João Cointha, um heterodoxo na França AntárticaO primeiro contato francês com o Brasil ocorre em 1504, na viagem empreendidapelo capitão normando Binot Paulmier <strong>de</strong> Gonneville, que narra suaexperiência com os índios carijós, em Santa Catarina, 5 tornando-se precursorda aproximação francesa com os índios brasileiros. Após a viagem <strong>de</strong> Gonneville,os franceses se tornaram assíduos freqüentadores da costa brasileira embusca da ibirapitanga ou oraboutan, segundo Thevet, ou ainda araboutan, no dizer<strong>de</strong> Léry. Praticando o escambo com o pau-brasil, convivendo pacificamentecom muitas tribos indígenas, acabam por tentar permanecer na colônia lusitanaa que chamaram <strong>de</strong> Terre du Brésil, afrancesamento do italiano verzino.A tentativa <strong>de</strong> criar uma colônia na América Portuguesa se <strong>de</strong>ve, sobretudo,ao fato <strong>de</strong> Francisco I, rei <strong>de</strong> França, não reconhecer a pretensa divisão do mundo<strong>de</strong>cidida por lusos e castelhanos no Tratado <strong>de</strong> Tor<strong>de</strong>silhas (1494), ao questionar:“Eu gostaria muito que me mostrassem o artigo do testamento <strong>de</strong> Adãoque divi<strong>de</strong> o Novo Mundo entre meus irmãos, o imperador CarlosVeorei<strong>de</strong>Portugal, excluindo-me da sucessão.” 6 Tal <strong>de</strong>cisão do governante francês motivoua aventura do vice-almirante da Bretanha, Nicolas Durand <strong>de</strong> Villegaignon,<strong>de</strong> fundar a França Antártica na baía da Guanabara, em novembro <strong>de</strong> 1555. 7O projeto civilizacional <strong>de</strong> construir na Terra do Brasil uma colônia paraabrigar diferentes grupos religiosos, no momento em que a Europa, particularmentea França, enfrentava a intolerância entre católicos e protestantes, resultouno maior conhecimento <strong>de</strong>ssa região que já fascinava a Europa, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> oaparecimento dos relatos <strong>de</strong> Américo Vespúcio e do Piloto Anônimo. 8 A pri-5 GONNEVILLE, Binot Paulmier <strong>de</strong>. Campagne du navire l’Espoir <strong>de</strong> Honfleur. 1503-1505. Relationauthentique du voyage du Capitaine <strong>de</strong> Gonneville ès Nouvelles Terres <strong>de</strong>s In<strong>de</strong>s. Publiéeintégralement pour la première fois avec une introduction et <strong>de</strong>s éclaircissements par M. d’Avezac.Paris: Challamel , 1869. É a primeira edição do mais antigo documento francês sobre o Brasil.6 HEULHARD, Arthur. Villegagnon, roi d’Amérique; un homme <strong>de</strong> mer au XVI ème siècle (1510-1572). Paris:Ernest Leroux, 1897, p. 85.7 Veja o estudo fundamental: BONNICHON, Philippe e FERREZ, Gilberto. A França Antártica. In:História Naval <strong>Brasileira</strong>. Coor<strong>de</strong>nação Max Justo Gue<strong>de</strong>s. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Serviço <strong>de</strong> DocumentaçãoGeral da Marinha, 1975, primeiro volume, tomo II, pp. 401-471.8 PEREIRA, Paulo Roberto. Os Três Únicos Testemunhos do Descobrimento do Brasil. 2. a ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro:Lacerda, 1999.21
Paulo Roberto Pereirameira narrativa sobre a experiência francesa no Rio <strong>de</strong> Janeiro se comprovapelo <strong>de</strong>poimento do cosmógrafo franciscano André Thevet, em Singularida<strong>de</strong>sda França Antárctica. 9 Trata-se <strong>de</strong> um livro extraordinário <strong>de</strong> viagens, emboranão se refira exclusivamente ao Brasil, pois, em cerca <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> da obra, ele<strong>de</strong>screve diversas regiões do Atlântico e da América que percorreu no seu trajeto<strong>de</strong> vinda e ida à Europa até chegar à baía da Guanabara. A França Antárticaem si mesma ocupa muito pouco a atenção do cosmógrafo franciscano. O seuinteresse concentrou-se, sobretudo, no relato da vida dos índios canibais doRio <strong>de</strong> Janeiro. São <strong>de</strong> extrema importância esses informes <strong>de</strong> Thevet, tantoque mais <strong>de</strong> um antropólogo já <strong>de</strong>monstrou a sua impressionante atualida<strong>de</strong>.O seu testemunho foi <strong>de</strong>cisivo na formação do mito do bom selvagem na mentalida<strong>de</strong>européia da Renascença, particularmente sobre o pensamento francêsaté o século XVIII, conforme já assinalou Afonso Arinos <strong>de</strong> Melo Franco noseu clássico estudo sobre a contribuição do índio brasileiro ao conceito <strong>de</strong> homemnatural na história das idéias européias. 10 Influência essa tão <strong>de</strong>terminante,que po<strong>de</strong> ser comprovada, entre outros, no célebre ensaio <strong>de</strong> Michel <strong>de</strong>Montaigne sobre o nosso indígena em que, à maneira <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>rno etnólogo,afirmava o pensador renascentista: “Não vejo nada <strong>de</strong> bárbaro ou selvagemno que dizem daqueles povos; e, na verda<strong>de</strong>, cada qual consi<strong>de</strong>ra bárbaro o quenão se pratica em sua terra.” 11O outro <strong>de</strong>poimento fundamental da experiência francesa na baía da GuanabaraéodohuguenoteJean <strong>de</strong> Léry, Viagem à Terra do Brasil. 12 O interessante9 THEVET, André. Les Singularitez <strong>de</strong> la France Antarctique. Nouvelle édition avec notes et commentairespar Paul Gaffarel. Paris: Maisonneuve, 1878. (Editio princeps: Paris, nos prelos <strong>de</strong> Maurice <strong>de</strong> la Port,1557). Veja a edição atual <strong>de</strong> Frank Lestringant: Le Brésil d’ André Thevet. Paris: Chan<strong>de</strong>igne, 1997.Confira a edição brasileira: Singularida<strong>de</strong>s da França Antárctica. Tradução e notas <strong>de</strong> Estêvão Pinto. SãoPaulo: Nacional, 1944.10 FRANCO, Afonso Arinos <strong>de</strong> Melo. O Índio Brasileiro e a Revolução Francesa. 2. a ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro:José Olympio, 1976.11 MONTAIGNE, Michel <strong>de</strong>. Dos canibais. In: Ensaios. Tradução <strong>de</strong> Sérgio Milliet. São Paulo: AbrilCultural, 1972, p. 105. (Les Essais editio princeps. Paris, 1580.)12 LÉRY, Jean. Histoire d’un voyage faict en la Terre du Brésil. Nouvelle édition avec une introduction &<strong>de</strong>s notes par Paul Gaffarel. Paris: Alphonse Lemerre, 1880, 2 vols. Veja a edição atual <strong>de</strong> Frank22
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