Paris, berço doRomantismo brasileiro:Gonçalves <strong>de</strong> Magalhãese Araújo Porto-AlegreMassaud MoisésRomântica e revolucionária, encarnando i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong> progresso emo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, a França dos começos do século XIX estavano ar em toda parte, – na cultura, nos costumes, na etiqueta, no vestuário,nos livros. Os nossos homens <strong>de</strong> letras, notadamente os poetas,lá iam beber conhecimento e inspiração, por via direta ou por viaindireta, tendo <strong>de</strong> permeio, neste caso, figuras portuguesas tambémimantadas ao mo<strong>de</strong>lo em voga. Embora <strong>de</strong>spontado na Escócia e naAlemanha da segunda meta<strong>de</strong> do século XVIII, o Romantismo aclimatara-seperfeitamente em solo francês, a ponto <strong>de</strong> suscitar a impressão<strong>de</strong> que ali teria vindo à luz do sol. Tudo se passava como seali houvesse, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre, à espera <strong>de</strong> germinação, latências dascorrentes iniciadas pela estética do sentimento e da fantasia.Seguindo no rastro da universalização do idioma falado ao nortedos Pireneus, a nova moda cultural difundiu-se amplamente. Paristornara-se o centro do mundo: todos se voltavam, em pensamento,na sua direção. Mas poucos brasileiros tiveram a sorte <strong>de</strong> estudarnas suas escolas ou <strong>de</strong> alargar os horizontes do saber no contactoTitular <strong>de</strong>LiteraturaPortuguesa daFFLCH daUniversida<strong>de</strong> <strong>de</strong>São Paulo,ensaísta,historiador ecrítico literário.Paris, berço do Romantismo brasileiro...67
Massaud Moiséscom a sua fervilhante ativida<strong>de</strong> científica, literária, musical, artística, como éo caso <strong>de</strong> Gonçalves <strong>de</strong> Magalhães (1811-1882) e Araújo Porto-Alegre(1806-1879).Dois eventos simultâneos tiveram o condão <strong>de</strong> introduzir a moda românticaentre nós: Niterói, Revista Brasiliense e Suspiros Poéticos e Sauda<strong>de</strong>s. Datados ambos<strong>de</strong> Paris, 1836, o periódico era organizado por Torres Homem, Araújo Porto-Alegre, Pereira da Silva e Gonçalves <strong>de</strong> Magalhães, sendo este o autor do livro<strong>de</strong> versos. A revista, que se dispunha a enfeixar colaboração no terreno dasciências, das letras e das artes, teve efêmera duração (dois números), mas o suficientepara exercer influência renovadora, na linha das novas correntes estéticasem moda na Europa, com as quais os seus organizadores vinham tomandocontacto.Tendo por lema a epígrafe “Tudo pelo Brasil e para o Brasil”, estampado nafolha <strong>de</strong> rosto, como um subtítulo, a revista caracterizava-se expressamentepor um entranhado sentido patriótico, <strong>de</strong> que o estudo <strong>de</strong> Gonçalves <strong>de</strong> Magalhães(“Ensaio sobre a História da Literatura do Brasil”), inserto no primeironúmero, entre as páginas 132 e 159, po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado a síntese crítica.Ostentando caráter <strong>de</strong> manifesto híbrido, entre literário e político, insurgia-secontra a colonização portuguesa, ao mesmo tempo em que perfilhava a estéticaromântica, à luz da qual se propunha a mostrar, a partir da vertente indianista,os traços originais da nossa literatura.Abrindo com a afirmação <strong>de</strong> que “a literatura <strong>de</strong> um povo é o <strong>de</strong>senvolvimentodo que ele tem <strong>de</strong> mais sublime nas idéias, <strong>de</strong> mais filosófico no pensamento,<strong>de</strong> mais heróico na moral e <strong>de</strong> mais belo na Natureza”, <strong>de</strong>ixava claroque o i<strong>de</strong>ário romântico, ao menos <strong>de</strong>sse ângulo, já começava a fazer parte doseu repertório <strong>de</strong> idéias. E indagando – “Quem não dirá que Portugal, comeste sistema exterminador, só curava <strong>de</strong> atenuar e enfraquecer esta imensa colônia,porque conhecia sua própria fraqueza e ignorava seus mesmos interesses?Quem não dirá que ele temia que a mais alto ponto o Brasil se erguesse e aglória lhe ofuscasse?” – <strong>de</strong>ixava documentado o sentimento nativista, patrióticoe antilusitano que o inflamava. Mas é nas marcas da cultura francesa sua68
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