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versão completa em PDF - Escola de Enfermagem - UFMG

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O mundo-vida no...A ESCOLHA DO TEMADurante o longo t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> atuação <strong>em</strong> Ccentros <strong>de</strong>Tratamento Intensivo, t<strong>em</strong>os observado que, apesar daqualificação dos profissionais que ali estão, nossa comunicaçãocom o paciente quase s<strong>em</strong>pre se restringe a explicar-lherapidamente os procedimentos a ser<strong>em</strong> executadose pedir-lhe a colaboração para que as nossas condutaspossam transcorrer <strong>de</strong> acordo com o esperado.Perceb<strong>em</strong>os que pouco o ouvimos e que as nossas orientaçõessão, na maioria das vezes, superficiais, não lhepermitindo compreen<strong>de</strong>r, cooperar e sentir-se segurono processo <strong>de</strong> cuidar.Para nós, que há muito exerc<strong>em</strong>os ativida<strong>de</strong>s profissionaisnessas unida<strong>de</strong>s tão especializadas, tudo ten<strong>de</strong> atornar-se uma rotina e o paciente é visto como mais umentre aqueles a qu<strong>em</strong> prestar<strong>em</strong>os cuidados. Sab<strong>em</strong>os,entretanto, que para ele, a vivência <strong>de</strong> tal situação po<strong>de</strong>ráser algo novo que o marque por toda a vida. Essaconstatação nos inquietava e, cada dia mais, nos víamosenvolvidas com a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r- para asapessoas das quase o ajudávamos a cuidar- o real significadoda experiência <strong>de</strong> estar vivendo <strong>em</strong> um CTI.Reconhecendo que nunca tínhamos parado para perguntar,ouvir atentamente e refletir sobre o momento existencialpor que passavam, pensamos <strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolver umestudo que respon<strong>de</strong>sse às nossas inquietações a esse respeito.Com ele, esperávamos proporcionar momentos <strong>de</strong>reflexões e, qu<strong>em</strong> sabe trazer à luz novos significados aoscuidados prestados a esses pacientes, o que seria especialmenteimportante para nós profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.Decidimos, então, ouvi-los, direcionando-lhes a seguintequestão:Fale-nos sobre sua experiência ao ser internado(a) no CTI.O ENCAMINHAMENTO METODOLÓGICOOptamos pela pesquisa qualitativa, seguindo a abordag<strong>em</strong>fenomenológica, por acreditarmos que ela nos possibilitariacompreen<strong>de</strong>r o fenômeno que buscávamos atravésdos significados atribuídos pelo paciente ao relatar assuas vivências quando <strong>em</strong> situação <strong>de</strong> doença ehospitalização no CTI.Utilizamos os princípios fenomenológicos tendocomo referência a análise qualitativa do fenômeno situado.Para chegarmos ao locus do conhecimento, tomandoos significados como sinalizadores, seguimos os momentossugeridos para o caminhar fenomenológico, ou seja:a <strong>de</strong>scrição, a redução e a compreensão. Na trajetóriametodológica além da análise i<strong>de</strong>ográfica elaboramos aanálise nomotética, mencionadas por Martins e Bicudo. (1)A nossa "região <strong>de</strong> inquérito" foram os Centros <strong>de</strong>Tratamento Intensivo do Hospital das Clínicas e da SantaCasa <strong>de</strong> Misericórdia, ambos na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Itajubá (MG),on<strong>de</strong> buscamos a experiência existencial junto àquelesque neles estiveram internados no período estipulado paracoleta dos discursos.Participaram da pesquisa quatorze pacientes, todoscom "quadro clínico" diagnosticado como estável. A partir<strong>de</strong>sse número, os relatos foram se repetindo; então, <strong>de</strong>cidimosparar, uma vez que eles já se mostravam suficientespara compreensão do fenômeno.REFLEXÃO DOS RESULTADOSAs análises dos <strong>de</strong>poimentos possibilitaram osurgimento <strong>de</strong> três categorias