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Prosa (2) - Academia Brasileira de Letras

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Paris, berço do Romantismo brasileiro...nosso orgulho é em extremo suscetível; ele <strong>de</strong>sconfia dos menores sucessos;um nome pronunciado três vezes nos importuna e irrita”. Elogio maior nãopo<strong>de</strong>ria ser feito ao livro <strong>de</strong> poemas inaugural, publicado em França.À distância <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> cento e cinqüenta anos, salta aos olhos que TorresHomem acentuou as linhas românticas entrevistas no livro, por <strong>de</strong>scuido, subjetivida<strong>de</strong>,companheirismo ou falta <strong>de</strong> espírito crítico. Não obstante, era movidopor sentimentos plausíveis no momento em que o nosso horizonte seabria para o novo mo<strong>de</strong>lo literário, que ele e os outros viram <strong>de</strong> perto em Paris.O volume <strong>de</strong> Gonçalves <strong>de</strong> Magalhães revela uma dualida<strong>de</strong> que po<strong>de</strong> mesmoparecer fruto do gosto do paradoxo que fazia as <strong>de</strong>lícias dos românticos. Masnão é: o poeta a<strong>de</strong>riu ao Romantismo por influência francesa e introduziu-oem nossas letras, mas era, por temperamento e formação, um conservador <strong>de</strong>estirpe neoclássica. Levando o rigor ao extremo, po<strong>de</strong>-se dizer que insistiu empoetar a <strong>de</strong>speito <strong>de</strong> lhe faltarem as condições para erigir obra sólida e duradouranesse terreno. Teria confundido transpiração com inspiração.Não estaria sozinho nessa condição, e nem <strong>de</strong>ixaria, por isso, <strong>de</strong> franquearas portas do i<strong>de</strong>ário romântico para os nossos escritores, como ao <strong>de</strong>clarar, noprefácio ao livro, seu maior <strong>de</strong>sejo: “O fim <strong>de</strong>ste livro, ao menos aquele a quenos propusemos, que ignoramos se o atingimos, é o <strong>de</strong> elevar a poesia à sublimefonte don<strong>de</strong> ela emana, como o eflúvio d’água, que da rocha se precipita eao seu cume remonta, ou como a reflexão da luz ao corpo luminoso; vingar aomesmo tempo a poesia das profanações do vulgo, indicando apenas no Brasiluma nova estrada aos futuros engenhos.”Se o conceito <strong>de</strong> poesia, em que brilha a idéia <strong>de</strong> sublime, na esteira dospensadores do século XVIII, e se no horror ao vulgo já se po<strong>de</strong> ver uma reminiscênciaporventura involuntária ao pensamento <strong>de</strong> Horácio, que sedirá na afirmação que vem a seguir: “O poeta, empunhando a lira da Razão,cumpre-lhe vibrar as cordas eternas do Santo, do Justo e do Belo”. Qualquerletrado <strong>de</strong> formação clássica faria análoga <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> fé. Mas comoa ambigüida<strong>de</strong> paradoxal em que se atolavam os românticos espreitava oautor, passa a afirmar que, “quanto à forma, [...] nenhuma or<strong>de</strong>m segui-77

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