Volume 6 - Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais - Via: Ed. Alápis
Em Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais, 6° volume da coleção CINUSP, pesquisadores e realizadores de diversas regiões do Brasil colocam suas inquietações sobre atores sociais emergentes, cujo lugar na historiografia do cinema brasileiro ainda é uma incógnita, apesar da calorosa discussão e presença laureada em festivais de cinema nacional e internacional.
Em Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais, 6° volume da coleção CINUSP, pesquisadores e realizadores de diversas regiões do Brasil colocam suas inquietações sobre atores sociais emergentes, cujo lugar na historiografia do cinema brasileiro ainda é uma incógnita, apesar da calorosa discussão e presença laureada em festivais de cinema nacional e internacional.
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Esse deslocamento político da nomenclatura que aproximou o movimento<br />
de <strong>vídeo</strong> à cultura popular, demarcando posição frente a um tratamento<br />
populista ou particular do estado e da sociedade, encontra escopo<br />
teórico no pensamento do filósofo e militante argentino pela libertação da<br />
América Latina, Enrique Dussel, no que se refere a pensar sobre a identidade<br />
da cultura latino-americana a partir da década de 1970.<br />
A cultura popular não era populista. “Populista” indicava a inclusão, na “cultura<br />
nacional”, da cultura burguesa ou oligárquica das elites e da cultura do<br />
proletariado, do campesinato, de todos os habitantes do território organizado<br />
sob um Estado. O popular, ao contrário, era todo um setor social de uma nação,<br />
composto de explorados e oprimidos, mas que guardava igualmente uma<br />
“exterioridade”. Oprimidos no sistema estatal, alternativos e livres naqueles<br />
momentos culturais simplesmente depreciados pelo dominador, como o folclore,<br />
a música, a comida, a vestimenta, as festas, a memória de seus heróis,<br />
as ações emancipatórias, as organizações <strong>sociais</strong> e políticas, etc. 3<br />
O autor faz uma nota no termo folklor destacando um apontamento de<br />
Gramsci, que diz: “El folklor no debe ser concebido como algo ridículo,<br />
como algo extraño que causa risa; debe ser concebido como algo relevante<br />
y debe considerarse seriamente. Así el aprendizaje será más eficaz y<br />
más formativo con respecto a la cultura de las grandes masas populares” 4 .<br />
Ao se colocar como Vídeo Popular, esse movimento cultural da cidade<br />
de São Paulo passa a reconhecer seu vínculo com outras manifestações<br />
populares tanto no campo cultural quanto social, potencializando seu<br />
aprendizado e sua possibilidade de intervenção política na cidade, contribuindo<br />
com o sentido de cultura popular não mais como cultura menor,<br />
3 Enrique Dussel, “Transmodernidad e Interculturalidad (Interpretación desde la<br />
Filosofía de la Liberación)” in Crítica Intercultural de la Filosofía Latinoamericana<br />
Actual, org Raúl Fornet-Betancourt. Madrid: <strong>Ed</strong>itorial Trotta, 2004), pp. 123-160.<br />
Grifo meu. Tradução nossa.<br />
4 Antonio Gramsci, Quaderni del Carcere, I (Milán: Einaudi, 1975), 90.<br />
BUSCA DE IDENTIDADE DO COLETIVO DE VÍDEO POPULAR DE SÃO PAULO COMO POSICIONAMENTO POLÍTICO... 61