João Cointha, um heterodoxo na França Antárticasobre o livro do calvinista genebrino é que só a partir da sua segunda edição,1580, é que se amplia <strong>de</strong> maneira consi<strong>de</strong>rável o número <strong>de</strong> ilustrações retratandocenas <strong>de</strong> guerra e <strong>de</strong> canibalismo dos nossos selvagens. Além <strong>de</strong>sses doistestemunhos, escritos por participantes que viveram a experiência da FrançaAntártica, há outros textos que documentam as relações dos franceses com arealida<strong>de</strong> quinhentista do Brasil, como Une Fête brésilienne celebrée à Rouen en1550, 13 que trata da presença <strong>de</strong> índios brasileiros na França. 14 II – José <strong>de</strong> Anchieta e o “Herege daGuanabara”Por trás da reação portuguesa contra o empreendimento dirigido por Villegaignon,além do interesse econômico que po<strong>de</strong>ria suscitar, está o significadoreligioso. Criar um núcleo protestante <strong>de</strong>ntro da América lusitana no momentoem que Portugal fazia parte da ponta-<strong>de</strong>-lança do movimento da Contra-Reforma, seria uma ação que a ortodoxia ibérica não aceitava. Daí se compreen<strong>de</strong>ra postura intransigente em <strong>de</strong>fesa do catolicismo, que se encontra nacorrespondência do primeiro provincial da Companhia <strong>de</strong> Jesus no Brasil, PadreManuel da Nóbrega, ao escrever ao Car<strong>de</strong>al Infante, último rei <strong>de</strong> Portugalda Casa <strong>de</strong> Avis e inquisidor-geral, contra a colônia da França Antártica:“Estes franceses seguiam as heresias da Alemanha, principalmente as <strong>de</strong>Calvino, que está em Genebra, segundo soube <strong>de</strong>les mesmos, e pelos livrosque lhe acharam muitos, e vinham a esta terra a semear estas heresias peloLestringant, Paris: Le Livre <strong>de</strong> Poche, 1994. Confira a edição brasileira: Viagem à Terra do Brasil.Tradução e notas <strong>de</strong> Sérgio Milliet. São Paulo: Martins, 1951. (Editio princeps: La Rochelle parAntoine Chuppin, 1578.)13 DENIS, Ferdinand. Une Fête brésilienne celebrée à Rouen en 1550. Paris: J. Technes, 1850.14 Veja a bibliografia sobre o tema em: FROTA, Guilherme <strong>de</strong> Andréa. Os franceses e a fundação doRio <strong>de</strong> Janeiro. Ensaio bibliográfico. In: Verbum. Rio <strong>de</strong> Janeiro, 20, n. o 2, jun. 1963.23
Paulo Roberto Pereiragentio, e segundo soube tinham mandado muitos meninos do gentio aaprendê-las ao mesmo Calvino e outras partes para <strong>de</strong>pois serem mestres, e<strong>de</strong>sses levou alguns o Villegaignon que era o que fizera aquela fortaleza(Coligny) e se intitulara Rei do Brasil.” 15Outro auxiliar inaciano do terceiro governador geral na luta contra os francesesfoi o Padre José <strong>de</strong> Anchieta. O “Apóstolo do Brasil” motivado por essesacontecimentos no Rio <strong>de</strong> Janeiro redigiu em latim a epopéia renascentista Degestis Mendi <strong>de</strong> Saa (Os feitos <strong>de</strong> Mem <strong>de</strong> Sá), 16 em que o governante da colônia brasileiraaparece como um personagem civilizador, quase lendário, que lembra oherói da epopéia virgiliana.A aventura <strong>de</strong> criação da França Antártica trouxe à baía da Guanabara váriosheterodoxos que perambularam pelo Brasil quinhentista. Desse contingenteuma personagem se relacionou com a elite intelectual da Colônia: o doutorpela Sorbonne João Cointha, Senhor <strong>de</strong> Bolés, que chegou ao Rio <strong>de</strong> Janeiroem 1557, na expedição <strong>de</strong> Bois le Comte, sobrinho <strong>de</strong> Villegaignon. Esseaventureiro e letrado renascentista pelo seu vasto saber, além <strong>de</strong> profundo conhecimentoteológico, manteve contato com os governantes e os membros daCompanhia <strong>de</strong> Jesus, criando uma polêmica religiosa que acaba por colocá-lonas malhas da Inquisição.O itinerário do calvinista João Cointha, companheiro <strong>de</strong> Jean <strong>de</strong> Léry, écheio <strong>de</strong> peripécias e está envolvido na lenda a respeito da sua pretensa morteno Brasil, na qual José <strong>de</strong> Anchieta é apresentado como aquele que auxiliou ocarrasco a acabar-lhe com a vida. Cointha, após participar <strong>de</strong> várias polêmicasreligiosas na França Antártica, ocorridas entre grupos católicos, calvinistas eluteranos, incluindo-se entre os participantes o próprio Villegaignon e tam-15 NÓBREGA, Pe. Manuel da. Cartas do Brasil e mais escritos. Edição <strong>de</strong> Serafim Leite, S.I. Coimbra:Acta Universitatis Conimbrigensis, 1955, p. 368. É a célebre carta “Ao Car<strong>de</strong>al Infante D. Henrique<strong>de</strong> Portugal”, datada <strong>de</strong> São Vicente, 1. o <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1560.16 ANCHIETA, José <strong>de</strong>. De gestis Mendi <strong>de</strong> Saa. Apresentação Eduardo Portella. Introdução PauloRoberto Pereira. Edição fac-similar. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Biblioteca Nacional, 1997, p. 9. (Primeiraedição: Coimbra, 1563.)24
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