Volume 6 - Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais - Via: Ed. Alápis
Em Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais, 6° volume da coleção CINUSP, pesquisadores e realizadores de diversas regiões do Brasil colocam suas inquietações sobre atores sociais emergentes, cujo lugar na historiografia do cinema brasileiro ainda é uma incógnita, apesar da calorosa discussão e presença laureada em festivais de cinema nacional e internacional.
Em Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais, 6° volume da coleção CINUSP, pesquisadores e realizadores de diversas regiões do Brasil colocam suas inquietações sobre atores sociais emergentes, cujo lugar na historiografia do cinema brasileiro ainda é uma incógnita, apesar da calorosa discussão e presença laureada em festivais de cinema nacional e internacional.
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clipe, enquanto isso, enquanto aquilo. Então ao mesmo tempo é preciso<br />
entender que eles são essa vanguarda e que eu me baseio e acho isso a<br />
coisa mais importante na música popular brasileira. O rap é pra mim a<br />
coisa mais importante, vamos dizer assim, da música contemporânea. Os<br />
filmes que a gente faz talvez, em termos de audiovisuais, não dialoguem<br />
com ele, os corpos estão lá, as músicas estão lá, mas talvez o texto narrativo<br />
não seja o que eles querem ver, entendeu? Talvez essa seja uma dissonância,<br />
porque muita gente fala assim: “Ah, mas eu acho que o filme perde<br />
um pouco de ritmo”, e eu acho que perder um pouco de ritmo é muito mais<br />
buscar um outro ritmo, sabe? A gente tá dialogando com o rap, mas não é<br />
necessariamente o ritmo do rap que tá no filme, apesar de eu achar que é<br />
rap. Acho que é uma chave muito grande pra entender a poesia popular<br />
tendo como referência a música, obviamente, forró, rap, brega, funk. Acho<br />
que hoje a vanguarda é o funk, eu ouço muito mais funk do que rap hoje<br />
em dia, acho do caralho. Acho o funk uma potência erótica, rítmica e política<br />
essencial, assim, uma energia foda. Eu termino o meu filme com um<br />
funk, na verdade, né. Meu filme termina com Nono, que é funk de Minas<br />
Gerais, um “funk”, vamos dizer assim entre aspas, mais narrativo, do rap,<br />
mas é funk, com a energia do funk, com as liberdades que o funk tem pra<br />
dizer as coisas hoje em dia. Então, na verdade, eu faço tributo ao funk, assim,<br />
se alguma coisa também me aponta pra uma possibilidade de dialogar,<br />
com certeza é o funk, sabe? É nesse sentido que a música é fundamental.<br />
Ela dialoga e os personagens dos meus filmes, quase todos, vêm do rap,<br />
porque eu gosto e sou amigo dos caras também, sabe. E acho que esses<br />
caras têm uma coisa fantástica. Se a gente entender como colocar esses<br />
caras pra atuar – que aí é outra questão que eu acho que é fundamental,<br />
que atuação é essa também, dos filmes de periferia, sabe? Eu vejo muito<br />
filme de periferia que respeito muito, mas acho também que tem muita<br />
porcaria. Vejo muitos filmes de periferia só com slogan de periferia. Ah,<br />
tem um lugar, tem aqueles caras, mas quando a gente vai ver as atuações,<br />
são extremamente caídas, atuações de filme de mercado, né, esquizofrênico.<br />
Pensar filme de periferia sem pensar na atuação de periferia pro cinema<br />
é a coisa mais difícil do mundo. Eu acho que as coisas são muito coladas.<br />
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