Volume 6 - Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais - Via: Ed. Alápis
Em Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais, 6° volume da coleção CINUSP, pesquisadores e realizadores de diversas regiões do Brasil colocam suas inquietações sobre atores sociais emergentes, cujo lugar na historiografia do cinema brasileiro ainda é uma incógnita, apesar da calorosa discussão e presença laureada em festivais de cinema nacional e internacional.
Em Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais, 6° volume da coleção CINUSP, pesquisadores e realizadores de diversas regiões do Brasil colocam suas inquietações sobre atores sociais emergentes, cujo lugar na historiografia do cinema brasileiro ainda é uma incógnita, apesar da calorosa discussão e presença laureada em festivais de cinema nacional e internacional.
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acerca do lugar do antropólogo/documentarista que quer falar sobre eles,<br />
sobre o movimento que protagonizam. Nesses momentos, eles defendem<br />
a posição de que podem falar, e, de fato, falam sobre si próprios. Essa postura<br />
– na qual o diálogo é por vezes impossibilitado – remete ao que Bill<br />
Nichols identificou como os “filmes em primeira pessoa”, 14 autorrepresentações<br />
produzidas por aqueles que foram tradicionalmente objetos de<br />
estudos antropológicos. Produção que coloca em questão o próprio filme<br />
etnográfico, principalmente aquele que se sustenta como “discurso de<br />
sobriedade”. Filmes que surgem como alternativa às grandes narrativas,<br />
por explorarem o pessoal como político no nível da representação textual<br />
e da experiência vivida.<br />
Como antropóloga e realizadora, compartilho com esses jovens<br />
questionadores a desconfiança perante discursos excessivamente sóbrios.<br />
Quando pude dialogar, expressei meu projeto titubeante, cheio de incertezas,<br />
que ia sendo preenchido pelas experiências de interlocutores que<br />
aceitavam conversar com a “antropóloga da USP”, que aparecia de tempos<br />
em tempos com a câmera e sua ideia de fazer um filme junto com eles.<br />
Felizmente, o lugar de “[inter]mediadora” foi por vezes aceito, sempre a<br />
partir de alguma negociação. Como na reunião do Fórum <strong>Cinema</strong> de <strong>Quebrada</strong>,<br />
realizada no Cine Becos e Vielas, no Jardim Ângela, em 10 de fevereiro<br />
de 2007. Reproduzo o trecho da ata da reunião em que sou citada nas<br />
primeiras linhas:<br />
A reunião inicia-se com a Rose Satiko, professora de antropologia da<br />
Universidade de São Paulo (USP), pedindo autorização aos grupos participantes<br />
que autorizassem a gravação. Todos presentes não se oporão<br />
à gravação. Mas, Diego Soares, do núcleo NCA, fez a seguinte pergunta<br />
para a professora Rose Satiko. Qual é o objetivo da gravação? Rose Satiko<br />
respondeu que a gravação é uma pesquisa que ela está retomando sobre<br />
14 Bill Nichols, “The etnographer’s tale.” In Visualizing theory, ed. Lucien Taylor<br />
(New York: Routledge, 1994), 60-83.<br />
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