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Prosa (2) - Academia Brasileira de Letras

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Paulo Roberto Pereiraque alguns biógrafos <strong>de</strong> Anchieta se enganaram a respeito dos fatos que o“Taumaturgo do Brasil” relata em sua correspondência, envolvendo oscompatriotas <strong>de</strong> João Cointha que tentavam estabelecer na Guanabara autópica França Antártica.O <strong>de</strong>sconhecimento do verda<strong>de</strong>iro <strong>de</strong>stino <strong>de</strong> Cointha prejudicou sensivelmenteo seu resgate biográfico, pois permitiu que se criasse uma história paralela,associando o seu nome ao <strong>de</strong> um tal Jacques ou Tiago Leballeur, “Herege da Guanabara”,mandado enforcar por Mem <strong>de</strong> Sá com a assistência espiritual <strong>de</strong> José <strong>de</strong>Anchieta, conforme já <strong>de</strong>monstraram Celso Vieira e Hélio Abranches Viotti. 21Com a confusão criada, Cointha e Bolés <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> ser a mesma pessoa,além <strong>de</strong> se tornar uma terceira ao ser associado ao “Herege da Guanabara”.Com isso, sua verda<strong>de</strong>ira i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e os dois livros por ele publicados em Lisboasó voltaram a lhe ser corretamente atribuídos após as revelações <strong>de</strong> RamizGalvão, Cândido Men<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Almeida, além da <strong>de</strong>scoberta do processo inquisitorialdo famoso aventureiro calvinista, 22 por Souza Viterbo, no ArquivoNacional da Torre do Tombo.Essa lenda tem subsistido a tal ponto que, mesmo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> se comprovarque Cointha não morreu no Brasil, continuaram surgindo trabalhos com omesmo equívoco histórico. Em São Paulo, por exemplo, foi publicado anonimamente,em 1896, um folheto <strong>de</strong> 32 páginas com o sugestivo título <strong>de</strong> Anchieta,o carrasco <strong>de</strong> Bolés à luz da história pátria. A pretensa “compilação histórica”, atribuídaa Álvaro Emídio Gonçalves dos Reis, aproveitou-se do <strong>de</strong>bate travadonos meios intelectuais brasileiros do século XIX sobre o papel <strong>de</strong> Anchieta namorte do <strong>de</strong>sertor da França Antártica.A frau<strong>de</strong> construída por um equívoco no século XVII chegou ao século XXcom várias publicações como Anchieta e o suplício <strong>de</strong> Balleur, <strong>de</strong> Vicente TemudoLessa, <strong>de</strong> 1934; Anchieta: Santo ou Carrasco?, <strong>de</strong> Aníbal Pereira dos Reis, da déca-21 VIEIRA, Celso. Anchieta. Rio <strong>de</strong> Janeiro: 1930; VIOTTI, S.J. Pe. Hélio Abranches. Anchieta: oApóstolo do Brasil. 2. a ed. São Paulo: Loyola, 1980.22 VITERBO, Sousa. Trabalhos Náuticos dos Portugueses: séculos XVI e XVII. Lisboa: IN-CM, 1988.Edição fac-similar. Cf. pp. 644-655.26

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