t<strong>em</strong>áticas que <strong>de</strong>linearama estrutura a ser refletida na construção dos dadosa seguir.O SENTIDO DOS AGRAVOS DO CORPOPara existir plenamente é preciso agir; a ação supõeliberda<strong>de</strong> e não só um impulso vital ou <strong>de</strong>ver. Ao agir, apessoa vai além do ato <strong>de</strong> exercitar, se <strong>de</strong>sabrocha e sai<strong>de</strong> si própria para dar consistência a seu ser e ao seumundo. A via <strong>de</strong> personalização da pessoa é o agir. Pelaação que o indivíduo manifesta o seu ser e o cria enriquecendo-ona t<strong>em</strong>poralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua existência. (2)Uma das falas dos pacientes estudados mostra a nãopercepção do ser no espaço e no t<strong>em</strong>po e a sua inérciano instante da internação; um distanciamento da capacida<strong>de</strong><strong>de</strong> agir:Foi admitido no CTI inconsciente e só lá <strong>de</strong>ntro retomouos sentidos (DISC. 13).A <strong>de</strong>scrição acima revela o rompimento na tría<strong>de</strong>hom<strong>em</strong>-espaço-t<strong>em</strong>po, pela quebra da interação hom<strong>em</strong>consciência,que <strong>de</strong>ixa, a partir daí, <strong>de</strong> perceber e vivenciaro mundo, <strong>de</strong> ser-no-mundo.A respeito do imbricamento corpo-espaço-t<strong>em</strong>po, não...se po<strong>de</strong> dizer que o corpo está no espaço n<strong>em</strong>tampouco que ele está no t<strong>em</strong>po: o corpo habita oespaço e o t<strong>em</strong>po (...). Meu corpo combina-se com oespaço e o t<strong>em</strong>po e os inclui; a amplitu<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa inclusãoé a medida da minha existência.(...), através daconsciência eu <strong>de</strong>scubro o contato simultâneo do meupróprio ser com o ser do mundo. (3:156-7)Diante da facticida<strong>de</strong> do agravo do corpo é possívelafirmar, <strong>em</strong> se tratando da opção pela hospitalização, queo paciente fica impedido <strong>de</strong> escolha, conseqüent<strong>em</strong>enteé amparado por outros, que, para preservar a sua existência,<strong>de</strong>cid<strong>em</strong> por ele, e o internam.O corpo, nesta situacionalida<strong>de</strong>, não se dá conta dosujeito que é, <strong>em</strong> toda a sua inteireza. A percepção <strong>de</strong>sua experiência no mundo fica ofuscada; com isso o ser<strong>em</strong> situação <strong>de</strong> doença não t<strong>em</strong> condições <strong>de</strong> reconstituira sua história. Há uma espécie <strong>de</strong> parada no fluxo existencial.Nesse momento, quando não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir porsi, os outros assum<strong>em</strong> o seu cuidado até que ele retorneà sua possibilida<strong>de</strong> para cuidar-<strong>de</strong>-ser e continue o seuprojeto existencial, tarefa realizada pelos profissionais <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> que o aten<strong>de</strong>ram, logo que foi admitido no CTI.Ao acordar, percebeu-se perdida no t<strong>em</strong>po e espaço(...). Foi informada pela enfermeira que se encontravano CTI, o que a <strong>de</strong>ixou tranqüila e "à vonta<strong>de</strong>"(DISC 1).O <strong>de</strong>spertar para a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> existir po<strong>de</strong>ser tranqüilo para o paciente, principalmente se no instante<strong>em</strong> que a sua consciência é recuperada, t<strong>em</strong> aolado alguém que toma como <strong>de</strong>ver profissional um modoautêntico <strong>de</strong> ajudá-lo a se cuidar, comunicando-lhe aquiloque, pelas circunstâncias, não é capaz <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>rpor si só. Leitura que se po<strong>de</strong> fazer no trecho do discurso<strong>de</strong> número 1 relatado acima.14 REME – Rev. Min. Enf; 9(1):13-19, jan/mar, 2005

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