>de</strong> da equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>."É <strong>de</strong>sgastante ver a piora do paciente, a gente po<strong>de</strong>falar que ver um paciente sair b<strong>em</strong> daqui é na faixa<strong>de</strong> uns 30 % apenas, e isso é muito <strong>de</strong>sgastante."(entrevista9)" o CTI um setor muito complicado, <strong>de</strong>vido ao número<strong>de</strong> pacientes graves que são encaminhados, na maioriadas vezes s<strong>em</strong> solução." (entrevista 21)Os relatos nos mostram que o estresse no CTI serelaciona diretamente ao cuidado com o cliente grave.Assim, os enfermeiros trabalham envoltos por sentimentos<strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong>, o que aumenta a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cometererros, reduzindo sua eficiência geral; com isso aequipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> enfrenta o estresse negando-o,forçando uma aparência animada. (4)Ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que o cuidado ao cliente graveacarreta segurança à equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>, esta t<strong>em</strong>preferência por cuidar <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> cliente, o qual exig<strong>em</strong>ais comportamentos técnicos assistenciais do que observaçãodireta. Essa valorização do cliente grave se <strong>de</strong>veà dificulda<strong>de</strong> do profissional <strong>em</strong> estabelecer uma relaçãopsico<strong>em</strong>ocional com o mesmo. (17)"É muito difícil trabalhar <strong>em</strong> um ambiente com pessoasgraves, a gente fica tenso pensando no pior a todomomento." (entrevista 15)"Ainda me sinto muito estressada <strong>de</strong>vido ao fato <strong>de</strong>nós lidarmos muito com clientes comatosos, quandonós trabalhamos com clientes conscientes, nósestranhamos um pouco o fato <strong>de</strong>les conversar<strong>em</strong> eexigir<strong>em</strong> mais <strong>de</strong> nós... então, às vezes você estressacom ele nesse sentido, porque com os outros você vailá, faz os procedimentos que você quiser e ele nãoreclama" (entrevista 5).Neste contexto, existe um bloqueio para a aproximaçãopor parte da equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>. Cuidar <strong>de</strong>clientes graves, inconscientes é um aspecto entendidocomo positivo pela equipe, pois não <strong>de</strong>nota vínculo <strong>em</strong>ocional.Esses fatores são entendidos como uma forma <strong>de</strong>"proteção"."Faço <strong>de</strong> conta que não estou sofrendo, passo maissegurança para o cliente quando não me envolvo maiscom ele" (entrevista 2)."Eu procuro não me envolver com o cliente, mas nãoque eu faça as coisas mecanicamente, porque ninguémé <strong>de</strong> pedra, isso é para evitar um sofrimento maior"(entrevista 7).Portanto, entend<strong>em</strong>os que a equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>sente "medo" <strong>de</strong> comunicar-se e envolver-se <strong>em</strong>ocionalmentecom os clientes. Ficou claro nos relatos que essasituação po<strong>de</strong> levar ao sofrimento e que essa condiçãoassusta a enfermag<strong>em</strong>, pois é um aspecto incontrolável.Acreditamos ser necessário elaborar planos <strong>de</strong> açãoespecíficos às necessida<strong>de</strong>s reais da equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>,que possibilit<strong>em</strong> trabalhar melhor esses aspectos.Somente assim a enfermag<strong>em</strong> será capaz <strong>de</strong> lidar comsuas próprias limitações e conseqüent<strong>em</strong>ente oferecerum cuidado personalizado, individualizado, voltado parao aspecto holístico do cliente e <strong>de</strong> seu familiar."Ambiente on<strong>de</strong> tudo acontece <strong>em</strong> um piscar<strong>de</strong> olhos".A morte chega, na maioria das vezes, <strong>em</strong> um "piscar<strong>de</strong> olhos", é um acontecimento que supera qualquer sentimento,covard<strong>em</strong>ente "<strong>de</strong>rruba barreiras", <strong>de</strong>struindoa vida e os sonhos <strong>de</strong> várias pessoas.A morte resgata conteúdos referentes à separação,<strong>de</strong>saparição, <strong>de</strong> si mesmo, impotência e fracasso. O medoda morte está relacionado ao medo da perda do controlee da consciência, ao medo da solidão, do vazio, do<strong>de</strong>sconhecido, da punição, da falha e do fracasso (17) .Assim, o medo do fracasso atinge diretamente a equipequando a morte se faz presente no CTI. O fracasso éentendido como sentimento <strong>de</strong> punição, sendo relatadopela maioria dos integrantes da equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>.Perante esse fato, eles se sent<strong>em</strong> frustrados e <strong>de</strong>primidos."Trabalhar no CTI não é bom n<strong>em</strong> agradável, porquevocê lida com a morte e vida a todo o momento."(entrevista 7 )"O CTI é um ambiente mais estressante pelo próprioestilo do paciente que você lida, nós lidamos mais coma morte do que com a vida.." (entrevista 12 )"Na sua gran<strong>de</strong> maioria, os clientes daqui não sa<strong>em</strong>,eles morr<strong>em</strong>, você faz <strong>de</strong>TRABALHO NO CENTRODE TERAPIA INTENSIVA: perspectivas da equipe <strong>de</strong>enfermag<strong>em</strong>.Para toda a equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>, o dil<strong>em</strong>a vida <strong>em</strong>orte provoca sentimentos <strong>de</strong> insatisfação, <strong>de</strong>sgosto eirritação, a impotência aflora diante <strong>de</strong> um cliente próximoda morte. (17) Os relatos mostram que o sofrimentotransforma a equipe e lhe oferece a impotência comorecurso perante a morte. Tudo isso gera sentimentos <strong>de</strong>tristeza, exacerba a sensibilida<strong>de</strong> e interfere diretamenteno aspecto <strong>em</strong>ocional da equipe.REME – Rev. Min. Enf; 9(1):20-28, jan/mar, 2005 25

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