12.07.2015 Views

Prosa (2) - Academia Brasileira de Letras

Prosa (2) - Academia Brasileira de Letras

Prosa (2) - Academia Brasileira de Letras

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Paulo Roberto PereiraA personalida<strong>de</strong> contraditória do francês João Cointha, que nas palavras doPadre Serafim Leite tinha “o seu quê <strong>de</strong> astrólogo e judaizante e calvinista e católico,sem ser coisa nenhuma a fundo”, 32 vem sendo melhor conhecida a partirdas pesquisas que revelaram o seu itinerário no império português quinhentista,<strong>de</strong>monstrando que as informações que o envolvem como um dos participantesda malograda tentativa francesa <strong>de</strong> estabelecer uma colônia na baía <strong>de</strong>Guanabara estão inçadas <strong>de</strong> erros. Daí a importância <strong>de</strong> que se reveste o seu <strong>de</strong>poimento:“Disse que se chamava João Cointha, natural <strong>de</strong> Bolés, lugar <strong>de</strong>França, da jurisdição <strong>de</strong> Troyes, Champanha, do Arcebispado <strong>de</strong> Sens, solteiro,filho <strong>de</strong> João Cointha e <strong>de</strong> Francisca Calfounges.” 33João Cointha conviveu no Brasil com as principais figuras do tempo: Mem <strong>de</strong>Sá, Manuel da Nóbrega, José <strong>de</strong> Anchieta, Luís da Grã. Todos, quer pelos processosem que foi acusado <strong>de</strong> heresia, quer pela correspondência em que a ele sereferem, relatam impressionados dois aspectos da vida <strong>de</strong> Cointha: a sua vastacultura e a incorrigível tendência para polemizar a respeito <strong>de</strong> questões da fé.“O caso da França Antártica e <strong>de</strong> João <strong>de</strong> Bolés alarga o espectro da reflexãoacerca da construção <strong>de</strong> novas estruturas sociais na América. No lançamento<strong>de</strong> suas bases, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o princípio da ação colonizadora, a religião serviucomo um <strong>de</strong> seus pilares, instituindo e confundindo-se com as socieda<strong>de</strong>scoloniais.” 34Sendo uma das personagens enigmáticas da história luso-brasileira da segundameta<strong>de</strong> do século XVI, João Cointha só nos <strong>de</strong>ixou um retrato verda<strong>de</strong>iro,que é, infelizmente, o revelado em seus dois processos inquisitoriais, oriundos32 LEITE, S.I., Serafim. Breve Itinerário para uma Biografia do Pe. Manuel da Nóbrega. Lisboa: Brotéria,1955., pp. 162-165. Veja p. 164.33 Processo <strong>de</strong> João <strong>de</strong> Bolés e justificação requerida pelo mesmo. In: Anais da Biblioteca Nacional do Rio<strong>de</strong> Janeiro (1560-1564). Volume XXV, 1903-1904, pp. 215-308, página 255.34 MENDONÇA, Paulo Knauss <strong>de</strong>. O Rio <strong>de</strong> Janeiro da Pacificação. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Secretaria Municipal<strong>de</strong> Cultura, 1991, p. 120.32

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!