João Cointha, um heterodoxo na França Antárticada <strong>de</strong> 1980; além <strong>de</strong> outras que surgiram na década <strong>de</strong> 90, 23 <strong>de</strong>sconhecendo asrevelações do século XIX realizadas pelos membros do Instituto Histórico eGeográfico Brasileiro. III – Itinerário <strong>de</strong> Bolés: da França ao Brasil,Portugal e ÍndiaOs contemporâneos do Senhor <strong>de</strong> Bolés o admiravam pela sua cultura, maso criticavam pelas posições religiosas num momento em que o Oci<strong>de</strong>nte viviaem constantes choques entre as diversas correntes cristãs. Para se ter uma idéiadas divergências religiosas em que Bolés figura como o principal causador dosembates teológicos, é necessário transcrever <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong> seus contemporâneos.Do lado francês, Villegaignon, na sua correspondência, a ele assim se refere:“Um jacobino renegado, <strong>de</strong>nominado João Cointha, homem <strong>de</strong> inteligênciarápida e versátil”, que em Paris se reuniu aos enviados <strong>de</strong> Calvino, queBois le Comte trouxe ao Rio <strong>de</strong> Janeiro. 24 O outro testemunho fundamental éo do cronista Jean <strong>de</strong> Léry no seu livro Viagem à Terra do Brasil. Companheiro <strong>de</strong>Cointha na aventura francesa à América do Sul, Léry <strong>de</strong>monstra que Bolés nãopossuía uma posição religiosa permanente ligada a qualquer seita:“No domingo 21 <strong>de</strong> março, em que pela primeira vez celebramos a santaceia <strong>de</strong> Nosso Senhor Jesus Cristo, no Forte <strong>de</strong> Coligny, prepararam os ministros,com a <strong>de</strong>vida antecedência, todos os que <strong>de</strong>viam comungar e comonão tínhamos em boa conta um tal senhor João Cointha, que viera conoscoe ora se chamava senhor Heitor e ora se dizia doutor da Sorbonne, foi eleconvidado a fazer confissão pública <strong>de</strong> sua fé antes <strong>de</strong> comungar, o que fez,abjurando perante todos o papismo.” 2523 DINES, Alberto. Vínculos do Fogo. São Paulo: Companhia das <strong>Letras</strong>, 1992, pp. 180-181.24 ANCHIETA, S.J., Joseph <strong>de</strong>. Cartas, Informações, Fragmentos Históricos e Sermões. Rio <strong>de</strong> Janeiro:Civilização <strong>Brasileira</strong>, 1933, p. 163.25 LÉRY, Jean <strong>de</strong>. Viagem à Terra do Brasil. Tradução <strong>de</strong> Sérgio Milliet. São Paulo: Martins, 1951, p. 80.27
Paulo Roberto PereiraDo lado ibérico, o principal relato é fornecido por José <strong>de</strong> Anchieta emdois diferentes momentos. Primeiro, na sua carta “Ao Geral Pe. Diogo Laínes,<strong>de</strong> São Vicente, 1 o <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1560”, em que, ao relatar a fuga <strong>de</strong>quatro franceses, na luta pela posse do Rio <strong>de</strong> Janeiro, para o lado português,testemunha como Cointha espalhava idéias contrárias à religião católicaentre o povo:“Nesse meio tempo, um <strong>de</strong>les, instruído nas artes liberais, grego, e hebraico,e muito versado na Sagrada Escritura, ou por medo <strong>de</strong> seu capitão, quetinha diversa opinião, ou por querer semear seus erros entre os portugueses,veio-se para cá, com outros três companheiros idiotas, que, como hóspe<strong>de</strong>se peregrinos, foram recebidos e tratados muito benignamente. Este, quesabe bem a língua espanhola, começou a blasonar que era fidalgo e letrado,e, com esta opinião e uma fácil e alegre conversação, que tem, fazia admirar-seos homens e que o estimassem.” 26A distância <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> quatrocentos anos confirma que o projeto da FrançaAntártica estava fadado ao fracasso <strong>de</strong>vido à atmosfera sombria criada pelaspolêmicas religiosas, cujo principal causador era o próprio chefe da colônia,Villegaignon, pois, como lembram Vasco Mariz e Lucien Provençal, ele “pecoupelo excesso <strong>de</strong> disciplina e <strong>de</strong> intransigência religiosa. É verda<strong>de</strong> que eletentou acomodar-se com o agressivo zelo catequizador dos pastores protestantese, na semana santa <strong>de</strong> 1557, <strong>de</strong>cretou até uma espécie <strong>de</strong> páscoa ecumênica,mas isso não bastou. Os calvinistas radicalizaram e Villegaignon, em vez<strong>de</strong> insistir na busca <strong>de</strong> uma trégua religiosa, agiu como bom cavaleiro <strong>de</strong> Maltae bateu <strong>de</strong> frente com os calvinistas.” 2726 ANCHIETA S.J. José <strong>de</strong>. Cartas. Correspondência ativa e passiva. Edição do Pe. Hélio AbranchesViotti, S.J. São Paulo: Loyola, 1984, p. 164.27 MARIZ, Vasco & PROVENÇAL, Lucien. Villegaignon e a França Antártica. Rio <strong>de</strong> Janeiro: NovaFronteira/ Biblioteca do Exército, 2000, p. 123.28
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