João Cointha, um heterodoxo na França Antárticado Brasil, julgados em Lisboa; e o <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iro em Goa, 1572, 35 on<strong>de</strong> foi justiçadopelo braço secular. Levado preso do Brasil para Portugal acusado <strong>de</strong> luterano,João Cointha <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u-se com brilhantismo. No libelo acusatório do processoconsta: “Des Boulez francês preso no cárcere da Santa Inquisição pelocrime <strong>de</strong> heresia.” 36 Na sua <strong>de</strong>fesa não nega que seguia as correntes protestantes,mas revela os serviços que prestara no Brasil e acaba recebendo uma con<strong>de</strong>naçãoleve, com penas espirituais, em 13 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1564; e, em novembro<strong>de</strong>sse ano, o castigo é comutado. Mas a alma inconstante <strong>de</strong> Cointha acaba porlevá-lo ao Oriente. Lá, na capital do Estado Português da Índia, longe dos protetoresque reconhecessem os trabalhos que fizera e os livros que publicara,Cointha acabou por ser preso, em 1569, acusado <strong>de</strong> relapso por culpas <strong>de</strong> luteranismo,sendo entregue à justiça secular. O seu fim trágico acontece em 20 <strong>de</strong>janeiro <strong>de</strong> 1572, e se po<strong>de</strong> sintetizar nas palavras <strong>de</strong> Israel Révah: “expia na fogueirada Inquisição <strong>de</strong> Goa uma liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> linguagem em matéria <strong>de</strong> religiãoque não podia tolerar a implacável ortodoxia lusitana.” 37 IV – Os livros <strong>de</strong> CointhaUm estudo abrangente, capaz <strong>de</strong> averiguar os aspectos que envolvem amultifacetada personalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> João Cointha, precisa consi<strong>de</strong>rar três vertentes:sua trajetória biográfica, o percurso bibliográfico <strong>de</strong> seus livros e aanálise <strong>de</strong> suas duas obras <strong>de</strong>ntro do contexto da literatura <strong>de</strong> espiritualida<strong>de</strong>no Renascimento europeu, a partir do ambiente <strong>de</strong> intolerância religiosano mundo luso-brasileiro. Portanto, após o exame do itinerário <strong>de</strong>sseheterodoxo a partir da França Antártica, sem cobrir todas as lacunas <strong>de</strong> suavida que ainda é, <strong>de</strong> certo modo, uma incógnita, apesar <strong>de</strong> parcialmente ro-35 RÉVAH, I.S. J. Cointha, Sieur <strong>de</strong>s Boulez, exécuté par l’Inquisition <strong>de</strong> Goa en 1572. Estrattodagli Annali <strong>de</strong>ll’Istituto Universitario Orientale – Sezione Romanza. Napoli, 1961, pp. 71-75.36 COINTHA, João. Processos Inquisitoriais Oriundos do Brasil: 1564 (processo 1586) e 1569 (processo5451). Lisboa, Torre do Tombo.37 RÉVAH, I.S. I<strong>de</strong>m, p. 75.33
Paulo Roberto Pereiramanceada pelo historiador Clovis Bulcão, 38 po<strong>de</strong>-se i<strong>de</strong>ntificar e <strong>de</strong>screvera produção literária <strong>de</strong> Cointha.Segundo se <strong>de</strong>preen<strong>de</strong> do confronto dos vários catálogos bibliográficosportugueses e brasileiros, os livros que João Cointha escreveu sofreram aci<strong>de</strong>ntadatrajetória. Algumas indagações são fundamentais ao levantamento bibliográficoda sua obra: quantos livros escreveu, quantas edições tiveram, quantosexemplares ainda existem <strong>de</strong> cada impressão, em quais bibliotecas são encontradosatualmente? As respostas a esses questionamentos preencherão, certamente,uma parte da mal conhecida história <strong>de</strong> Cointha como autor <strong>de</strong>dois livros originais <strong>de</strong>ntro dos postulados da Renascença.O patrono da bibliografia portuguesa, Diogo Barbosa Machado, não teveconhecimento da existência das obras <strong>de</strong> João Cointha, pois a elas não se refereno seu monumental livro. A primeira notícia bibliográfica sobre João Cointhaaparece no Dicionário <strong>de</strong> Inocêncio, 39 já em pleno século XIX, em que o extraordináriobibliógrafo dá as primeiras informações sobre as duas obras até hoje conhecidasdo célebre herege francês: Paradoxo ou Sentença Filosófica contra a Opiniãodo Vulgo 40 e Católica e Religiosa Admoestação a Sujeitar o Homem, sem Entendimento à Obediênciada Fé. 41 Após a notícia <strong>de</strong> Inocêncio, po<strong>de</strong>-se estabelecer um critério parafixação das edições, dos exemplares conhecidos e <strong>de</strong> sua atual localização.O primeiro livro <strong>de</strong> Bolés, Paradoxo ou Sentença Filosófica contra a Opinião do Vulgo,é extremamente raro. O exemplar, <strong>de</strong>scrito por Inocêncio, traz a informação:“Agora novamente feito e impresso nesta cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa em casa <strong>de</strong>Marcos Borges, impressor do Rei Nosso Senhor, ao primeiro <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong>1566.” Mas sabemos, segundo consta no catálogo da Biblioteca <strong>de</strong> Fernando38 BULCÃO, Clovis. A Quarta Parte do Mundo. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 1999.39 SILVA, Innocêncio Francisco da. Dicionario Bibliographico Portuguez. Lisboa: Imprensa Nacional,1859, tomo III. p. 351-352.40 COINTHA, João, Senhor <strong>de</strong> Bolés. Paradoxo ou Sentença Philosophica contra a Opinião do Vulgo. Lisboa:Marcos Borges, 1566.41 COINTHA, João. Católica e Religiosa Admoestação a Sujeitar o Homem, sem Entendimento à Obediência da Fé.Lisboa: Marcos Borges, 1566.34
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