Volume 6 - Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais - Via: Ed. Alápis
Em Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais, 6° volume da coleção CINUSP, pesquisadores e realizadores de diversas regiões do Brasil colocam suas inquietações sobre atores sociais emergentes, cujo lugar na historiografia do cinema brasileiro ainda é uma incógnita, apesar da calorosa discussão e presença laureada em festivais de cinema nacional e internacional.
Em Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais, 6° volume da coleção CINUSP, pesquisadores e realizadores de diversas regiões do Brasil colocam suas inquietações sobre atores sociais emergentes, cujo lugar na historiografia do cinema brasileiro ainda é uma incógnita, apesar da calorosa discussão e presença laureada em festivais de cinema nacional e internacional.
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Eu também não entendo o que é isso, essa é a minha busca há mais de seis,<br />
sete anos, quero descobrir como essa atuação de periferia poderia ser importante.<br />
Porque é engraçado, eu acho o máximo, que alguém me falou<br />
assim: “Ah, mas parece”, me falou criticando, na verdade, no festival: “Mas<br />
parece que não tem uma direção de atores no seu filme”. Pra mim foi lindo<br />
essa pessoa falar isso, apesar de eu ter feito mais do que isso, porque não<br />
era a direção de atores que ela tá acostumada a ver, que tem gaveta, que<br />
tem indecisões, mas é muito potente no diálogo, muito potente no corpo.<br />
E é isso que tem no cinema livre, é essa possibilidade de não parecer a atuação<br />
clássica de cinema, senão qual o sentido? Eu acho que a grande perversidade<br />
do cinema de hoje é a atuação clássica de cinema, os corpos que<br />
atuam não dialogam com a forma do filme. Estou falando assim – não sei<br />
se estou sendo claro ou estou sendo confuso –, mas é pra entender que a<br />
atuação é necessária, esses corpos e também os próprios caras de periferia.<br />
Os próprios caras dos filmes – do meu filme – quando veem os filmes, também<br />
me criticam de vez em quando, falam: “Porra, eu podia ter falado<br />
outra coisa, eu acho que não interpretei bem”, entendeu? Às vezes eles<br />
mesmos não creem no que eles fazem, na construção deles. O Marquim<br />
acabou de ganhar o prêmio de melhor ator em Brasília, com uma atuação<br />
fodida, fantástica, mas ele me falou assim uma vez: “Ah, eu acho que vou<br />
fazer um curso de teatro”, eu falei: “Putz”. Entendeu como é contraditório?<br />
Mas eu respeito. Só pra reafirmar aqui, não existe essa unidade de pensamento,<br />
como algumas pessoas falam. Acho que o nosso grande equívoco<br />
pra uma possibilidade de avanço é colocar as coisas como se estivessem<br />
resolvidas, entendeu? Tem essas coisas que muitas vezes acontecem nesses<br />
grandes clubes, sabe? CUFA, Fora do Eixo, esses grupos que, vamos<br />
dizer assim, querem dizer: “Ah, não, agora a periferia é nóis, é nóis”, não é<br />
nóis nada, não. Porque se for nóis, tem que ser um nóis muito diferenciado,<br />
sabe? Nóis é muita gente também, muito gênero, muita raça, muito corpo,<br />
muito território. Mas é nóis, eu respeito nóis, acho nóis massa, mas eu tenho<br />
medo desse discurso total, sabe: “Ah, agora os caras sabem fazer cinema<br />
de periferia, os atores de periferia sabem fazer”. Não, a gente não sabe<br />
fazer nada, a gente tá aprendendo. Assim como eles aprenderam a fazer e<br />
ENTREVISTAS – ADIRLEY QUEIRÓS 231